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Poema de Parmênides

  

POEMA DE PARMÊNIDES (490-475 aC)

Bornheim

O poema de Parmênides nos oferece - ao lado dos fragmentos de Heráclito - a doutrina mais profunda de todo o pensamento pré-socrático. Mas é também a de mais difícil interpretação. O poema divide-se em três partes: o prólogo, o caminho da verdade e o caminho da opinião.

No prólogo (frag. 1), o filósofo é conduzido à presença da deusa, que lhe promete a revelação da verdade. A deusa, portanto, é quem fala. No fim do prólogo, o poema distingue "o coração inabalável da verdade bem redonda", das "opiniões dos mortais", o que permite distinguir as duas partes subsequentes da doutrina.

A doutrina do caminho da verdade estende-se do frag. 2 até quase o fim do frag. 8. Já no frag. 2, o filósofo distingue dois caminhos de investigação, o do ser e o do não-ser, sendo que o primeiro é o caminho da certeza, pois conduz à verdade, e o segundo permanece imperscrutável para o homem. Trata-se, pois, de pensar o ser. E o núcleo da doutrina parmenídica está na sua afirmação de que pensar e ser é o mesmo (frag. 3). No frag. 8, Parmênides define o ser e encontra nele a medida do pensar.

A terceira parte do poema começa no penúltimo parágrafo do frag. 8 ("Com isto ponho fim ao discurso digno de fé que te dirijo"...’), e ocupa-se do caminho da opinião. Aqui, Parmênides desenvolve a sua cosmologia. Desde a antiguidade discute-se o modo como estas duas partes do poema possam ser conciliadas. (Excertos de Gerd Bornheim  , "Os Filósofos Pré-Socráticos  ")

Détienne

Desde muito tempo, convém que se sublinhe o caráter estranho da mise-en-scène na filosofia parmenídica: uma viagem num carro conduzido pelas filhas do Sol, uma via reservada ao homem que sabe, um caminho que conduz às portas do Dia e da Noite, uma deusa que revela o conhecimento verdadeiro, em suma, um conjunto mítico e religioso de imagens que contrasta singularmente com um pensamento filosófico tão abstrato quanto aquele que trata de Ser em si. De fato, todos estes traços, cujo valor religioso não pode ser contestado, orientam-nos de forma decisiva em direção a alguns meios filosófico-religiosos onde o filósofo ainda não é mais do que um sábio, digamos, até mesmo um mago. Mas é nestes meios que se encontra um tipo de homem e um tipo de pensamento voltados para a Aletheia: é a Aletheia que Epimênides de Creta tem o privilégio de ver com seus próprios olhos; é a planície de Aletheia” que a alma do iniciado aspira a contemplar. [Marcel Détienne]