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precariedade

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

«A excelência é uma certa forma de completude» [F, 246a13]. «No preciso momento em que um determinado ente se torna excelente, dizemos que cada coisa se torna completa» [1]. A precariedade perversiva é, por outro lado, «a excentração destruidora de qualquer ente» [F, 246a16-17]. «Nós dizemos que todas as excelências acontecem segundo o modo de constituição de um relacionamento com um determinado sentido» [F, 246b3-4]. Tanto a excelência como a perversão são modos de ser [F, 246b8]. A maneira de estar do corpo, por exemplo, é o que determina a sua situação excelente ou o seu mau estado. A saúde e a boa disposição ou a doença e a má forma caracterizam o modo como o corpo está.

As excelências e as precariedades perversivas dispõem bem ou mal aquele que as detém, conforme o modo de relacionamento com as afetações que lhe sucedem [F, 246b9]; é das afetações domiciliadas em cada coisa que depende naturalmente o passar a ser ou o deixar de ser de uma determinada natureza [F, 246b9-10]. O passar mal do corpo, por causa de determinadas afetações que lhe são peculiares, é o que o destrói ou o que o conserva ou volta a restabelecer naturalmente a sua natureza. Enquanto a excelência torna o que a detém inafetável ou afetável de uma boa maneira, a precariedade perversiva torna o que a detém afetável ou insensível de uma forma contrária à que é boa [F, 246M9-20].

O mesmo se passa a respeito das disposições da existência. Todas elas se constituem no que toca ao modo como nos comportamos relativamente a determinados acontecimentos patológicos que dizem intimamente respeito à natureza da existência humana. Enquanto as excelências são completudes da existência humana, as precariedades perversivas são excentrações que a põem fora de si, expropriando-a da possibilidade de se manter num equilíbrio natural, que a perverte na possibilidade de se tornar e desenvolver de acordo com as suas potencialidades. A excelência é o que faz a existência (ψυχή) relacionar-se bem com todas as suas afetações, e a perversão o que a faz dispor mal [F, 247a1-3], pervertendo-a [F, 247a3-4].


instabilidade

Observações

[1Quando um ente toma a sua excelência torna-se nessa altura completo (F, 246a13-14).