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psyche kosmou / ψυχὴ κόσμου / psychè kósmou / anima mundi / alma do mundo / hole psyche / ὅλη ψυχή / hē hólē psukhḗ / hóle psyche / pasa psyche / alma do universo / pantos psyche / παντὸς ψυχὴ

  

gr. ψυχὴ κόσμου, psychè kósmou, psyche kosmou = anima mundi, alma do mundo; gr. ὅλη ψυχή, hē hólē psukhḗ, hóle psyche, hole psyche, παντὸς ψυχὴ, pantos psyche, pasa psyche = alma geral, alma total, alma do universo. Alma do Mundo


Ullmann

Do poder criador da Inteligência ou Noûs procede a terceira hipóstase — a Alma do Mundo (hen kai polla). Contemplando o Uno, o Noûs gera a Alma do Mundo. Esta, contemplando o Noûs, multiplica-se em todos os entes particulares do mundo sensível, sem dividir-se. A par da Alma do Mundo, existem as almas individuais. Na Alma estão as matrizes (logoi spermatikoi) de todos os entes, semelhando uma coincidentia oppositorum. Por isso, ela é hen kai polla. Dela procedem as almas e todas as formas dos seres sensíveis, ab aeterno, desde a planta até ao homem, tudo constituindo uma admirável harmonia e beleza. Logo, a Alma tem a função de organizar e governar o mundo sensível. A maneira dos estoicos, Plotino   professa que tudo forma uma sympatheia ton holon, uma harmonia universal. A ordem do todo não sofre desfiguramento pelo mal: "É absurdo queixar-se das partes, com relação ao todo; as partes devem ser examinadas com relação ao todo, para ver se elas lhe convém e lhe estão ajustadas; é mister ver o conjunto, sem dar importância aos mínimos detalhes".

Olhar apenas as partes "seria como alguém considerar de um animal inteiro somente um pelo (cabelo) ou um dedo dos pés, ou descurar a totalidade do homem que é um espetáculo divino".

A fim de preencher sua função organizadora, deve a Alma ter contemplado a organização inteligível no Intelecto (Noûs) transcendente. Se o Noûs é noesis noeseos, a Alma universal, ao contrário, desenvolve o seu pensamento em forma discursiva.

A Alma está em relação com o Intelecto assim como este está em relação com o Uno. Na base de tudo está sempre a contemplação. Por conseguinte, logramos dizer que a Alma é o logos do Intelecto ou seu phos ek photos.

Desejoso de explicar as hipóstases, Plotino, uma vez mais, vale-se de comparações: se o Uno é visto como a fonte primigênia da luz, o Intelecto, que vem após ele e que é inteiramente luminoso, pode ser comparado com o sol, e a Alma, que recebe a luz do Intelecto, é comparável à lua. A partir dessa imagem, o licopolitano assevera que a Alma, em permanente inquietude, aspira a algo que lhe falta, a algo transcendente, ou seja, ao Intelecto o qual está plenamente satisfeito consigo, contemplando em si mesmo os inteligíveis. Dessarte, ela se apressa em organizar o universo, voltando-se, pela theoria, à segunda hipóstase.

A Alma representa a terceira e última das hipóstases, o terceiro círculo luminoso além do qual só existe a obscuridade da matéria do mundo sensível.

O significado especulativo da terceira hipóstase cifra-se em ser intermediária ou mediadora entre o mundo inteligível e o mundo sensível, entre o mundo superior e o mundo inferior. Estabelece-se, assim, um vínculo claro entre o Uno e o mundo material. Aqui terminam as hipóstases do mundo inteligível e incorpóreo.

Anthony Damiani

O termo Alma Cósmica refere-se a uma variedade de níveis das almas individuais, mas frequentemente significa a Alma do Sol. «Cósmica» significa que funciona juntamente com a Alma universal para manifestar um cosmos, provendo a morada para outras Almas Unitárias individuais. Há uma incontável imbrincada hierarquia de almas cósmicas, quando consideradas em termos de suas manifestações. Entretanto, todas as almas cósmicas são também da natureza da Alma Individual em geral, tendo uma individualidade conectada com o cosmos, e uma essência inviolável.

Plotino

Enquanto o Uno, embora dele derive tudo, não sai dele mesmo e não se volta em direção ao que engendra, enquanto a Inteligência, em quem se encontram os princípios dos seres, a saber todo inteligível, não deixa o mundo do Alto, o ekei, a Alma do Mundo é a intermediária entre o mundo superior e o mundo sensível. Este último compreende por um lado seu mais alto grau, o céu astral, e por outro o mundo de baixo onde vivemos. Ela olha portanto ao mesmo tempo para o alto do qual procede e para o baixo que ela anima, por intermédio das almas particulares, ao mesmo tempo unidas a ela e tendo sua individualidade. Mas ela não deixa o mundo superior.


A Alma do Mundo é constituída interiormente por sua relação com o Inteligível: sua relação com o que está fora dele resta exterior. Ela é semelhante à Inteligência donde ela vem: embora dissemelhante ao que está em baixo, ele se torna no entanto semelhante por sua ação e por sua criação, pois sua ação contempla e sua criação produz formas (eide), como pensamento aperfeiçoados, pondo sobre tudo traços do pensamento e da Inteligência que procedem segundo o arquétipo que é a Inteligência: elas imitam a Inteligência no mais alto grau quando elas lhe são próximas e em caso contrário não guardam senão uma imagem obscura (Enéada V, 3, 7).

Brisson & Pradeau

gr. pasa psyche: a alma do universo não se situou nem veio de nenhuma parte... senão que o corpo se inseriu nela. (Enéada III, 9  )


gr. ὅλη ψυχή, hole psyche = alma divina, alma total, alma única, alma superior; aquela que habita sempre no mundo inteligível, segundo Plotino, e as almas particulares que são implantadas em um corpo.
Dans le traité 4 (IV, 2), en proposant une lecture du fameux passage du Timée   (35a-b) consacré au mélange dont résulte l’âme, Plotin a établi la position intermédiaire de l’âme, située entre l’indivisible à titre premier qui caractérise l’Intelligible et le divisible dans les corps. Et Plotin a encore montré que ce n’est que par accident que l’âme vient dans les corps. Dans le traité 21 (IV, 1), il a en outre souligné que l’âme, qui est indivisible, se divise dans les corps sans toutefois se partager en parties. Comme l’explique le traité 21, l’âme s’éloigne de l’Intelligible sans le quitter, et « quelque chose d’elle-même, dont la nature n’est pas divisible, ne s’en est pas allé ». Animant des corps qui subsistent séparés les uns des autres, et pour autant seulement qu’elle les anime, l’âme se multiplie en quelque sorte.

Plotin distingue entre l’âme divine, totale (hē hólē psukhḗ) et unique, absolument supérieure, qui demeure toujours dans le monde intelligible, et les âmes particulières qui sont implantées dans un corps. [BPT27-29  :26-27]


As duas misturas donde resulta a Alma do Mundo (Brisson, PLATON  , OEUVRES COMPLÈTES:

[img_assist|nid=2818|title=Alma do Mundo|desc=|link=none|align=center|width=353|height=151]

Pierre Riffard

Segundo Pierre Riffard  , a Alma do Mundo é o princípio motor (princípio de movimento; vide prima causa) e plástico (princípio de variedade) da natureza inteira à qual dá unidade, vida e psiquismo.

Pode-se concebê-la como os panteístas identificando-a a deus, ao Princípio (estoicos, Cardan, etc), ou como os gnósticos  , um intermediário entre o sensível e o inteligível (o demiurgo de Platão, a Terceira Hipóstase de Plotino, o mediador plástico de Cudworth  , etc.). Os Upanixades   identificam a Alma do Mundo a Vishnu.

A Alma do Mundo não se confunde com o Espírito do Mundo. Assim Platão sustenta que o Demiurgo (figura mítica da Alma do Mundo) criava segundo um modelo, O Vivente absoluto (o mundo das Ideias) (Timeu 31b); o Ismaelismo apresenta Ali como o intelecto universal, o Espírito do Mundo encarnado, e Maomé   como o pensamento universal, a Alma do Mundo encarnada. O Espírito do Mundo é o princípio de vida e de inteligência da natureza inteira. «O Espírito de Deus pairava sobre a face das Águas» (Gen 1,2). Comenius confunde os dois.

A concepção de uma Alma do Mundo, tão estranha à primeira vista para o pensamento moderno, segundo Joseph Moreau, é característica da física   platônica, e depois de um certo eclipse em Aristóteles, reapareceu no pensamento estoico. Estes três grandes sistemas de pensamento da Antiguidade são igualmente finalistas: mas a finalidade, que se exprime no primeiro e no último pela concepção da Alma do Mundo, se traduz no segundo pela aspiração de todo o Universo em direção ao Pensamento puro.

Mirko Sladek

A alma era considerada por Platão como a circunscrição (espacial) do corpo. Duas passagens do Timeu descrevem uma curiosa ação espacial da alma do mundo: elas representam o cosmo sob a forma de um corpo esférico com duas órbitas, o equador celeste e a eclíptica:

El dios eterno razonó de esta manera acerca del dios que iba a ser cuando hizo su cuerpo no sólo suave y liso sino también en todas partes equidistante del centro, completo, entero de cuerpos enteros. Primero colocó el alma en su centro y luego la extendió a través de toda la superficie y cubrió el cuerpo con ella. Creó así un mundo circular que gira en círculo, único, solo y aislado, que por su virtud puede convivir consigo mismo y no necesita de ningún otro, que se conoce y ama suficientemente a sí mismo. Por todo esto lo engendró como un dios feliz. (Timeu 34b)

Una vez que, en opinión de su hacedor, toda la composición del alma hubo adquirido una forma racional, éste entramó todo lo corpóreo dentro de ella, para lo cual los ajustó reuniendo el centro del cuerpo con el del alma. Ésta, después de ser entrelazada por doquier desde el centro hacia los extremos del universo y cubrirlo exteriormente en círculo, se puso a girar sobre sí misma y comenzó el gobierno divino de una vida inextinguible e inteligente que durará eternamente. Mientras el cuerpo del universo nació visible, ella fue generada invisible, partícipe del razonamiento y la armonía, creada la mejor de las criaturas por el mejor de los seres inteligibles y eternos. (Timeu 36e)

A alma do mundo, esta anima mundi mais tarde tão mencionada nos textos alquímicos, possui duas propriedades principais:

  • ela é espacial, quer dizer extensa, ela “fecha” o espaço e, em cada caso singular, cada um dos corpos. Esta alma — que Platão e também os pitagóricos consideram ao mesmo tempo como “número” — encontra assim, na geometria cósmica como “forma” da natureza, na geometria terrestre como forma arquitetural e número, o papel que lhe convém.
  • mas ela é também ao mesmo tempo, o princípio do movimento, que os corpos sejam movidos “de dentro” ou “de fora” (para os corpos que não portam em si mesmos o princípio de seu movimento, mas são postos em movimento pelos outros corpos animados).

É em razão desta faculdade que os filósofos herméticos consideram a anima mundi como o veículo da transmutação dos metais. [Excertos de "A ESTRELA DE HERMES, FRAGMENTOS DE FILOSOFIA HERMÉTICA"]

Yves Albert Dauge

A Alma do Mundo é um conjunto de Energias divinas, de Poderes mediadores, que abrem no cosmo para lhe dar a Vida e o orientar para a Luz. Ela é ao mesmo tempo Vontade demiúrgica, Sabedoria construtora, inspiração "sofiânica" (como denomina Henry Corbin  ). Ela aparece sob muitos traços na epopeia virgiliana: Anquise a nomeia spiritus ou mens (IV,726-7); o círculo das divindades do Olimpo lhe correspondem frequentemente (VI, 782, 834; VIII, 533); ela se deixa reconhecer nas qualidades, nas intenções ou nos gestos de Júpiter, de Apolo, de Vênus, de Vulcano, de Mercúrio; o "sol místico", é ela; o Éter, é ela; e os fatorum arcana (I, 262) são a expressão de seus desígnios.

Esta Alma do Mundo tem como intermediário principal para a terra uma espécie de "confraria oculta", fundamental e permanente, cuja vocação espiritual é imutável, e que se mantém acima da história. Henry Corbin, em TEMPLO E CONTEMPLAÇÃO, nos dá interessantes indicações a este respeito. Estes grandes Iniciados, estes Sábios ocultos, no contexto que nos ocupa, são os guardiões da "Imago Romae" e, para os romanos, os canais da "Imaginação criadora", os dispensadores das Ideias-Força e das Energias a manifestar. Eles estão figurados na Eneida por personagens em relação com o Elysium: A Sibila de Cumes, Anquise "angelizado", Orfeu, os filhos de Júpiter, os fiéis de Apolo,... e Eneias depois de sua assunção. [Virgílio, Mestre de Sabedoria]