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sonho

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

A imaginação é a faculdade, a capacidade, a virtualidade do imaginário; e o imaginário é o possesso tecedor de imagens; e as imagens são «lugares», «pontos de encontro», «centros coloquiais» de coisas afins e confins, que uma pseudo-realidade separou. Só nos sonhos elas se encontram e convivem por instantes que valem eternidades. Mas que importam os sonhos para quem já não pode crer em que os deuses no-los enviem, como sinais de via aberta para livre-trânsito? Presumivelmente o trânsito se fechará a [143] poucos passos andados à superfície do que abusivamente se chama «realidade». Que importa? Pior para a «realidade»! Muito pior ainda para uma realidade que é sempre a dos outros. Mas o pior de tudo, para os outros, pode ser o melhor de tudo para mim. [EudoroMito:143-144]


O artigo 26 [das "Paixões da Alma" de Descartes  ] que desenvolve uma problemática pré-científica em conformidade com a tese geral do Tratado, a saber, a ação do corpo sobre a alma por intermédio dos nervos ou dos espíritos animais, embora se encontrando, desse modo, nos antípodas da redução, volta a considerá-la bruscamente. Evoca-se, mais uma vez, a situação do sono do mesmo modo que a da vigília de tal modo que nada permite dissociar radicalmente uma da outra. Aquilo que aquele que dorme ou está acordado pensa ver ou sentir, por exemplo, em seu corpo, anula-se quando o sentir e o ver são recusados novamente em sua pretensão de alcançar a verdade, expulsos para fora de sua esfera, ao passo que o sentir a si mesmo, a afetividade originária em geral e todas as suas modalidades se encontram marcadas subitamente pelo selo do absoluto. Elas se revelam na substancialidade de sua fenomenalidade própria, em sua afetividade e por ela, como são em si mesmas, e ilusão alguma tem poder contra elas. “Assim não raro quando se dorme, e mesmo algumas vezes quando se está acordado, imagina-se tão fortemente certas coisas que se pensa ver diante de si ou sentir em seu corpo, embora elas não estejam presentes de modo algum; mas ainda que se esteja dormindo ou sonhando, não poderia sentir-se triste ou emocionado por alguma paixão, se não fosse muito certo que alma traz em si essa paixão.” Assim, a oposição crucial, no que diz respeito à questão da verdade do videor e do videre, repete-se, em uma fenomenologia material, determinada e fundada pelo conteúdo fenomenológico dos modos fundamentais do aparecer, pela substancialidade da fenomenalidade pura [69] que é circunscrita cada vez, apresentando-se, desde então, a Descartes como sendo a da paixão e a da percepção: “pode-se... estar enganado quanto às percepções que se referem aos objetos que estão fora de nós, ou ainda quanto àquelas que se referem a algumas partes de nosso corpo, mas... não se pode estar enganado do mesmo modo quanto às paixões, posto que elas são tão próximas e tão interiores à nossa alma que é impossível que as sinta sem que sejam verdadeiramente tais como as sente” [FA, III, p. 973; AT, XI, 349].
LÉXICO: sonho