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Y Jing / I Ching / Yi Ching / Yiking / Yi King / Yi-King / Livro das Mutações / Book of Changes

  

Ora, foi precisamente por saber que os hierogramas do 35º século a.C. não passavam de deformações da escrita primitiva, sendo portanto insuficientes para representar pensamentos abstratos e gerais, que Fo Hi empregou, para fixar a Tradição da única maneira conveniente (ou seja, sintética e universal), os símbolos lineares dos Trigramas.

Pois a escrita do Yi Ching é de dois tipos: o trigrama para o próprio texto de Fo Hi e o hierograma (caracteres primitivos de Koteou) para as glosas e paráfrases da Escola de Fo Hi.

A trama do Yi Ching consiste assim em sessenta e quatro hexagramas, ou trigramas duplos; estes sessenta e quatro tipos provém, por uma revolução em sentido inverso de dois círculos concêntricos, de oito trigramas; estes trigramas provém de quatro digramas; e estes digramas, das diferentes posições de um traço cheio – e de um traço partido —.

Estes dois traços são as figuras simbólicas representativas mais simples que jamais existiram. Aonde o imperador Fo Hi encontrou um simbolismo tão ingênuo? Neste caso como em outros, e tanto para a escrita que traduz um pensamento quanto para este pensamento mesmo, Fo Hi não se dirigiu nem às intervenções celestes nem às potências invisíveis, mas antes à natureza que cercava e encantava sua raça. Foi da sua altura de homem que, com lógica indiscutível, ele assumiu a tradução da Tradição que deveria esclarecer e guiar a Humanidade. Com efeito, o livro histórico dos “Ritos de Tsheou” diz: “Antes de traçar os trigramas, Fo Hi olhou para o céu, depois baixou os olhos para a terra, observando suas peculiaridades e considerando as características do corpo humano e de todas as coisas exteriores”. Vale dizer que os dois traços indicam um duplo estado, ou melhor, a igualdade entre dois estados, comuns a toda a criação. Convém aproximar deste símbolo em linha reta o mesmo símbolo em linha circular, conhecido por toda a antiguidade oriental e renovado pelos taoistas, o Yin-Yang, representação do princípio duplo, ativo-passivo, positivo-negativo, masculino-feminino, luminoso-obscuro, etc., que quando dividido em suas duas partes por um observador analítico produz o erro fatal do Bem e do Mal, mas que, indissoluvelmente um em essência (malgrado o aspecto que a representação material é obrigada a lhe dar) constitui o Tai Chi ou Grande Extremo, símbolo enérgico e absoluto, gravado no frontão de todos os templos, e que Lao Tsé colocou à frente de todas as doutrinas asiáticas.

O traço sem solução de continuidade representa o ativo; o traço com solução de continuidade representa o passivo; e sendo os traços como os princípios, Fo Hi reconhecia assim a essência e a unidade da perfeição, da qual eles não passam de aspectos. Cuidemos bem, aqui mais do que em qualquer outro lugar do mundo, de não confundirmos a coisa com a forma deteriorada sob a qual podemos representá-la, e talvez mesmo compreendê-la: pois os piores erros metafísicos, os piores cataclismos morais nasceram da compreensão insuficiente e da má interpretação dos símbolos. E lembremo-nos sempre do deus Janus, que é representado com dois rostos, mas que não possui senão um, que não é nem um nem outro que podemos tocar e ver.

Esta é a interpretação do simbolismo dos traços dos hexagramas de Fo Hi; ela demonstra que o Yi Ching é um livro universal e não um tratado de astronomia, como quiseram os japoneses e os latinos niponizantes [1].


[1Embora esta seja um pouco a opinião de Paul-Louis-Félix Philastre (1837-1902), aproveitamos a ocasião para recomendar sua tradução do Yi Ching, que é única, devido ao conhecimento que o autor possuía da escrita e do caráter dos chineses. A causa profunda que deu a ele uma imensa erudição foi a mesma que destruiu sua carreira diplomática.