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Boosco Deleitoso

  

Boosco Deleitoso (séculos XIV-XV)

Edição do texto de 1515, com introdução, anotações e glossário de Augusto Magne

Excertos da apresentação de Augusto Magne

A 24 dias de Maio do ano da Encarnaçam de Nosso Salvador e Redentor Jesu Cristo de mil quinhentos e quinze, na mui nobre e sempre leal cidade de Lisboa, saía dos prelos de Hermão Campos, bombardeiro del-rei nosso Senhor, um livro intitulado Boosco deleitoso, em que se continham enxempros e falamentos muito aproveitosos pera mantimento espiritual dos corações.

Nas proximidades do dia 24 de Maio do ano da graça de 1950, decorridos, portanto, mais de quatro séculos, e nesta não menos nobre e leal cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro, anima-se o venerando cimélio quinhentista a defrontar-se, tímido e receoso, com o sorriso escarninho e compassivo de leitores mal preparados para acolher-lhe com proveito e simpatia as graves   e severas lições.

Receio por demais justificado, pois nada menos pretende o ingênuo moralista de Quinhentos do que dirigir ardente defesa da vida solitária às almas enredadas em negócios mundanaaes, convidando-as, com irritante afinco, a procurarem, sequer no fim de agitada e estéril existência, o assessêgo balsâmico e pacificador do ermo.

É lícito duvidar que o douto razoamento consiga convencer numerosos adeptos e conquistar largo proselitismo. Não duvidamos, no entanto, que qualquer amante apaixonado de nosso formoso idioma, se lhe não falecer animo para superar galhardamente as primeiras dificuldades inerentes à leitura de qualquer texto arcaico, não saberá resistir aos encantos desta prosa equilibrada, límpida e fluente como caprichoso regato a serpear, despreocupado e borborejante, por ameno vergel, comprido de toda sorte de animálias e atapetado com formoso manto multicor de flores de desvairados matizes. Para quem possui algum conhecimento, superficial embora, de nosso remoto passado, palpita em. toda sua pujança e singeleza nos períodos símprezes e desataviados do Boosco a alma candorosa e singela de nossa Idade Média, saturada de intenso e vigoroso idealismo cristão.

O Boosco constitui uma raridade bibliográfica. Se não falha nossa informação, deste livro são conhecidos apenas dois ou, quando muito, três exemplares: um, incompleto — pois lhe falta a página de rosto e o preâmbulo na Biblioteca Nacional de Lisboa; outro, na livraria que foi del-rei D. Manuel II e que poderá ser aquele mesmo de que afirma a História da literatura portuguesa ilustrada, de Albino   Forjaz de Sampaio, I, 1929, p. 154, ter sido vendido em leilão, há poucos anos, pelo livreiro Armando Tavares, exemplar que fora da livraria de Joaquim Pereira da Costa.