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não-ser / me on / μή ὄν / mê on / me ón / nihil / nihilum / nadidade / to me einai / não-existente / não manifestação / non-manifestación

  

gr. μή ὄν, mê ón: não-ser. Latim: nihil, nihilum. Termo inaugurado por Parmênides   e depois confrontado por Górgias  , Platão   e Aristóteles   com a noção de ser, ón (v. essa palavra). Também se encontra ouk ón.


Para Christophe Andruzac, Guénon utilizando a perspectiva apofática das doutrinas do Oriente, entende por Não-Ser não o vazio nem o nada, mas tudo o que é mais que o Ser, ou mais precisamente o que está além do Ser: é tudo isto que, a um título ou outro, subsiste no Verbo.
El «No Ser» no debe comprenderse como significando una nada: El No Ser se predica de lo Infinito qua «non-Ens», no quia «non Est»; es decir, negativamente, pero no a modo de privación. Cf. G. de Mengel, «La Noción de lo absoluto en diversas formas de la tradición», Le Voile d’Isis (junio 1929).

Notions philosophiques

O ser é, o não-ser não é. O aforismo parmenidiano não era uma tese de ontologia, ela abria um caminho, aquele da verdade, distinguindo de uma outra via, aquela do erro onde o não-ser é necessário. Não se trata senão de afirmar um conceito em relação dele mesmo, em dispondo o ser do ser e o não-ser do não-ser. Ninguém se aventuraria a traduzir esta odologia em uma ontologia, a fortiriori em uma negontologia: o não-ser não nadifica, não abre abismo sob nossos passos, não tem valor senão opositivo. Conduzindo a dizer do ser que ele não é e do não-ser ao não-ser retira a este toda possibilidade. Falta de se fundar sobre um nada, o não-ser não representa senão a negação do ser, único real, negação segunda em relação à afirmação daquilo que é. [Notions Philosophiques  ]

Coomaraswamy

Los cuatro tipos de no-existencia de Platón, —el «todavía no» de las cosas que pueden existir o existirán; el «ya no» (meketi) de las cosas que cambian y perecen de manera que ya «no son» lo que eran (como Clinias, cuando cambia de ser ignorante a ser sabio, Eutidemo   283 D); la «mutua» o «relativa» (cf. la nota 3 en el texto de arriba, y también Parménides 163 C, «la ausencia de existencia en la que nosotros decimos que ella no está allí», y Sofista   258 E «en lo que concierne a otros»); y la «absoluta» (Parménides 163 C «que no existe en ningún modo, forma, o manera», y Sofista 237 B to medamos on), son respectivamente idénticos con el grupo indio de los cuatro tipos de no-existencia, a saber, en el mismo orden, pragabhava, pradhvamsabhava, anyonyabhava, y atyantabhava. El examen de la no-existencia por Platón se encontrará más fácil de seguir si en cada punto nos detenemos a considerar de cual de los cuatro tipos de no-existencia se trata: por ejemplo, si es pros allela (anyonya), o medamos (atyanta); de otro modo, la discusión se torna indefinida, debido a que me y ou implican siempre una diferencia de algún tipo (Sofista 257 B, C) y la no-existencia no es lo opuesto de la existencia, sino sólo algo que ha de contrastarse con ella, pues no hay «ningún opuesto del ser» (ídem 258 E), —de la misma manera que lo finito no es lo opuesto de lo infinito, sino, por así decir, sólo una degustación de ello. En lo no-existente, es «eso que es incaracterizado» ([...], Satapatha Brahmana   7.2.1.7); esto es anyonya-, porque significa la liberación de las limitaciones afirmativas; de manera que cuando la Deidad se describe como sad-asat, esto es equivalente a niruktaniruktam, y significa que la Deidad es a la vez con y sin definiciones, o, en otras palabras, a la vez Dios y la Divinidad, puesto que la Divinidad es incaracterizada, y así, como lo expresan los místicos occidentales, «libre en su no-existencia», y a la cual ha de llamarse propiamente «nihil». [AKCTE  :Nota]

Léxico grego

É então na tradição grega, depois nos seus prolongamentos cristãos, que o sintagma « não-ser » (me-on) foi o mais longamente/duradouro empregado e feito objeto dos mais numerosos comentários; e isto é devido à importância e à diversidade dos empregos de formas verbais de einai (= ser) na língua grega (Benveniste, Problèmes de linguistique générale, t. I, P. 71), importância que não se encontra nas línguas semíticas. As especulações sobre o ser e o não-ser parecem todas pós-parmenideanas (Parmênides viveu entre 540 e 450 antes de Cristo), e estimuladas pelo seu Poema (sobre o ser). Citemos Melissos e sobretudo Gorgias que escreveu um tratado Do Não-Ser e da Natureza no qual expunha, de alguma forma, as possibilidades que oferece a dialética on—me on. Alguns veem, a filosofia platoniana como nada mais que uma superação metafísica desta dialética (pelo Bem « além da ousia » que transcende e inclui a distinção da identidade e da alteridade), enquanto que Aristóteles nos oferece aí uma solução cosmológica (doutrina do ato e do poder/potência). Nesses textos, o « ser » e o « não-ser » designam geralmente as regiões do real e do irreal (como em Shankara  ) e não qualquer um ou qualquer coisa, uma entidade: essas são as categorias filosóficas e não teológicas. Mas, pode-se hesitar (de onde a incerteza sobre as maiúsculas). Platão, em certas passagens (Sofista, 248 a), parece identificar « o ser mais que perfeito » à Deus (que nomeia mais frequentemente « Bem » ou « Um »). Quanto à Aristóteles, sabe-se que a interpretação habitual de sua ontologia como teologia levanta hoje algumas dificuldades. Somente dois séculos mais tarde, com Plutarco  , que a identificação de to on à Theos é atestada pela primeira vez: « Dizemos à Deus : « Tu és », lhe dando assim uma nomeação exata e verídica, a única que convém somente à Ele, a do ser » (De E apud Delphos, fim do cap. 17). No século II, com Numênio, aparece a primeira atestação de Deus como o ón (o Ser, no masculino) e não mais to on (no neutro), o que testemunha a influência da «ontologia do Arbusto ardente »; sabe-se que, com efeito, foram os judeus alexandrinos os primeiros que tomaram o ehyeh asher ehyeh por ego eimi o ón: Eu, eu sou o Ser (por excelência) [Este fato notável deveria fazer refletir todos aqueles que se opõem sumariamente à mentalidade abstrata do helenismo filosófico a mentalidade puramente « concreta » da revelação judaica.]. É então que, correlativamente, o me on pode adquirir, indubitavelmente, um valor « teológico »: o Não-Ser como princípio supremo além do Ser. Em Plotino  , este uso não é ainda adquirido e o não-ser parecer ter um sentido « pejorativo » ( pelo menos de não ver em não-ser da maneira inteligível uma alusão discreta à Deus nunca vista como Não-Ser. É notável, entretanto, constatar que, apesar do ontológico Arbusto ardente que parecia impor Deus como « Aquele que é » por excelência, Orígenes   segue Platão e Plotino para afirmar a transcendência supra-ontológica de Deus: « (contempla-se) de início a Verdade por vir assim até fixar os olhos sobre Ser ou, além do Ser, sobre o poder e a natureza de Deus » (Commentaire de Jean, XIX-6, 36-37 ; trad. P. Nautin). E em Contra Celsum, VI-64 : « A questão do Ser (ousia) é longa e difícil, e sobretudo (...) por achar se Deus está « para além do Ser em dignidade e em poder » (citação de Platão) tudo nisso fazendo participar com o Ser aqueles que ele fez participar conformemente à seu Logos e seu Logos ele-mesmo, ou se é, ele também, Ser ». E, conclui (ibidem): « o « Monogenista », « Primogênio nascido de toda criação » (Col. I-15) é Ser dos seres, Ideia das ideias e « Princípio », enquanto que seu « Pai » e seu « Deus » (Jn  . XX-17) está « para além » de todas essas coisas ». Mas, é sobretudo Proclus   ( século V ) que faz uso teológico e meta-teológico do sintagma mè on que acha já em Platão e o qual confere ( a justo título) a dignidade do Princípio supremo, se aplicando aí ao Um trascendente ( ou mesmo para além do Um ). De todos os neo-platônicos ele é, segundo alguns, o mais próximo da « maneira » guenoniana; explicita, também, escolasticamente quanto possível, a significação esotérica do platonismo. Não é até a doutrina do que Coomaraswamy chamava de « bi-unidade » divina (a distinção não-separativa do Infinito e da Possibilidade universal, isto é, em linguagem "schuoniana", do absoluto e da Relatividade suprema ou infinito)que não se encontra claramente exposta: « A indeterminação da matéria, escreveu J. Trouillard (resumindo Eléments de Théologie, 92) a ela-mesma sua norma na autoapeira, a Infinidade pura, que é a mola/corda de toda marcha/processão e a primeira expressão do Um antes do Ser mesmo » (Aubier, p. 25). Certamente, o ser é infinito, mas, não é o Infinito puro. Quanto ao supremo Um, declara Proclus (ibid., 138) « dentre os princípios, tem-se o imediatamente para além do ser e Não-Ser , tanto que ele é superior ao Ser e que Ele é Um ». Igualmente, explica, em sua Teologia Platônica (II-2, p.83-84) : « é no Ser que se encontra o múltiplo (as possibilidades não-manifestas) e no Não-Ser, o Um (en me ousia to en) ». A imensa obra de Proclus pôde transbordar/ultrapassar o quadro do neo-platonismo strico sensu, uma vez que ela veio fecundar a obra da teologia cristã, graças de início à « Dionísio o Areopagita   » que se refere diretamente, com todo o peso que se prende à uma Autoridade quase-apostólica (a do convertido de S.Paulo, autor jeronimiano do corpus areopagítico). Por meio dele, o pensamento cristão (sobretudo latino) vai se beneficiar, em sua expressão doutrinal, da seiva supra-ontológica do platonismo. Por Dionísio, com efeito, o Bem-Um transcende a oposição do ser e do não-ser, o que não faz o Ser: « O nome de Bem, se aplica à Deus (. ..), se estende à todo ser e à todo não-ser. O nome Ser se estende somente à todo ser, ao mesmo tempo que transcende a todo ser » (Nomes divinos, 816 B ; em 817 C, Deus-Ser é aliás referido em Êxodo, III-14). É então preferível identificar Deus ao Nada, pois, « Não existe Nada Rien em nada e Ele é, no entanto, conhecido por todos em tudo ao mesmo tempo que Ele não é conhecido por nada em Nada » (872 A).

Também Dionísio celebra em inúmeros textos a "Théarchie ( Thearchia )" supra-essencial ( isto é supra-ontológica) tudo em precisando, no entanto, que não saberíamos ter acesso diretamente ao Sobre/Supra-Ser, senão/ a não ser no silêncio e na não-consciência. Para todo outro conhecimento, o Sobre/Supra-Ser não se deixa ver senão pela forma do Ser, e é porque a Escritura nos revela assim: « o amor de Deus pelo homem envolve o inteligível no sensível, o Supra-essencial no Ser » (592 B). Assim se perpetua de era em era a fórmula platônica do Bem « para além do ser ». Sua transcendência absoluta implica aliás uma imanência radical: « o ser de tudo é a Deidade que está para além do ser » (Hierarquia celeste, 117 D). S. Máximo o Confessor, comentando os Nomes divinos (P.G. IV, col. 189 A) declare : « Deus é chamado Ser e Não-Ser. Pois, não é nada do que são os seres ». Chega até à afirmar: « Não acho que o Divino é e que Ele não possa ser compreendido. Mas, acho que que Ele não é. Tal é, com efeito, o conhecimento no desconhecimento » (ibid., 245 C) ; e ainda: « (Deus é) Não-Ser para além de toda essência » (P.G. III, 588 B).