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Pessoa: NATUREZA E REALIDADE

domingo 27 de julho de 2014, por Cardoso de Castro

3 - AS CATEGORIAS DA REALIDADE

Os três dados da experiência são a pluralidade, a relação e o limite. Qual deles é fundamental?

A relação não pode ser, porque a relação, salvo a relação lógica, só pode ser de uma coisa para outra, e assim envolvendo o conceito de dois, o conceito de pluralidade está estabelecido.

Restam a pluralidade e o limite. Qual condiciona o outro? Uma coisa isolada pode ser considerada como tendo limite, mas uma pluralidade de coisas que não pode ser considerada senão como tendo cada coisa um limite, porque, se o não tivesse, não haveria uma pluralidade, senão um continuum, isto é, uma unidade.

Pode, porém, qualquer coisa ser considerada como isolada, salvo logicamente? E não se afastou já a ideia de lógica na de relação? (A relação de uma coisa consigo própria é simplesmente a identidade dessa coisa consigo mesma.)

Na ordem da experiência, todos os três conceitos são essenciais. Aí, portanto, formam um todo lógico, em que nenhum é anterior a outro, sendo, os três, dados simultaneamente à mente. Na ordem lógica, porém, a relação não pode existir sem pluralidade, pelo menos, sem pluralidade implícita portanto; e a pluralidade não pode existir sem que haja um princípio de distinção, uma possibilidade de pluralidade; e essa possibilidade de pluralidade é o limite.

O que é o limite? Tendo-o nós definido como anterior logicamente à pluralidade e à relação, não podemos definir limite, logicamente, em relação àqueles dois conceitos. Não podemos, já, dizer que o limite de uma coisa é aquilo por onde se distingue de outra, porque isso é basear o conceito de limite no de pluralidade, ao qual já vimos que ele era anterior; nem podemos dizer que o limite de uma coisa é derivado da relação entre ela e outra, porque o contrário é que, na ordem lógica, acontece, e na ordem da experiência não há antecedência de um ou de outro.

Temos de considerar o objeto isolado, e definir limite em relação a ele apenas. Como?

Procedamos negativamente, para esclarecer. O limite não é essa coisa, ela própria; mas sem o limite essa coisa não é ela própria. Isto parece aproximar o limite do conceito de causa: mas a causa é pensada externa ao efeito, e o limite é por natureza pensado interno, ou coextensivo com a ideia dessa coisa. O limite é portanto aquilo sem o que uma coisa não existe, mas que nem é a própria coisa, nem externo a essa coisa. A definição parece abstrata e inútil; mas se se reparar que, partindo de um conceito que concebemos primordial da experiência, o não podemos — quer lógica quer (...) — definir por conceitos posteriores, a definição não pode envolver senão anterioridades lógicas, e essas são a própria coisa apenas.

Mesmo causa é conceito ainda logicamente por nascer, na altura em que vamos do nosso inquérito.

Definindo limite da única maneira logicamente possível, vemos que ele pressupõe apenas um conceito anterior, porque é em relação a esse único conceito que é definido.

Esse conceito é o da coisa, que tem o limite. Essa coisa não pode ser determinada, considerada à parte do limite, porque ou é determinada pelo limite, que lhe é posterior, ou pela relação com outras coisas, o que envolve pluralidade e relação, posteriores lógicos todos.

(Entre a coisa e o seu limite não há relação, porque havendo só duas relações possíveis e pensáveis — a de identidade e a de não identidade, e não sendo o limite nem idêntico nem inidêntico à coisa que limita, não há relação senão por deficiência de linguagem para dizer de outra maneira.)

Temos, pois, como dados primordiais da experiência, dados lógicos fundamentais — (1) o ser, (2) o limite.

Anterior à experiência, o conceito de ser, o conceito abstrato de ser abstrato; o limite, para que o haja, precisa ser.

O limite, pode dizer-se, tem por limite o ser — pois que o ser não é externo ao limite, porque não é uma coisa nem é o próprio limite, porque ser é ser e limite é limite. Podemos tirar outra conclusão, ou corolário: o anterior lógico é o limite do seu posterior imediato.

Ao mesmo tempo sem ser não há limite.

Prossigamos.

Ser.EspaçoMovimento
Limite.LinhaAlteração
Pluralidade.Plano
Relação.Volume
Tempo. (Duração.)CorpoConsciência

Ser, Limite, Pluralidade, Relação, Tempo, Espaço, Corpo, Movimento, Alteração, Consciência.

Adentro de cada uma destas categorias da realidade, nós temos o mesmo fenômeno. Nitidamente se vê no caso do Espaço.

Adentro de cada uma destas categorias se dá o caso que se dá de umas para as outras. Assim, o espaço: a linha é limitada pelo anterior, o ponto; a linha limita o plano; o plano limita o volume; o volume limita o corpo.