Aubenque (PA:33-34) – prudência (phronesis)

tradução

A tradição moral do Ocidente em nada reteve a definição aristotélica de prudência. Enquanto as definições estoicas de phronesis como “ciência do que fazer e não fazer” ou “ciência dos bens e males, assim como das coisas indiferentes” (1) serão facilmente impostas à posteridade (2), a definição de Aristóteles no Livro VI da Ética em Nicômaco é muito trabalhosa ou, se você preferir, muito técnica para ter conhecido a mesma sorte. A prudência é definida como uma “disposição prática acompanhada de regra verdadeira concernente isto que é bom e ruim para o homem” (Ética a Nicômaco, Livro VI, 5, 1140 b 20). Seguindo um método familiar a Aristóteles, essa definição é apresentada como resultado de uma abordagem indutiva e regressiva. Parte-se do uso comum (1140 a 24), constata-se que se chama phronimos o homem capaz de deliberação (1140 a 31); recorde-se que só deliberamos sobre o contingente, enquanto a ciência trata do necessário: logo, a prudência não é uma ciência. A prudência seria então uma arte? Não, porque a prudência visa à ação, πραξις [praxis] e a arte à produção, ποίησις [poiesis]: a prudência, portanto, não é uma arte. Se, portanto, a prudência não é nem uma ciência, nem uma arte, permanece (λείπεται [leipetai]) que seja uma disposição (o que a distingue da ciência) prática (o que a distingue da arte). Mas isso provaria ainda mais que é uma virtude. Para distingui-la de outras virtudes, em particular as morais, devemos acrescentar outra diferença específica: enquanto a virtude moral seja uma disposição (prática) concernente à escolha (προαιρετική) (Cf. a definição da virtude (II, 6, 1106 b 36), que citamos mais adiante), a prudência é uma disposição prática concernente à regra de escolha; não se trata aqui da retidão da ação, mas da justeza do critério; é por isso que a prudência é uma disposição prática acompanhada de regra verdadeira. Mas essa definição ainda é muito ampla, porque poderia se aplicar a qualquer virtude intelectual: então se distinguirá a prudência desta outra virtude intelectual que é a sabedoria, esclarecendo que o domínio da primeira não é o Bem e o Mal em geral, ou o Bem e o Mal absolutos, mas o bem e o mal para o homem 1.

GÓMEZ-PALLETE

Original

  1. Resumimos aqui o desenvolvimento que alcança à definição da prudência (VI, 5, 1140 a 24-6 6, ao qual devem-se adicionar as linhas 6 e 7, que são uma explicação dito que precede).[]