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Maria / Μαρία / Mariam / Μαριάμ / Maryam / Miryam /

  

Jaroslav Pelikan

Até mesmo nos evangelhos  , como chegaram até nós, as relações entre Jesus e João Batista foram complicadas. Os evangelistas não deixaram de divulgar que o ministério de João Batista provocou grande inquietação entre "todos os homens", seus contemporâneos, "estando o povo na expectação, e pensando todos, em seus corações, se porventura João seria o Cristo". Contudo, eles tiveram dificuldades em explicar que o próprio João Batista identificou Jesus como o "Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo" e que, quando desafiado, explicitamente subordinou sua missão histórica à de Jesus - e sua pessoa a Ele, "do qual não sou digno de desatar as correias das sandálias". Esse posicionamento foi transposto das relações entre João e Jesus para as relações entre Isabel e Maria. No relato que se tornou conhecido como a visitação, João ainda não era nascido: "Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no seu ventre, e Isabel foi cheia do Espírito Santo. Exclamou ela em alta voz: Bendita sois vós entre as mulheres, e bendito o fruto do vosso ventre. De onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor?".

Mais tarde, considerou-se que a língua desse diálogo entre Maria e sua "prima" (syngenis) Isabel fora o aramaico e que elas poderiam até mesmo ter usado um pouco de hebraico, pois o título dado por Isabel a Maria, "Mãe do meu Senhor", he meter tou kyriou mou, em grego, só poderia ser interpretado como referência a Jesus Cristo se a forma usada tivesse sido Adonai, "Meu Senhor", termo usado para substituir o inefável nome divino, YHWH. De qualquer maneira, foi assim que os primeiros eruditos cristãos do Novo Testamento interpretaram o "título cristológico de majestade", kyrios, mesmo que os evangelhos ou o apóstolo Paulo não tenham pretendido estabelecer essa identificação. E como na principal afirmação de fé de Israel, a Shema, repetida por Cristo nos evangelhos — "Ouve, ó Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor" —,"o Senhor" e "nosso Deus" já eram identificados como um único, os bispos reunidos no Concílio de Éfeso, em 431, não encontraram a menor dificuldade em transpor a expressão de Isabel referente a Maria, "a mãe do meu Senhor", para o preceito de Cirilo, isto é, Maria como Theotokos. (excertos do livro "Maria através dos séculos")

Geneviève Javary

Mas, a teologia mariana muito cedo associou o nome de Jesus ao nome de sua mãe Maria. Ao Pantocrator propaga Maria Theotokos, a mãe de Deus. Ora, curiosamente, a simbólica da teologia mariana coincide em vários pontos daquela, tão rica, da “Sekina”, como também os cabalistas cristãos notaram analogias. G. de Venise, falando da rola (“Streptopelia turtur”, no Brasil é rolinha, “Uropelia campestres”) que é « a graça, ou a Divindade, que os Hebreus chamam Sachina », acrescenta:

Esta rola não é a bem-aventurada Virgem, cuja voz foi ouvida em nossa terra, quando disse: Eu sou a serva do Senhor, faça-se em mim segundo tua palavra (Lc   1,38 — Bíblia de Jerusalém)?

Para o « provar » propõe esta « equação »: Miriam (Maria) tem como valor numérico em hebreu 290 e Iesu (Jesus) 316: se acrescentar 290 a 316 ter-se-á 606, ora esse número é o valor numérico de Tur, « rola (“Streptopelia Turtur”) » em hebreu! Digamos também que esta rola, ou pomba, é na iconografia cristã o símbolo do Espírito Santo: fazer da rola um símbolo de Maria, é reconhecer nela a morada do Espírito Santo. Ora, a “Sekina” é para os cabalistas o Espírito Santo feminino.

Como a “Sekina”, Maria é a mulher forte (Prov. 31/10), a nova Eva, a mãe do gênero humano. Ela está envolvida de sol e tem a lua sob os pés. Maria é Rainha, como Bina, Rainha dos Céus e Rainha dos anjos, como Malkut, Rainha sobre a Terra, « Regente terrestre ». Quantas invocações e quanta piedade popular se dirigem à Maria nas Litanias, por exemplo, encontram eco na simbólica da Sekina! Citamos apenas:

Morada do Espírito Santo!
Casa de ouro!
Arca da nova aliança!

[trad. de Antonio Carneiro  ]