Página inicial > Termos e noções > luz

luz

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

gr. φως, φῶς, φώς, phos = luz. O uso da metáfora da luz aparece na tradição filosófica dos pré-socráticos   onde figura a inteligibilidade do ser. Mas é sobretudo Platão   que a explicita em assimilando a Ideia do Bem ao sol.


Plotino  

Passar da potência ao ato, ou seja, ao terminus ad quem, é sair da escuridão para a luz, é revelar o que está latente na alma, pois "a alma possui os objetos, mas não em ato, depostos numa região obscura" (En. I, 2, 4, 22-23). "Para aclará-los e saber que os possui em si, é necessária uma luz que ilumine o que está impresso nela; é necessário que conforme o que nela está impresso com a realidade da qual é a impressão" (En. I, 2, 4,21-25). Que luz é esta a iluminar a escuridão? "É a alma que de alguma maneira (hoion) os toca e ilumina com uma luz dela proveniente e os põe diante dos olhos" (En. IV, 6, 3, 16-18). "Dessarte, por assim dizer (toi hoion), os objetos saem do sono obscuro e se tornam mais claros e passam da potência ao ato" (En. IV, 6, 3, 16). Empregando os termos hoion e toi hoion, Plotino parece demonstrar uma certa tergiversação naquilo que afirma. [Ullmann  ]


Light is not an accidental to something else, requiring therefore to be lodged in a base; nor is it a modification, demanding a base in which the modification occurs: if this were so, it would vanish when the object or substance disappeared; but it does not; it strikes onward; so, too [requiring neither air nor object] it would always have its movement. Enneads IV, 5, 6
This vision sees, by another light, the objects illuminated by the First Principle: setting itself among them, it sees veritably; declining towards the lower Nature, that upon which the light from above rests, it has less of that vision. Passing over the visible and looking to the medium by which it sees, then it holds the Light and the source of Light. Enneads V, 5, 7
La lumière est par essence incorporelle, voir traité 29 (IV, 5), 6 et 7. Plotino - Tratado 1 (I,6) - Sobre o belo (estrutura)
Sorabji  

De muitas maneiras uma física   da viagem dos corpos para a visão seria impossível, como demandado por Alexandre, Galeno, Plotino e Philoponus  . Objeções paralelas foram levantadas por alguns comentadores (não todos) à luz sendo um corpo ou viajante. Mas estas objeções, embora paralelas, foram cooptadas separadamente, posto que à luz não foi normalmente dada a função de levar informação à vista. Para uma exceção parcial no caso da luz das estrelas, vide Philoponus  . [SorabjiPC1:53]


Qumran  

Contraposição entre “luz” e as “trevas”

Qumrân

“ ... O sábio explique a todos os filhos da luz ... Da fonte da verdade e do manancial das trevas a geração da iniquidade. Em mãos do príncipe da luz está a dominação de todos os filhos de justiça. Eles marcham pelos caminhos da luz. Em mãos do anjo das trevas está o domínio sobre os filhos da iniquidade, eles marcham por caminhos tenebrosos ...” (Regra I Qs III, pp.13-14)

São Paulo  

“Foste há algum tempo trevas, mas agora sois luz no Senhor; andais, pois, como filhos da luz. O fruto da luz é todo bondade, justiça e verdade. Buscais aquele que é grato ao Senhor, sem se comunicar com as obras vãs das trevas ...” (Ef 5 e ss.)
 
“O Pai nos livrou do poder das trevas e nos transladou ao Reino do Filho de seu amor ...” (Ts 5, 4-5).

Em 2Cor 11,14, São Paulo diz que o diabo se converte em “anjo da luz”; e em Ef 6,12 fala dos “dominadores desse tenebroso mundo” e “anjo das trevas”. Também fala do “poder das trevas”, aludindo ao poder diabólico.(Lc   22,53; Col1.13). Estas denominações são correntes nos livros apócrifos judaicos, aparte dos escritos de Qumrân. Os relatos bíblicos estão montados como um drama, no que pulsa um dualismo moral ou pugna de duas forças antagônicas, tal como se encena no capítulo terceiro do Gênesis: a serpente representa o espírito anti-Deus, que instiga ao homem a ultrapassar os limites que impõe a lei divina em sua qualidade de criatura. e um poder satânico trata desde então de desfazer a obra de Deus. Por outro lado, o símile da “luz” e das “trevas” contrapostos na ordem moral surge espontâneo, já que o diabo habita nas regiões tenebrosas, fugindo da “ luz” , que desmascara suas atividades turvas. E no “Testamento de Levi” se lê: “Elege entre a luz e as trevas” (Test.Levi 19,1). Segundo Jo 12,46, Jesus declara enfaticamente: “Vim como luz do mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas”. Por isso o evangelista disse de Cristo que é “a luz que brilha nas trevas, mas as trevas não o abraçaram” (Jo 1,5). Neste suposto, São João desenvolve o símile da luz e das trevas na ordem moral e espiritual de modo seguinte:

“Esta é a mensagem que d’ Ele ouvimos e vos anunciamos: que Deus é luz e que n’ Ele não há treva alguma. Se disséssemos que vivemos em comunhão com Ele e andamos nas trevas, mentiríamos e não obraríamos segundo a verdade. Mas, se andamos na luz, como Ele está na luz, então estamos em comunhão uns com os outros ...” (1Jo 1, 5-7)
 
“As trevas passam e aparece então a luz verdadeira. O que disse que está na luz e incomoda seu irmão, este está ainda nas trevas. O que ama seu irmão está na luz ... O que incomoda seu irmão está nas trevas ... ” (1Jo 2, 8-11)

Jesus se apresenta como a “luz do mundo” (Jo 8,12), mas “os homens amaram mais as trevas que a luz, porque suas obras eram más. Porque todo aquele que obra mal incomoda a luz ... Porque o que obra a verdade vem para a luz ... pois está em Deus” (Jo 3,19-21). A luz é sinônimo da verdade, e as trevas equivale a mentira. Estas contraposições morais são correntes na literatura judaica e gnóstica. Em Qumran se contrapõe a “verdade” e a “perversão”, que equivale a obrar mal, em quanto obra caliginosamente, nas trevas. O que tem consciência tranquila, busca a luz, enquanto que o que obra avessamente, busca a obscuridade. É uma relação conceitual muito normal; e não é necessário buscar dependências diretas de uns textos a outros. São Paulo joga com conceitos análogos, contrapondo a situação de pecado e de justificação:

“Fostes algum tempo trevas, mas agora sois luz no Senhor; andais, pois, como filhos da luz. O fruto da luz é todo bondade, justiça e verdade ... Buscais aquele que é grato ao Senhor, sem se comunicar com as obras vãs das trevas” (Ef 5,6).
 
“Quanto à vós, irmãos, não vivais nas trevas, para que esse dia não os surpreenda como ladrão, porque todos são filhos da luz e filhos do dia; não sois filhos da noite nem das trevas” (Ts 5, 4-5).

[Bíblia   y legado del Oriente, el entorno cultural de la historia de salvación, M. Garcia Cordero, Biblioteca de Autores Cristianos, BAC serie normal 390, Madrid, xxiii, 1977, 711 p., ISBN: 84-220-0809-2. Contribuição e tradução de Antonio Carneiro   das páginas 686 e 688]



LÉXICO: luz; aclaração; iluminação; iluminismo; ilustração