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Platão (V-IV aC)
Platão, considerado o maior filósofo da Grécia antiga, foi quem melhor concluiu o pensamento dos pré-socráticos. Com ele tem início a filosofia. Os pré-socráticos eram grandes pensadores. Platão é grande filósofo: é pensador que diz num sistema bem elaborado, no edifício das ideias, numa representação quase pictórica, o que é a realidade. É a filosofia.
A metafísica ou a filosofia não é diretamente o ser , a realidade. É uma representação onde se pretende ler o real.
Nos pré-socráticos o esforço se concentrava em expor o pensamento ao ser, em colocar o pensamento na disposição de perceber o ser, como na contemplação o espírito se entrega ao admirável que se lhe manifesta, como na experiência amorosa o amante se entrega ao amável que aparece no amado , como na arte o artista se entrega à inspiração. Nesse caso o pensar está sob o império do ser, o pensar percebe o ser por imposição manifestativa do próprio ser.
Platão está na vigência dessa tradição pré-socrática. Pensa a partir do ser que se manifesta, a partir dos entes que aparecem. Mas não pára nesse ler ou acolher o desvelamento do ser. Prossegue no destino necessário dessa manifestação: procura retê-la, aprisioná-la numa representação, movido pela ânsia de não perdê-la. A representação é resultado da vontade de possuir o ser que se manifesta.
Platão avança decididamente para o ocaso da tradição pré-socrática: não permanece na simples percepção da mostra originária do ser. Percebendo o espetáculo, tenta dizê-lo elaborando um sistema. A partir de Platão, o pensamento lê o espetáculo da revelação do ser na representação, na metafísica. Em conduzindo a tradição pré-socrática ao seu ocaso, ao iniciar a metafísica, Platão se tornou mestre do Ocidente. Depois dele, todo esforço de pensar o ser se concentra na elaboração de sistemas e modelos onde se lê, opera e controla a realidade. É a metafísica. A ciência e a técnica são sua expressão mais consumada, onde há o máximo de representação e por isso o máximo esquecimento do ser. (Arcângelo Buzzi — INTRODUÇÃO AO PENSAR)
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Platão (Fédon) – morte e imortalidade
10 de outubro de 2022
Aqueles que se dedicam seriamente à filosofia correm, na verdade, o risco de que ninguém se aperceba do fato de que, para eles, não existe outra ocupação que a de chegar à morte e transpor o seu umbral.
Fédon,64a-68b
Aqueles que se dedicam seriamente à filosofia correm, na verdade, o risco de que ninguém se aperceba do fato de que, para eles, não existe outra ocupação que a de chegar à morte e transpor o seu umbral. E se isto é assim, seria sem dúvida bem estranho não nos termos preocupado de outra (...)
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Platão (Fedro, 245 c-252 b) – A doutrina da alma
10 de outubro de 2022, por Cardoso de Castro
A virtude das asas consiste em levantar para o alto as coisas pesadas, elevando-as até onde habita a linhagem dos deuses, e ali entram em comunicação com a divindade mais estreitamente que todas as coisas relativas ao corpo. O divino é o bom, o sábio, o belo, e tudo o que a eles se refere. Destas coisas se nutrem e se desenvolvem as asas do espírito, enquanto que todas as coisas contrárias, o feio e o mau, servem para dissolvê-las e destruí-las.
Antes porém convém saber a verdade acerca da (...)
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Platão (Timeu, 86 b-90 d) – As paixões e a alma
10 de outubro de 2022, por Cardoso de Castro
Quase tudo o que se atribui a intemperança das paixões e se reprova aos homens como obra de sua vontade, se os reprova injustamente, porque ninguém é mau porque o quer. O homem é mau por certa predisposição ao mal que existe em seu corpo, ou por uma predisposição viciosa.
Assim se produzem as enfermidades que afetam o corpo. As que afetam a alma por intermédio do corpo, se passam da seguinte maneira. Diremos primeiro que a enfermidade da alma é a demência e que existem dela duas classes: a loucura (...)
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Platão (Timeu, 41 a-44 c.) – A Vida Humana
10 de outubro de 2022, por Cardoso de Castro
Resulta de todas estas afecções que a alma, no princípio, no momento de associar-se ao corpo, fica como que submergida na demência.
E assim, logo que nasceram todos os deuses, tanto os que descrevem voltas circulares e visíveis quanto os que se mostram quando se lhes apetece, aquele que tudo criou falou-lhes desta maneira:
"Deuses, descendentes de deuses, dos quais eu sou o criador e pai de suas obras: por minha obra nascentes incorruptíveis, enquanto eu não decretar vossa dissolução. Pois se (...)
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Caeiro (Arete:§26) – prazer e depressão no tempo
19 de setembro de 2022, por Cardoso de Castro
A diferenciação do prazer (ἡδονή) e da depressão (λύπη) relativamente à perversão impossibilitante (κακία) e à excelência (ἀρετή) resulta da aplicação de operadores temporais que permitem compreender todo e qualquer sentido (πάθος) como sendo vivido só no momento presente (ἐν τῷ παραχρήμα) sem a possibilidade de uma abertura ao que esteja fora dessa presença, sem a possibilidade de antecipar o tempo futuro (εἰς τὸν ὕστερον χρόνον).
Não se consegue antecipar que o tempo que segue ao prazer (ἡδονή) traga consigo a sua cessação e a (...)
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Bréhier (HF) – A forma literária em Platão
19 de setembro de 2022, por Cardoso de Castro
Dessa extraordinária complexidade de formas, drama e comédia, dialética, discursos continuados e mitos, que, segundo as épocas, estão diferentemente dosados e, ademais, apresentam suas próprias modificações, é impossível fazer abstração para bem avaliar a filosofia platônica.
O diálogo platônico oferece três aspectos, combinados em graus diversos: é um drama, é, na maior parte do tempo, uma discussão, envolve, algumas vezes, uma narrativa em sequência.
drama
De início, um drama: o lugar, a época, as (...)
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Jean Brun (Platão) – Ideias - Participação
18 de setembro de 2022, por Cardoso de Castro
Por outras palavras: ou se pode afirmar tudo acerca de tudo e então nada é verdadeiro porque tudo é verdadeiro; ou não se pode dizer nada acerca de nada e então, mais uma vez, nada é verdadeiro. Eis o dilema sem saída que nos apresenta o Parmênides, é a ele que nos condenam as posições daqueles que Platão quer refutar.
Quanto à solução de Platão, está exposta no Sofista, que é o seguimento lógico do Parmênides; Platão recusa o dilema ou tudo é verdadeiro ou nada é verdadeiro, que nos condena ao ceticismo, ao (...)
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Jean Brun (Platão) – Participação e separação
18 de setembro de 2022, por Cardoso de Castro
Dizer que o ser não é, mas que percorre todos os gêneros, é dizer que não é isto ou aquilo, mas aquilo por que existe o isto ou o aquilo; por isso Platão diz que o ser, participando do outro, será outro que não o resto dos gêneros, «outro que não todos eles, não é portanto nem nenhum deles tomado separadamente, nem a totalidade dos outros menos si próprio»; o ser não é porque nega todos os não-seres que o afirmam muito mais pelo não que eles são do que pelo ser que não são. Por isso «as vezes que são os (...)
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Jean Brun (Platão) – Ideia
18 de setembro de 2022, por Cardoso de Castro
Por isso a definição de ideia que nos foi transmitida por Xenocrates corresponde de fato ao ensinamento de Platão: «A ideia é a causa que serve de modelo (aitia paradeigmatike) para os objetos cuja constituição se inscreve para toda a eternidade na natureza (citado por Proclus, in Parm., V, 136).
Assim, os números, as figuras geométricas, são ideias, o sensível só pode ser entendido pelo inteligível, o objeto só pode ser definido por uma atividade do juízo; além disso a matemática é apenas uma (...)
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Jean Brun (Platão) – A Recusa da Aparência
18 de setembro de 2022, por Cardoso de Castro
Esta distinção de quatro tipos de conhecimento mostra-nos claramente que, para Platão, a aparência não pode ressaltar de qualquer processo inteligível e que se o aparecer está ligado ao ser devemos ir daquele até este. Uma tal distinção mostra-nos ainda que a matemática tem na filosofia de Platão um papel proeminente mas puramente propedêutico, como iremos em seguida pormenorizar.
A recusa da aparência
Heidegger critica Platão por este ter contribuído para a introdução de uma separação entre o ser e o (...)