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Teeteto / Theaetetus / Théétète / Θεαίτητος

  

PLATÃO - TEETETO. Sobre o conhecimento científico. Contra o heraclitismo epistemológico.

Estrutura do diálogo

  • Teeteto 142a-143c — Diálogo introdutório
  • Teeteto 144d-148d — Sócrates coloca a questão da natureza do saber
  • Teeteto 147c-148d — A Teoria dos Irracionais
  • Teeteto 148d-160e — A investigação sobre o saber é retomada
  • Teeteto 148e-151d — A «maiêutica»
  • Teeteto 151d-151e — Primeira definição: saber é a sensação
  • Teeteto 152c-155e — A doutrina da mobilidade universal
  • Teeteto 155e-160e — O refinamento da doutrina
  • Teeteto 160e-168c — Primeiras críticas.
  • Teeteto 162a-165e — Objeção à defesa de saber pela sensação
  • Teeteto 168c-171e — Método do exame crítico
  • Teeteto 172a-177c — Discussão estendida à concepção da vida
  • Teeteto 172c-175b — Duas espécies de homens
  • Teeteto 175b-177c — A evasão para o ideal. Se tornar semelhante a Deus
  • Teeteto 177c-180c — Objeções contra a tese do «homem-medida»
  • Teeteto 180c-183c — Crítica da tese da mobilidade universal
  • Teeteto 183c-184b — Crítica dos defensores da imobilidade
  • Teeteto 184b-200d — Dominar estas oposições por uma análise da sensação
  • Teeteto 187a-200d — Se o saber não é sensação, talvez seja opinião verdadeira
  • Teeteto 188a-190e — A natureza do falso julgamento é inconcebível
  • Teeteto 190e-195e — A psicologia do falso julgamento
  • Teeteto 191e-192d — Casos onde o falso julgamento é impossível ou possível
  • Teeteto 192d-194b — Notas preliminares e exemplos
  • Teeteto 194b-195e — Explicação pela imagem da cera
  • Teeteto 195e-200d — Um novo problema, o erro
  • Teeteto 200d-210a — Retomada da investigação da definição do saber
  • Teeteto 201c-210a — Definição do saber pelo julgamento verdadeiro, acompanhado de sua justificação
  • Teeteto 202c-203d — Primeira dificuldade
  • Teeteto 203d-205e — Segunda e terceira dificuldades
  • Teeteto 205e-210a — Quarta dificuldade: em que consiste a justificação que se une à opinião verdadeira
  • Teeteto 210a-210d — Epílogo

Adriana Manuela Nogueira e Marcelo Boeri

Segundo Adriana Manuela Nogueira e Marcelo Boeri, tradutores do diálogo para a Fundação Calouste (Lisboa, 2010) é a seguinte sua estrutura e argumento.

A estrutura do diálogo parece comparativamente simples. Após uma dupla introdução dramática, a segunda das quais gradualmente vai assumindo uma função metodológica, Sócrates lança a pergunta - "O que é o saber?" que comandará todo o diálogo.

É a ela que Teeteto apresenta as três respostas que constituem o diálogo, cada uma das quais, pela sua autonomia, serve de baliza à argumentação. No entanto, esta simplicidade é ilusória, pelo facto de descaracterizar por completo a estrutura do diálogo. Em primeiro lugar, esconde a complexidade e subtileza da refutação da primeira resposta (que se estende por quase dois terços da obra); depois, ignora o fio que profundamente a liga às outras duas, não prestando qualquer atenção ao deslize da questão do saber para a da opinião e desta para a do logos, que remata o diálogo, deixando a investigação numa aparente aporia.

O maior defeito desta perspectiva do Teeteto reside no modo como impede a apreensão da unidade da obra, diluindo a investigação sobre a natureza do saber num arbitrário e quase irrelevante encadeamento de debates inconclusivos. Tentando superar as dificuldades expostas, esta introdução visa propor uma interpretação que faça justiça à unidade do Teeteto, sem deixar de analisar cada uma das partes que o constituem e apreciar o modo como se articulam entre si.

O argumento do diálogo é animado por uma intenção, expressa no plano dramático: a de recordar a personalidade de Teeteto, relatando um episódio da sua educação filosófica (144d-15le). Esta intenção explica alguns excessos erísticos da argumentação de Sócrates, bem como as frequentes digressões, particularmente no curso da refutação de Protágoras. Mas deixa-se progressivamente atenuar, ao longo das refutações da segunda e terceira respostas de Teeteto, devido à especiosa dificuldade de muitos dos problemas levantados pela argumentação de Sócrates.

Este facto indicia uma gradual transformação na abordagem da questão do saber. Podemos considerar o exame da primeira resposta meramente introdutório e constitutivo do problema, refutando Teeteto, a partir da crítica das sucessivas versões apresentadas da onto-epistemologia, atribuída a Heráclito e Protágoras.

Tudo muda, porém, após a refutação desta resposta, emergindo o saber como problema autônomo. O exame da segunda resposta dá origem à constituição da cognição, como atividade unificada: à emergência do "problema do conhecimento", poderemos dizer. É desta que parte o exame da terceira resposta", o qual, aceitando os resultados da análise precedente, se confronta com uma nova dificuldade: a da possibilidade e meio de atingir o saber.

Esta perspectiva contribui para colocar o problema da integração do diálogo no Corpus em termos muito diferentes dos habituais.