[...] Definitivamente: não podemos conhecer o valor dos métodos a partir do valor de seus resultados, assim como não podemos, por razões lógicas, conhecer o método a partir dos resultados pretendidos. Não podemos conhecer o caminho a partir da nossa representação do lugar a que desejamos ser conduzidos.
Face a tudo isso, não me parece haver alternativa senão considerar o caminho como a própria meta, os meios como fins em si mesmos, as ações que têm em vista um resultado como o próprio (…)
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FernandesFC / FernandesSH / Sérgio L. de C. Fernandes / SFernandes
SÉRGIO LUIZ DE CASTILHO FERNANDES (1943-2018)
HOMENAGEM DE LEANDRO CHEVITARESE
Sérgio L. de C. Fernandes, Ph.D., professor de Filosofia da PUC-Rio e professor-titular de Filosofia da UERJ (aposentado). Depois de publicar um livro sobre Teoria do Conhecimento nos Estados Unidos (sua tese de doutorado sobre Kant na Inglaterra), e outro no Brasil, "Filosofia e Consciência", além de artigos, dedica-se ultimamente à antropologia filosófica e à filosofia da religião, onde já se notam os resultados desta pesquisa em seu último livro "Ser Humano - Um Ensaio em Antropologia Filosófica".
Destaques:
- FERNANDES, Sérgio L. de C.. Filosofia e Consciência. Uma investigação ontológica da Consciência. Rio de Janeiro: Areté Editora, 1995 [FernandesFC]
- FERNANDES, Sérgio L. de C.. Ser Humano. Um ensaio em antropologia filosófica. Rio de Janeiro: Editora Mukharajj [FernandesSH]
Matérias
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Fernandes (FC:71) – Método
8 de setembro, por Cardoso de Castro -
Fernandes (SH:9-10) – Ser Humano
8 de setembro, por Cardoso de CastroEm que consistiria, para qualquer coisa (organismos individuais da nossa espécie, robôs, etc.), ser ou não ser humana — "verdadeiramente" humana — pode parecer óbvio para todos nós, pelo menos em nossos estados de espírito menos reflexivos, mas basta pensar mais um pouco a respeito do assunto e a questão se revela enigmática. Na verdade, permanece um enigma, após milênios do que se conhece como história ou civilização. E o que se chama, entre pesquisadores, filosóficos ou científicos, de um (…)
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Fernandes (SH:67-69) – Metodologia
8 de setembro, por Cardoso de CastroA noção de "metodologia é muito ambiciosa, pois a logia da palavra ’metodologia’ sugere que se possa usar a lógica para conhecer o método. Ora, "método", por sua vez, é o caminho para uma meta. De que maneira a lógica nos poderia ajudar a conhecer esse caminho? A implicação material parece ser a única relação lógica não-trivial, neste caso. Mas como interpretar, aqui, o nosso "p implica q" ou "a premissa implica materialmente a conclusão"? Será o caminho a premissa, que implica a meta, como (…)
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Fernandes (SH:13) – a "metaética"
8 de setembro, por Cardoso de CastroReduziu-se a Ética a uma “semântica de terceira classe”, ou segunda categoria, que se passou a chamar de “metaética”, neste caso, a “desconstrução” dessa tradicional disciplina filosófica deveria ter sido muito mais drástica — mais ainda que a de Nietzsche! (V. Capítulo 3, adiante) O que as tradições chamam de karuna, agape, charitas, etc. não tem nada a ver com o que as éticas “filosóficas” (e também as profissionais!) chamam de “bem”. E este, por sua vez, pace Platão, nada tem a ver com o (…)
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Fernandes (SH:2021) – filosofia analítica
8 de setembro, por Cardoso de CastroO “espírito do tempo” inclui ainda a empáfia, na maioria dos casos nonchalante, ou simplesmente condescendente (na língua do Império, patronising), de uma variedade muito influente de contra ou antifilosofia, conhecida como “filosofia analítica”. A Filosofia Analítica se caracteriza, por um lado, por pressupor, acima da autoridade da Filosofia, a autoridade da Ciência “dura” (seja a Lógica e a Matemática, seja a Física e a Biologia); e, por outro lado, por pressupor a autoridade do senso (…)
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Fernandes (SH:13-14) – Filosofia do século XX
8 de setembro, por Cardoso de CastroNo século XX, aquilo que se costuma chamar de “morte” foi tomado como a solução, não só filosófica, para tudo que pareceu atrapalhar o “bom andamento” do que quer que fosse. Eliminou-se a Ontologia — exagero?! —, então eliminou-se da Ontologia não só o que parecia incompreensível (por carecer, por exemplo, de critério de identidade), mas também o que levava a impasses. Naturalizou-se quase toda a Epistemologia, como se ela fosse uma cobra a devorar-se pela própria cauda (mas como poderia (…)
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Fernandes (SH:27-28) – Ontologia
8 de setembro, por Cardoso de CastroNo primeiro Capítulo, desenvolvo uma Ontologia (antes de qualquer coisa, o Ser enquanto Ser, inclusive o Ser dos entes!); descrevo o que penso ser a estrutura do próprio Ser, e identifico uma das dimensões dessa estrutura, que chamo de Ser como Experiência (em si mesma), ao próprio Ser do Ser Humano. Dividi o Capítulo em três Seções, intituladas “Simulacros e Aparições”, “Arquitetônicas e Identidades” e “Arcanos e Eternidades”. Com esses títulos quero dizer que, na primeira Seção, construo (…)
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Fernandes (FC:12) – símbolos
24 de abril, por Cardoso de CastroAntes de prosseguir, lembro ao leitor que há símbolos e “símbolos”: alguns se instalam no imaginário como estereótipos ideológicos e, como tal, assujeitadores; estão ali para serem desmascarados. Outros estão ali como mistérios insondáveis, tremendos, não como máscaras, pois os mistérios nada encobrem, de modo que pretender desmascará-los é como tentar transportar todo o oceano para um pequeno balde que temos nas mãos; estes símbolos, na verdade, só estão no imaginário para quem, tolamente, (…)
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Fernandes (SH:286-288) – Axiologia
8 de setembro, por Cardoso de CastroA antiga noção de axios (valioso) foi chamada, no início do século passado, a compor, com a antiga noção de logos, a palavra "axiologia", para designar, a exemplo da composição de logos com episteme (epistemologia), o estudo filosófico dos valores em geral, em substituição à Werttheorie, até então usada para valores econômicos. A essa altura, seria excusado dizer que teria sido melhor havermos ficado só com a noção "econômica", utilitária, de valor. Esses valores correspondem a algo que tem (…)
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Fernandes (SH:51-52) – Ser “absolutamente transparente”
16 de novembro de 2023, por Cardoso de CastroProponho que o ser de um ente seja uma interface—justamente a interface entre Ser e Não-Ser que faz de um ente, por um lado, um ser determinado, reidentificável, e, por outro lado, um indivíduo, único, irrepetível (não “identificável” a outro), independente de espaço ou tempo, e incomparável (não meramente “diferente”). Ora, aquilo que está “deste último lado”, o lado do indivíduo, é “absoluto”, não “subjaz”, não “dura”, não “permanece idêntico a si mesmo” [sic], “ao longo do tempo e do (…)
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Fernandes (SH:53-54) – Intencionalidade
8 de setembro, por Cardoso de CastroPretendo aqui retomar essa temática de Filosofia da Consciência, mas para radicalizar sua análise. “Análise”, num sentido aproximado daquela que é praticada pelos “filósofos analíticos”, só vale a pena quando questiona radicalmente a metafísica implícita no senso comum, justamente aquilo que os “analíticos” não costumam atacar, mas, ao contrário, pressupor, como se fosse “bom senso” ou “intuitivo”.
Em Filosofia da Consciência, considerei o que se chama de “intencionalidade” a (…) -
Fernandes (SH:51) – ser humano e ser do humano
24 de abril, por Cardoso de CastroVeja: há uma enorme diferença entre o meme “ser humano”, que a mente fabrica, e o Ser do humano. Desculpe: “meme” é um meme deliciosamente inventado pela Biologia, como o análogo do gene, no plano simbólico da cultura. Ora, a Mente, o Pensamento e a Linguagem podem tanto com o Ser quanto um grão de pó com o pé que o esmaga. É o “ser humano” que está em frangalhos (releia o que se chama de sua “História” ) e que, ao invés de glorificado, deveria ser superado, mas não o Ser do humano. Este não (…)
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Fernandes (FC:82-83) – conhecimento da Natureza “regido” por projeções antropomórficas
24 de abril, por Cardoso de CastroA expressão meramente extensional do universal legaliforme deixa aberta a possibilidade de que, embora não haja exceção, tudo não passe de coincidências, de acidentes, por mais incrível que seja para nós essa visão das coisas. Por outro lado, o sentido de uma pretendida expressão intensional do universal (no sentido nômico, ou “essencial” de necessidade extra-lógica) é para nós inescrutável, como já veremos a propósito da noção de “essência”. Mas é isso que ocorre quando nos “pensamos” como (…)
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Fernandes (SH:64-66) – Existe o que é o objeto de identificações...
24 de abril, por Cardoso de CastroExiste o que é o objeto de identificações, ou seja, tudo que é tomado pela mente inconsciente como podendo ser “experimentado” outra vez. Na frase precedente, a palavra “experimentado” aparece entre aspas porque experimentar algo como podendo ser experimentado outra vez, embora seja costumeiramente considerado como equivalente a experimentar um objeto como tal, ou seja, como isto ou aquilo, não constitui uma verdadeira Experiência, mas uma reatividade inconsciente da mente. A expressão (…)
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Fernandes (SH:53-55) – Aparência e Realidade
24 de abril, por Cardoso de CastroA distinção entre aparência e realidade deve ser admitida em qualquer ontologia. Como mostrei em 1995 (Filosofia da Consciência), perceber, ter experiência de alguma coisa, ou “tomar algo como objeto” implica (ou pressupõe) aplicar, explícita ou implicitamente, a distinção entre aparência e realidade. Acontece que o uso geral de tais noções, não só nas línguas naturais, mas sobretudo pela Ciência e também na Filosofia (ver, por exemplo, a minuciosa desmontagem crítica que David Bell faz da (…)
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Fernandes (SH:291-293) – O "dever-ser" é o que não é
24 de abril, por Cardoso de CastroO que nos resta é apenas investigar, do ponto de vista (cego) da Mente, do Pensamento e da Linguagem, ou seja, cavalgando o Instrumento, a própria noção de "valor", suas espécies, as relações entre elas, etc. O que teriam os valores, por exemplo, a ver com a razão e o intelecto? A venerável tradição chamada "tradição intelectualista", que foi inaugurada no Ocidente por Sócrates, mas no Oriente o foi certamente com o Vedanta, e à qual voltaremos na próxima Seção, relaciona o Bem com a Verdade (…)
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Fernandes (FC:90-92) – A incomensurabilidade dos paradigmas
24 de abril, por Cardoso de CastroMas é preciso agora — ossos do ofício! — desincumbirmo-nos das “essências reais”, e investigar a natureza da Existência. Um pouco mais de ginástica. Tome alguma coisa; abstraia-lhe a existência: o que restaria seria sua essência. Defina alguma coisa; entenda a definição: seu significado seria a essência. Tome agora outra vez alguma coisa, mas, ao invés de abstrair-lhe a existência, inclua-a no gênero, ou na espécie a que pertence: você a teria incluído no que seria a sua essência. Lembre-se (…)
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Fernandes (SH:52) – Somos experiência, não temos experiência.
8 de setembro, por Cardoso de CastroAgora, vamos ao que... “pensamos” que pensamos, no que diz respeito ao (novamente “pensamos” que pensamos) que somos “nós” : abstraindo pela segunda vez aquelas três características estranhas ao Ser (substância, essência e existência), entendo o Ser do humano como a transparência perfeita, mas na qual pode transparecer, ou pode ser compreendido aquilo que é opaco. E já que não somos o Ser enquanto Ser, ou Consciência em si mesma, proponho que sejamos sua “imagem e semelhança”, ou seja, (…)
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Fernandes (FC:24-25) – Teoria do Conhecimento
24 de abril, por Cardoso de Castro[...] A Epistemologia — teoria do conhecimento, não apenas do conhecimento "científico" —, não pode ser a investigação daquilo que não temos, e que precisamos adquirir. Jamais se poderá, assim, compreender o que interessa, ou seja, nossa ignorância. Não filosofamos para aprender, no sentido positivo de aprender, mas, ao contrário, para desaprender o que nos sujeita. Entenda-me bem o leitor: não para aprender a respeito do que nos sujeita, como nas ciências humanas e sociais, mas para (…)
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Fernandes (SH:56-58) – Tomar algo como objeto
24 de abril, por Cardoso de CastroÉ dificílimo de ser reconhecido, seja na literatura filosófica, seja na científica, o fato de que só podemos “tomar como objeto” o que é “identificável”, real ou “existente”, e, inversamente, que só é identificável, real ou “existente” aquilo que podemos “tomar como objeto”. Esse fato é dificílimo de ser reconhecido, não só pelas notórias dificuldades de análise da própria noção de “tomar algo como objeto”, mas também porque tem o corolário, nada intuitivo, de que nada que aparece pode ser (…)