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annum / estações do ano / ano litúrgico / mensis / septimana / calendarium / calendário / ὥρα / hôra / o agora / the now

  

Schwaller de Lubicz

Em lugar de tentar formular um calendário rígido, os Antigos souberam se dar conta de todos os movimentos celestes e os pôr em coincidência com a vida na terra. Estes Sábios consideravam separadamente o ciclo lunar e o ciclo solar; ora o ciclo solar é ele mesmo complexo, e é considerado como o ano trópico (tempo compreendido entre dois retorno consecutivos da Terra ao Equinócio da primavera e o ano sideral (tempo que corre entre duas conjunções da Terra com uma mesma estrela) [1]; mas estes dois períodos se contam por frações de dias, de minutos e de segundos, e não podem servir de unidade de tempo fixo pois elas exigem correções constantes. Os Antigos também não adotaram nem um nem outro, mas o ano siríaco de 365,25 dias exatamente, ano determinado para o retorno periódico do nascer helíaco de Sírio. Ora, entre os movimentos excessivamente lentos das estrelas ditas «fixas» umas em relação às outras, Sírio é a única estrela que permite de compensar a distância irracional de tempo e de estabelecer um ano fixo — ou Ano de Deus — servindo de medida de referência para anotar todos os movimentos do céu. O nascer helíaco de Sírio determinava o Dia do Ano, denominado «abertura do ano». [O REI DA TEOCRACIA FARAÔNICA]

Ananda Coomaraswamy

Assim pois, é por meio do Sol, frequentemente descrito como o «olho» de Titã, como Ele (Varuna) presencia, experimenta, e «come» os mundos do ser contingente sob o Sol, os quais estão em poder da Morte, e são propriamente Seu alimento; é por meio do Sol como estes mundos são em primeiro lugar «medidos», ou «criados». E é justamente isto o que está implícito no trabalho dos Ribhus, que fazem do «prato» solar único quatro do mesmo tipo, pelos quais nós só podemos compreender as quatro estações solares, que representam os limites do movimento solar nas quatro direções (o movimento diário de Leste a Oeste e em seguida novamente, e o anual de Sul a Norte, e em seguida novamente). Se tratará então de obter «alimento dos quatro quadrantes» (Pancavimsa Brahmana XV.3.25): isto pode parecer uma grande coisa de um ponto de vista humano, mas pode se ver facilmente que está muito mais de acordo com a dignidade da unidade divina obter todo tipo de «alimento» possível de uma única fonte, de um verdadeiro cálice de plenitude, que obter estes variados alimentos de fontes tão amplamente extensas: do que Tvastr se ressente, com efeito, é da partição de sua unidade central implicada por uma extensão nas quatro direções. Se tudo isto se atribui no Rig Veda   seja à Deidade em pessoa, ou seja alternativamente a uma tríada de «artistas» subsequentemente deificados, isto só se pode compreender com o significado de que estes últimos são coletivamente as três direções do espaço, e neste sentido «poderes» cuja operação é indispensável para a extensão de qualquer «campo» horizontal nos termos dos quatro quadrantes. [Arte e Simbolismo Tradicional]

Pierre Stables

A Legenda Dourada nos fala do «Jejum dos quatro tempos»: «O homem é composto de quatro elementos quanto ao corpo, e de três poderes que são o racional, o concupiscível, o irascível, quanto à alma... O sangue aumenta no inverno... jejua-se em consequência na primavera, para debilitar em nós o sangue da concupiscência e da louca alegria; o sanguino é com efeito libidinoso e folião». A primavera é comparada ao ar, o verão ao fogo, o outono à terra, e o inverno à água. Jejua-se portanto na primavera para conter em nós o ar da presunção e do orgulho, e também para obter «ser filhos pela inocência». Se se jejua três dias, é «para satisfazer em um dia as faltas cometidas em um mês». Nos «quatro-tempos», jejua-se pelas quatro estações.

Uma razão complementar do jejum das Rogações se deduz também da Legenda Dourada. Trata-se de superar o estado de Adão enquanto este é ligado à libido. Com efeito Adão «foi criado em março, e foi pecador em março, uma sexta-feira, na sexta hora». O primeiro dia de jejum das Rogações inclui esta data, e o que ela comporta.


O equinócio da primavera tem por sintemas o Leste, o Oriente. Os Santos do Oriente são o Arcanjo Gabriel, São José e São Emanuel. Invoca-se este último a respeito do Oriente espiritual: «Ó Oriens!», que é então o Cristo, e não Santo.

Aí também encontramos um deslocamento no tempo, comparável à redução do tempo visto de mais alto. Emanuel (Deus em nós, ou conosco) é cantado no Advento, e São Emanuel é festejado no equinócio da primavera.


O Hexagrama 11 ䷊ do I Ching   representa o equinócio da primavera. Eis seu sentido geral; «União, harmonia, paz, prosperidade. O que é pequeno, yin, se vai. O que é grande, yang, vem. O céu e a terra se unem, as flores nascem. Solidificar. Tornar corporal. O homem «dotado» une o céu e a terra fazendo das leis harmoniosas (ritos de beleza), e decretos concernentes à cultura». A ideia geral é: ajudar o povo, treinamento mútuo; isso leva a arrancar as plantas parasitas em suas raízes (sentido próprio e figurado), as ervas daninhas. O sopro da primavera retorna a vida a tudo, e a ação do homem «santo» é necessária para realizar aqui esta harmonia do céu e da terra. Os Sábios agem juntos, com tolerância, mas energia.

A partir daí, o Hexagrama oferece desvios inversos, quando se ultrapassa o justo meio. Desce-se então, e a imagem é aquela de um círculo vertical que gira sobre ele mesmo (de 180 graus), significando que seu ponto mais alto desce.

A ideia e as imagens evocadas pelo subida do sol ele mesmo, são dadas pelo Hexagrama 35 ䷢: ideia de movimento adiante, de desenvolvimento florescente, de pacificação do universo. A claridade emerge do domínio da passividade: a submissão se junta à virtude de uma grande inteligência. Esclarcer sua própria faculdade de inteligência para afastar o que a vela, e estender seu saber, é esclarecer a faculdade de inteligência do universo inteiro. Mas o avanço deve ser prudente: o homem que ainda não recebeu o mandato do céu avança, em seguida recua. Se é capaz de avançar rápido, deve ser de recuar lentamente, mas todos estes atos dever ser feitos em um espírito de generosidade. Se nenhuma ajuda simpática vem para este que está nesta situação real, física, ou moral, correspondendo à «subida do sol», este homem experimenta dificuldade para avançar. Mas a longo prazo, suas virtudes de retidão e de justiça acabarão por brilhar. Então se terá recurso a ele, e se encherá de honras. Em seu mais alto grau de submissão para o superior, a multidão se associa a ele, e ele à multidão. «Quem quer que siga a multidão se associa à vontade do céu». (Nota: vê-se que a vox populi, vox dei só é válida em uma atitude partilhada de «aurora», para um taoista). Então estas tendências confluentes levam o homem a subir, para se associar à grande claridade, ao intelecto superior.

Este dois hexagramas, em sua primeira parte, que só conta para este tema nosso, o Oriente, nos conduziram às ideias seguintes:

Primavera: união do céu e da terra. Entreajuda. Afastar as más tendências. Tolerância enérgica. Nascimento da inteligência pela submissão. Se esclarecer e esclarecer o mundo. Pacificação universal. Démarches prudentes e submissas. «Vox populi, vox dei» (com base na tradução de Philastre).


Não é por acidente que a respeito de João Batista e do solstício de verão a Legenda Dourada nos fala de um sintema do Logos. Do mesmo modo, não é por acidente que o I CHING nos fala justamente do Logos a respeito do solstício de verão no Hexagrama 1 ䷀: o dragão Long representa a inteligência imaterial, sem corpo, o espírito (Ling). Sabe-se que o dragão Long é o Logos, Isso foi dito por Philastre e confirmado depois.

Tudo isso obriga a pensar no processo da salvação dos não-cristãos. O Taoismo pode portanto conduzir pelo Logos que age nele, e que ele reconhece, a uma realização espiritual autêntica. Mas é preciso para isso uma extrema pureza (de onde os regimes e a ginástica especial), uma força ativa considerável no exercício das obras caritativas, e também dos meios exteriores à doutrina intelectual. A força ativa e os meios são fornecidos pelas iniciações. Sem elas, o perigo seria a ligação a um encadeamento de associações indefinidas de sintemas, religadas umas a outras em uma roda girando de um movimento contínuo e perpétuo. Para os chineses esta roda cósmica submissora existe. Encontra-se com o mesmo aspecto constringente na Legenda Dourada: há a roda que gira no lugar e ao contrário, aquela do voo dos pássaros que sobem e descem, aquela do sol que gira do oriente ao ocidente, em seguida do ocidente ao oriente, e as rodas cujo ruído dá medo ao leão e a São Leonardo, pois perturba a força de contemplação; sem falar de todas as rodas de ferro forjadas ao fogo servindo aos suplícios dos mártires. Ao contrário há a roda benéfica, aquela dos fogos de São João, lembrando a frase «É preciso que ele cresça (Jesus), e que eu o diminua». [Duas chaves iniciáticas da Legenda Dourada: Cabala   e I-Ching]

Silva de Brito

Segundo Antonio da Silva de Brito, mês deriva de metior, metiris, que quer dizer medir: é uma parte das 12 que mede o ano. Três maneiras há de meses: usual, mês solar, e mês lunar. Mês usual é aquele, que se põe nos calendários; e porque toda a Igreja Romana usa dele, por isso se chama usual. Mês solar se chama aquele espaço que se detém o sol em passar por um dos doze signos. Mês lunar é em três maneiras: mês de peragração, mês de consecução, e mês de aparição. Mês de peragração é aquele espaço de tempo, que se detém a lua em passar por todos os 12 signos, que é em 27 dias e 8 horas. Mês de consecução é aquele tempo que tarda a lua apartando-se do sol, até que com seu próprio movimento se torna a juntar com o sol, e este espaço é de vinte e nove dias e meio. Mês de aparição, ou medicinal, conforme os médicos, é aquele espaço de tempo, que a luz se detém desde que a vemos nova, depois da conjunção, até que a tornamos a ver nova, passada outra conjunção. Os meses são 12, e seus nomes: janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho, julho, agosto, setembro, outubro, novembro, e dezembro.

Santillana

O caso foi posto por Giorgio de Santillana   e Hertha von Dechend que os sábios da antiguidade remota conheciam a Precessão dos Equinócios (pela qual o eixo da terra muda em períodos de 2600 anos) e que compreendiam que a medida real do mundo deve ser feita de acordo com as associações cósmicas das quatro estações.

De Santillana e von Dechend demonstraram isso em seu notável livro “Hamlet’s mill: an essay investigating the origins of human knowledge and its transmission through myth” de onde segue esta citação.

Na faixa zodiacal, há quatro pontos essenciais que dominam as quatro estações do ano. Eles são, de fato, na liturgia da igreja o “quattuor tempora” marcado com abstinências especiais. Correspondem aos dois solstícios e aos dois equinócios. O solstício é a “reviravolta” do sol de seu ponto mais baixo de inverno a de seu ponto mais alto de verão. Os dois equinócios, vernal e outonal, são aqueles que cortam o ano ao meio, com uma equilíbrio igual de noite e dia, pois são as duas interseções do equador com a eclíptica. Estes quatro pontos postos juntos formam os quatro pilares, ou cantos, do que era chamado a terra “quadrangular”.


[1O ano trópico, sobre o qual é regrado nosso calendário gregoriano, é de 365,24219879... dias. O ano sideral é de 365,256361... dias. O primeiro é mais curto, o segundo maior que o ano juliano de 365,25 das, ainda usado em astronomia, e que corresponde exatamente ao ano fixo faraônico.