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O Político / The Statesman / Le Politique / El Político / Πολιτικός / Politikós

  

PLATÃO - O POLÍTICO. Sobre as condições do governante.

Estrutura do diálogo

  • POL 257a-258b: Prólogo
  • POL 258b-277a: Primeira definição do Político
  • POL 259c-262a: O Político em relação à função real
  • POL 262a-264b: Regras de método: divisão e especificação
  • POL 264b-268e: Classificação dos animais em relação à função real
  • POL 265b-266d: A via mais longa
  • POL 266d-267a: A via mais curta
  • POL 267a-268d: Noção de pastor; os competidores do Político
  • POL 268d-274e: O Mito: três tradições convergentes
  • POL 269b-272d: A lei geral domina estas três tradições
  • POL 270b-270d: A alternância das revoluções do mundo
  • POL 270d-271c: Os Filhos da Terra
  • POL 271c-272d: O reino de Cronos: os pastores divinos da Idade de Ouro
  • POL 272d-273e: Porque teve fim o antigo estado de coisas
  • POL 273e-274e: Retorno à vida animal
  • POL 274e-277a: A dupla falta revelada pelo Mito
  • POL 275a-275e: O que não é seu pastoreio
  • POL 275e-276c: Isto que é
  • POL 276a-287b: Retrato do Político
  • POL 276c-277a: Pastor divino e pastor humano: Tirano ou Rei?
  • POL 277c-278e: Concepção geral e papel metodológico do "exemplo"
  • POL 279a-283b: O exemplo da tecelagem
  • POL 280a-281c: O tecelão de vestimentas
  • POL 281-283b: Ele também tem auxiliares
  • POL 283b-284c: O problema que impõe a arte de medir
  • POL 283d-284c: A medida comparativa e a "justa medida"
  • POL 284d-285c: Duas formas da arte de medir: exatidão matemática e supra-matemática
  • POL 285c-287b: Lição para o método dialético
  • POL 287b-305e: Segunda e suficiente definição do Político
  • POL 287d-289d: As sete artes
  • POL 289a-289d: Retificações e complementos
  • POL 289d-290e: Artes adjuvantes
  • POL 291a-292d: Os competidores principais do Político
  • POL 291c-292a: Falsificações do verdadeiro governo
  • POL 292a-292d: O saber, princípio do verdadeiro governo
  • POL 292d-303d: O problema da lei
  • POL 293e-297b: Legitimidade do governo sem leis
  • POL 297b-303d: A lei
  • POL 297e-299e: O que não deve ser a lei
  • POL 299a-299e: A inviolabilidade de regras codificadas é a ruína
  • POL 300a-303d: Contrapartida: tirando partido da lei
  • POL 300c-303d: Comparação dos regimes políticos bastardos
  • POL 303d-305e: Retorno às artes adjuvantes
  • POL 305e-310e: A constituição do tecido social
  • POL 306b-308b: O conflito dos elementos na sua constituição
  • POL 308b-309a: Seleção do que entrar na constituição
  • POL 309a-310e: Como procede o tecelão real
  • POL 310e-311c: Epílogo

Émile Bréhier

Excertos da tradução de História da Filosofia, de Émile Bréhier, por Eduardo Sucupira FIlho

O constante perigo de decadência que ameaça as cidades é o meio indireto de provar a necessidade do governo de filósofos, capazes de deter a sua queda. A visão social pessimista, que se origina dessa espécie de lei de degradação das cidades, não é contrabalançada, em Platão, pela crença de que a técnica política pode realizar algum progresso em sentido inverso. Não é equilibrada senão por uma crença não racional, mas inteiramente viva, em relação à forma cíclica do devenir. O devenir, retroagindo sobre si mesmo, conduz ao estado primitivo. Mas, a essa crença, Platão não deu qualquer forma filosófica e científica, como a que deu à descrição do fato, diretamente comprovado, da decadência dos governantes. Empresta-lhe a forma de mito, que expõe no Político, destinado, sem dúvida, a melhor evidenciar o sítio exato e delimitado da arte política em uma evolução, cujo conjunto escapa plenamente aos critérios da arte racional. Platão imagina, com efeito, que na idade feliz de Cronos, o sol e os astros caminhavam em sentido inverso ao do atual, e que todo o desenvolvimento dos seres ocorria, igualmente, em sentido inverso, isto é, que ia da morte ao renascimento, em lugar de ir do nascimento à morte. Isso significava que a terra produzia, espontaneamente e sem o trabalho humano, todos os frutos úteis ao homem; e, em geral, que cada ser chegava, sem esforço, a seu ponto de perfeição. Como não havia nenhum trabalho técnico, não era necessária qualquer união política. Mas, quando o sol modifica o sentido de seu curso, e simultaneamente, os seres, lenta e dificilmente, em meio a obstáculos de toda sorte, alcançam sua maturidade, é então que se fazem necessárias as técnicas de toda classe, principalmente a técnica social. A maior parte das artes são dons que os deuses propiciam aos homens para ampará-los em suas dificuldades (268 e - 275 b).

Eis porque a arte social assume, no Político, fisionomia tão peculiar e inovadora; toda arte humana manipula coisas mutantes, diversas, e, desde logo, procede menos por meio de regras gerais do que por recursos que se adaptem às circunstâncias. Acontece o mesmo com a arte política; "as dessemelhanças entre os homens e suas ações, a completa ausência de imobilidade nos assuntos humanos opõem-se a toda regra simples que sirva para todos os casos e todos os tempos" (294 b), tanto em matéria de arte política como nas demais artes. Disso se conclui que o homem de Estado, o técnico político, é uma lei viva e soberano absoluto da cidade, como o pastor o é de seu rebanho. Platão chega, assim, a dar ao político um caráter providencial e sobre-humano, como germes longínquos da teoria do poder no império romano e no papado. Aqui, menos ainda, se vislumbra qualquer esperança, baseada na razão, de progresso natural, e o mito substituirá, regularmente, o conhecimento em todos os casos em que se trate de retornar a um estado superior ao nosso (293-300).