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mysterion

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  
(...) des Mystères [Mysteria]; j’en sais plus long sur le détail de ces représentations, mais gardons le silence sur le sujet. Hérodote, Histoires, II, 171

Burkert  

Mistério do grego mysterion que significa etimologicamente fechar os olhos ou a boca. Designa originalmente um segredo ou uma realidade a se manter secreta. Refere-se então a práticas e ritos de certas religiões antigas, reservados aos iniciados, os Mistérios (mysteria).

A raiz verbal my(s)- parece estar documentada no grego micênico, possivelmente para a iniciação de um funcionário, mas o contexto e a interpretação não são absolutamente claros. É mais importante notar que a palavra mysteria condiz com um tipo de formação terminológica para a designação de festas, bem estabelecido não só no grego posterior, mas também no micênico. Para os atenienses os Mysteria eram e continuam a ser, uma das grandes festas anuais. Existem poucas indicações arqueológicas e um grande entusiasmo entre os estudiosos em relação aos antecedentes micênicos do culto eleusiano. A palavra mystes, utilizada para designar o iniciado, pertence a um tipo que se viu desenvolver no grego micênico. O verbo myeo, "iniciar" (no passivo, "receber iniciação"), é secundário e na verdade muito menos usado do que mystes e Mysteria. O papel primordial de Elêusis na instituição e designação dos mistérios, portanto, confirma-se mesmo do ponto de vista linguístico. [Walter Burkert, Antigos Cultos de Mistério]


Notions philosophiques  

Termo proveniente do grego mysterion que significa etimologicamente fechar os olhos ou a boca. Distinguem-se quatro níveis de compreensão. A palavra designa originalmente um segredo ou uma realidade tida ou se ter em segredo. Propriamente designa as práticas e os ritos de certas religiões antigas reservadas a iniciados (culto de Eleusis, mais tarde mistério de Serapis, de Attis, de Adonis ou de Mitra). Metaforicamente, exprime um objeto cujo conhecimento é dificilmente acessível e não se revela senão progressivamente. A palavra se aplica enfim à iniciação das doutrinas secretas consideradas como salutares. A exploração da noção de mistério não depende do uso pagão do termo. [Notions philosophiques]


Brisson   & Pradeau  

Il s’agit du Phédon   de Platon  , se rapportant lui-même à la tradition orphique (voir 69c et notes 103, 104, 106 de la traduction de M. Dixsaut, GF-Flammarion, p. 337-338). Socrate   affirme : « À craindre que ce ne soit donc bien le vrai qui, en réalité, constitue une purification à l’égard de toutes les choses de cette sorte : la modération, la justice, le courage et que la pensée, en elle-même, ne soit comme un moyen de purification. Aussi, il se pourrait que ceux qui ont établi à notre intention les rites initiatiques ne soient pas, de fait, des gens négligeables ; mais qu’en réalité, et depuis longtemps, ce soit là le sens de leur formule énigmatique : quiconque arrive dans l’Hadès sans avoir été admis aux Mystères et initié sera couché dans le bourbier ; mais celui qui aura été purifié et initié partagera, une fois arrivé là-bas, la demeure des dieux » (69b8-c6). Plotino - Tratado 1 (I,6) - Sobre o belo (estrutura)


Eudoro

72. Quando Platão falava de filosofia como «iniciação para a morte», referia-se, evidentemente, a uma «iniciação para a vida». Aquele falar era cifra que se decifra só como o dizemos, pondo «vida» no lugar de «morte», só com a reserva de que essa vida resultava de um morrer antes do que é propriamente morte. O filósofo servia-se da linguagem dos «mistérios», apontando para a necessidade de uma «conversão» (metamorfose) como a do prisioneiro da caverna, que dela consegue sair (Platão não diz como, e o silêncio mais confirma que ele recorre efetivamente à exemplaridade dos mistérios: o iniciado não se iniciou a si mesmo). A morte iniciática abre a alma do iniciando para um «lembrar-se do que estava esquecido», que é o lado de dentro do que, do lado de fora, é um «desocultar-se do que estava oculto». Na iniciação platônica parece dizer-se que a morte, em que o iniciando é iniciado, é a morte para a objetividade, liminar para outra vida, que se vive na trans-objetividade, o que se não diz expressamente em Platão, porque, expressamente, isto só pode dizer-se a partir de Kant   — isto mesmo!, partindo de Kant para não mais voltar, ou só voltar quando e porque a inexorável necessidade de viver a vida comum faz que, uma vez e outra, regridamos para o entre-sombras de ideias-símbolos (não seria difícil mostrar, por meio da «participação», que as ideias, acrescidas às coisas, não andariam muito longe do que entendemos por «coisas» acrescidas do seu «ser-origem»). Lástima, que Platão, usando a linguagem dos «mistérios», não visse e não nos mostrasse que, não havendo mistérios sem mistagogo, só lhe ocorresse, como tal, a sua genuína figura mística: Sócrates. É verdade que, pelo menos uma vez (no Banquete  ), o próprio Sócrates se conta entre os iniciados por uma mulher, familiarizado com as «coisas divinas»; mas Platão nunca chega a dizer (exceto no Fedro  , abaixo mencionado) que a iniciação seja, e não pudesse deixar de ser, obra de algum deus, o que, afinal, significa que o conhecimento, por tão alto que ascenda, e que ascende a ponto de se afirmar que a Ideia-das-ideias reside além da essência, isto é, de tudo do que se possa falar adequadamente, é obra humana e só humana. [EudoroMito:159]



VIDE: Mysteria