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kathrephtes / καθρέφτης / speculum / espelho

  

gr. καθρέφτης, kathrephtes = espelho, speculum

AKC (espelho)

A imagem vista num espelho (feito de qualquer material) sempre pareceu possuir, por assim dizer, uma certa qualidade mágica de revelação; comparada com objetos corpóreos refletidos, é relativamente imaterial e intangível, como a imagem mental pela qual o objeto é reconhecido mentalmente. Sempre se deu ênfase à limpeza de um espelho, que deve estar sempre livre de pó. Assim, por exemplo, no Paramarthasara XVI-A temos o seguinte: "Assim como os homens do mundo veem a sua própria forma corporal (rupam) num espelho não-contaminado (adarse mala-rahite), o Eu também se vê no intelecto puro (visudda-buddhau)".


Como diz Chandogya   Upanixade   IV. 15.1 (Veja Brhadaranyaka Upanixade II.5.5), "essa Pessoa destemida e imortal que está no Sol e, subjetivamente (adhyatmam), esta Pessoa destemida e imortal que há no Olho, é exatamente o Eu"; e IV.4.1, em que exatamente essa Pessoa que está no Olho se afasta e volta para a sua própria origem solar quando morremos. Veja Kaus Up. IV.3: "no Sol está o ’Grande’, no espelho está o reflexo (pratirupah)"; inversamente (Kaus Up. VI,5), "o que ocorre no espelho ocorre igualmente no Eu". A equivalência entre olho e espelho é clara também em Brhadaranyaka Upanixade III.9.12,15.
Veja Kalami Pir, Iwanow, p. 65, em que a forma de Adão (surat) é a forma de Deus refletida na água. Na realidade, todas as coisas são um espelho em que Ele se reflete; por isso, "seja qual for o lado para onde olhes, terás a satisfação de ver a Minha forma" (Shams-i-Tabriz  , Ode XXV, Nicholson  ), e "todos os espelhos do universo, os quais eu seguro, apresentam a Tua imagem com um lustro radiante" (Jami  , Lawa’ih 26). Analogamente, Macrobio   (Com. ex Cicerone in Somnium Scipionis I. 14) diz: "Unus fulgor illuminat, et in universis apparet in multis speculis".

A "forma" é comum à imago imaginans e à imago imaginata. Daí vem o poder mágico dos nomes (sendo as palavras, como diz Platão, a imagem das coisas) e dos retratos. Em geral, vemos um retrato bom e dizemos: "Sou eu"; e quando o retrato é "ideal", isso pode ser verdade num sentido mais elevado. O que Virocana não conseguiu foi distinguir a natureza que há na imagem refletida. [AKCcivi  :Notas:78]

Caner K. Dagli

The commentators mention a saying attributed to Ali ibn Abi Talib, “He sees, though there be no object in His creation to see.” This means that God knows Himself in an absolute, unqualified way that stands in no need of creation or manifestation. He knows (sees) Himself and all things eternally and everlastingly. However, to know all things in a qualified and relative manner there needs to exist that which is relative and qualified. If God wishes to see Himself in manifestation, as it were in a mirror, then this mirror must exist for this act of knowledge to take place. The totality and infinity of God’s knowledge demands that He know Himself in an absolute way, which is totally beyond need of the world, and also in a relative and qualified way, which presupposes the existence of the world. The vision a thing has of itself in itself is not like its vision in another thing, and God’s knowledge of Himself in Himself is not like His knowledge of Himself in Perfect Man and in all the beings of the world. The absolute is not the qualified, which does not take away the absoluteness of the absolute but does place upon it the limitation of not being qualified. As Ibn Arabi   will have occasion to point out time and time again in the Ringstones, it is in encompassing both the absolute and the qualified that God is truly God.

Perfect Man “encompasses the whole affair” as a possessor of existence, and existence here is used in the qualified sense of possessing manifestation as opposed to abiding in the realm of immutability in God’s knowledge and hence remaining unmanifested. Man’s special purpose is that he is a comprehensive being who is not God Himself, and so God can manifest His Mystery to Himself through man. God already knew His Mystery in Himself without something else. This being, man, possesses existence in the world and in this special respect (which is why he says “insofar as”) provides God with a mirror to contemplate His own Mystery.

Allard l’Olivier

A imagem de «espelho da mente», atribuída ao intelecto agente, enquanto face da mente oferta a Deus, merece considerações sobre a riqueza de seu simbolismo. A comparação do espelho propõe a tomada em consideração de quatro pares de termos: primeiro, o Sol, que é a Realidade divina. Em seguida o espelho que recebe a luz, e é a face interna da alta região da alma chamada mente, face oferecida a esta divina Realidade. Em seguida ainda, o fluxo luminoso que emana do Sol e atinge o espelho, e é a irradiação de todos os Aspectos divinos reunidos em um só feixe «incolor» que não é conhecido senão em modo existencial. Enfim, a imagem do sol no espelho, que corresponde o reflexo de Deus retinindo na mente de sorte que a criatura é à imagem de Deus. E assim como o reflexo do sol no espelho é resplandecente quanto o sol recebido pelo espelho, assim também o reflexo de Deus na mente é tão resplandecente quanto Deus que se mira nesta mente. Mas o reflexo da coisa não é a coisa; a luz existencial divina no espelho da mente não é Deus. Deus reside no dentro da alma, mas a alma não é Deus. [L’ILLUMINATION DU COEUR]

Jean Canteins

Deus em nós — ou, para conservar a terminologia já empregada, Deus «em mim» — e Deus «em si», que simbolizam os dois Purusha imanente e transcendente do qual é dito no Bhagavad Gita, que estão separados por um véu, uma parede e esta parede opaca é feita de toda a opacidade das coisas e em primeiro lugar da opacidade o «eu», da opacidade desta contrapartida individual do Si mesmo que é o ego.

Quer dizer que a parede não é opaca senão em função da qualidade da visão da «testemunha», de sua capacidade de discriminação. Quando o olho desperta à visão da Realidade ele «vê» as coisas como das teofanias e, em função de seu sentido da analogia, ele os «reconhece» como reflexos do Ser universal. Esta parede se torna espelho: a vida é desde então um espetáculo ininterrupto de espelhos remetendo em todas as coisas a mesma imagem e este «Infinito Espetáculo» é Deus. Toda vida pode ser assim condicionada por uma visão das coisas como espelho de Deus. [Miroir de la Shahada]

Henry Corbin

O mundo do Imaginal põe em obra uma ciência dos espelhos. Segundo Daryush Shayegan  , Corbin   a traduz como o «fenômeno do espelho»: «A substância material do espelho, metal ou mineral, não é a substância da imagem, uma substância cuja imagem seria uma acidente. Ela é simplesmente o "lugar de sua aparição" [...]. A Imaginação ativa é o espelho por excelência, o lugar epifânico das Imagens do mundo dos arquétipos; eis porque a teoria do mundus imaginalis é solidária de uma teoria do conhecimento imaginativo e da função imaginativa». Uma «imagem em suspenso» não é nem material, nem puramente espiritual; ela é um entre-dois. Por um lado, tem uma forma imaterial, por outro lado o espírito aí aparece revestido de uma forma própria. E é isto que é posto em obra, por exemplo, a ideia de Iltibas (anfibolia) em um Ruzbehan   de Shiraz. Para o sensível, o visível tem assim um duplo sentido (anfibolia); é e não é ao mesmo tempo. Toda teofania é um espelho que embora revelando o ser não menos dele guarda sua dimensão oculta, assim como o espelho, mostrando a imagem que aí se manifesta, remete ao que resta velado além da imagem. A anfibolia pressupões assim uma transfiguração que torna possível o ponto de junção deste duplo sentido: ela é isto que conduz da dualidade do vidente e do visto, à união teofânica onde eles invertem por assim dizer seus papeis: o Amante percebe presentemente todas as coisas com o olhar transfigurador do Amado. Graças ao fenômeno do espelho ele percebe agora a face humana transfigurada ao nível da Face divina, é é com o olho do Amado que redescobre a face humana de sorte que o Amante, o Amado e a ligação os reunindo juntos, se tornam homocromo (hamrang). Ora este fenômeno não pôde ser efetuado se a visão ela mesma não permanecesse a uma distância igual de um duplo obstáculo que é o tatil (a redução do todo à multiplicidade). É em outros termos em salvando o «fenômeno» que se salva por aí mesmo o valor noético da Imagem, quer dizer do Ícone em a preservando contra a idolatria. É também esta «ciência do olhar» (ilm-e nazar) centralizada sobre a visão teofânica da Imagem metafísica que faz de um poeta como hafiz   uma «Jogador de olhar» (nazar-baz). Pois o «jogador de olhar» não vê o mundo como um objeto, nem enquanto coisa representada, posta aí em nossa face, mas como um Jogo de Imagens refletidas sobre os espelhos encantadores do universo, sendo e não sendo ao mesmo tempo. O olhar visionário do poeta é um Jogo que tem por desafio o Jogo pelo qual a Divindade olha o mundo e Hafiz de concluir: «Se a face divina se torna epifania de nosso olhar / Não há dúvida que és presentemente o possuidor do olhar». [FACE DE DEUS, FACE DO HOMEM  ]