A forma de cancelamento do olhar epistémico não é só provocada pela adversidade (συμφορά) que é patologicamente caracterizada como sofrimento (λύπη). Também o prazer (ἡδονή) constitui uma forma de afetação. Tanto a depressão (λύπη) como o prazer (ἡδονή), por serem formas de afetação, ultrapassam tanto a nossa compreensão como o nosso domínio. A análise dos afetos (πάθη) prazer-depressão (ἡδονή-λύπη) implica a compreensão da sua presença como desvirtuação global de todo o sentido, como perversões da potenciação da nossa existência. A pergunta pela excelência (ἀρετή) resulta da presença da perversão impossibilitante (κακία) como forma de impedimento, concretizada tanto na depressão (λύπη) como no prazer (ἡδονή), e visa obter o sentido (λόγος) que permite dar sentido à situação pela qual se está a passar. Os limites «lógicos» excelência-perversão (ἀρετή-κακία) têm de ser diferenciáveis dos limites patológicos prazer-depressão (ἡδονή-λύπη) e das movimentações que nos obrigam a fazer, tendo em vista o cumprimento (τέλος) que movimenta a vida humana. Só assim nos podemos expor ao sentido convocado de uma nova possibilidade de vida e de uma verdadeira possibilidade de escolha obtida e determinada por nós. Só assim se constitui uma situação (πρᾶξις) no verdadeiro sentido do termo, na medida em que ultrapassamos o horizonte patológico e inquirimos acerca das suas mais diversas manifestações para além das movimentações que originariamente somos obrigados a esboçar, fuga (φυγή) à depressão (λύπη) e perseguição (δίωξις) do prazer (ἡδονή). [CaeiroArete:142-143]