14. De muitos animais as metamorfoses são visíveis na própria estrutura de seu corpo. Mas nenhum está isento de alterações metamórficas, nem o homem, sobretudo o homem, embora seu corpo dificilmente se compare com o de um batráquio, só para citar um exemplo. Fala-se de infância, adolescência, maturidade e velhice, sem preocupação de saber se há lugar para definir esses estágios da vida humana, como se fossem metamorfoses, e é claro que nunca o faríamos com a mente posta nas formas que assume o corpo de uma rã desde que nasce até que morre. Mas não haverá razão para crer que pelo menos uma metamorfose se dá, no ponto indefinidamente situado em que o adulto, que veio a sê-lo, se despede da criança que foi? Dizer que alguns homens, naturalmente envelhecidos, nunca deixaram de ser crianças, ou que há crianças já adultas há mais tenra idade, não abole aquela diferença, pois, em verdade, a maioria dos homens divide-se em crianças que hão-de ser adultos e adultos que já não são crianças. Fala-se, então, em «desenvolvimento» — mas impropriamente —, pois uma criança desenvolvida, isto é, retirada uma e outra de suas envolturas, mais criança nos parece; assim os adultos. [EudoroMito:101]