Página inicial > Termos e noções > inefável

inefável

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  
Fílon  

« Celui qui croit que Dieu possède une qualité quelconque, et n’est pas l’Un, nuit non pas à Dieu, mais à lui-même. » [Jules Castier]


"He who thinks that God has any quality and is not the One, injures not God, but himself." [tr. Aldous Huxley  ]
Lilian Silburn  

A Essência única é não somente incomparável, mas inconhecível e portanto indizível.

Dionísio, Ruysbroeck  , Al-Hallaj   se fazem eco deste testemunho, cada um em uma tonalidade que o caracteriza:

Se a Deidade supera todo raciocínio e todo conhecimento, absolutamente superior à inteligência e à essência, abarcando todas as coisas e as reunindo, as compreendendo e as antecipando, mas ela mesma inacessível a todas apreensões, se exclui sensação e imagem e opinião e raciocínio e contato e ciência, como poderemos discutir seriamente nomes que convêm às realidades divinas tendo então mostrado que a Deidade supra-essencial escapa a toda expressão e transcende todo nome?

«Esta luz simples da essência é infinita, imensa e sem modo», diz Ruysbroeck, e ainda: «Nesta simplicidade toda pura da essência divina não existe nem conhecimento, nem desejo, nem atividade; pois está aí um abismo sem modo onde jamais alcança qualquer compreensão ativa».

Al-Hallaj com sua intransigência costumeira, dizia de Deus: «Nada se mistura com Ele e ninguém não se mistura a Ele... Nenhum pensamento O aprecia, nenhuma ideia O figura nenhum olhar O alcança...»

E ele recomendava: «Meu filho guarda teu coração de pensar nEle, e tua língua de citá-lO; emprega-os ao invés a O agradecer sem cessar. Pois, pensar em Sua Essência, imaginar Seus atributos, proclamar Sua Existência, são ao mesmo tempo erro imenso e orgulho desmesurado».

Jili   falando a Essência, explica porque ela escapa à razão.

Não se A concebe logo por qualquer ideia racional, também não se A compreende por qualquer alusão convencional; pois não se compreende uma coisa senão por conta de uma relação que lhe designa uma posição, ou por uma negação, logo por seu contrário; ora, não há, em toda existência, nenhuma relação que «situa» a Essência, nem nenhuma designação que se aplica a Ela, logo nada que possa negá-la e naque Lhe seja contrário. Ela é, para a linguagem, com se Ela não existisse, e sob esta relação Ela se recusa ao entendimento humano.

Ao contrário, a evidência reside unicamente no conhecimento imediato e indiferenciado, em que consiste precisamente «a percepção da Essência por Ela mesma».

A Essência é portanto inconhecível mas paradoxalmente, constata Jili, «é impossível ignorá-la»:

Aprendi tudo, global e distintamente
De Tua Essência, ó Tu, em Quem se unem as Qualidades?
Ou é que Tua Face é tão sublime para que Sua natureza possa ser apreendida?
Logo apreendo que Sua Essência não pode ser apreendida.
Longe de Ti que alguém Te sonde, e longe de Ti
Que alguém Te ignore, — ó perplexidade.

Como a razão prosseguirá seu caminho face à evidência? O conhecimento distintivo conduz a uma certeza de ordem intelectual, não à evidência.

Cabe aos xivaítas de Caxemira serem claros a este respeito. Com aquela simplicidade enunciam que a Consciência, evidente por si, em si, é para ela mesma sua própria prova.

Nenhum meio ou critério de conhecimento não pode revelá-la: longe de demonstrar sua existência, estes meios dependem da consciência e, sem ela, nada são. Pôr em dúvida a Consciência, é assumir tacitamente sua validade. Kshemaraja, glosando assim as sutras de Shiva, cita o exemplo seguinte, tirado de um antigo tratado, para mostrar que a consciência se afirma no esforço mesmo que faz para se negar:

«A energia consciente de Shiva é semelhante a um homem que se esforça por saltar com seus pés por cima da sombra de sua cabeça, ao passo que (a sombra) de sua cabeça já não se encontra mais aí onde seus pés estavam postos». [ACESSO AO SEM ACESSO]


Plotino  

“L’emploi et le gout des images chez Plotin ont sans doute leur raison dans le caractère même de sa doctrine; les réalités suprêmes, vers lesquelles il conduit l’âme, l’Un et l’Intelligence, ne peuvent être connues que par une intuition immédiate et un contact ineffable; ce sont proprement des réalités inexprimables. Le langage ne peut donc s’en rapprocher qu’en employant des images” (PLOTIN, Enneades, v. I. Texte établi et traduit par Émile BRÉHIER, Introduction. Cinquième tirage, (Paris, 1989), p. XXXV).


Um exame das passagens, nas quais Plotino afirma a insuficiência da língua para compreender o Uno, demonstra uma constante conexão dessa noção com o recurso àquelas fórmulas platônicas que, conforme sua convicção, referem-se à primeira hipóstase.

São os seguintes: (1) ἕν; (2) οὐδ’ ὂνομα αὐτοῦ: ambos de Parmênides   (2 = Parmenides, 142 a3); (3) οὐ ῥητόν na Carta VII  , 341 c5; (4) ἀγαθόν e (5) ἀγαθόν, ambos da analogia solar (5 = 509 b9); (6) tò μόνον καὶ ἔρημον, em Filebo  , 63 b7; (7) ἑστήξεται segundo o Sofista  , 249a2; (8) δέον καὶ καιρόν, no Político, 284e6-7. Plotino relaciona à segunda hipóstase, entre outros, (9) êv πολλά em Parmênides, 144e5 e (10) ö εστιν ζίρον, em Timen, 39e. No panorama a seguir, os respectivos textos não podiam ser anotados, por falta de espaço; depois da citação que se refere à linguagem indireta, segue o número da fórmula platônica aduzida conforme a lista oferecida acima; a seguir, após os dois pontos, segue-se a linha no mesmo capítulo (respectivamente capítulo e linha no mesmo tratado) onde essa fórmula aparece: II 9, 1, 7, antes (1) e (4): 1-3; V 3, 13, 1-6 e 14, 8-14 com (5), (2), também (6): 13, 32, além disso (5) e (9): 15, 9-11; V 4, 1, 8-10 com (2) e (5); V 5, 6, 9-13 com (5) e (2), antes alusão ao Crátilo  , 401c: 5, 24; em VI 2, 21, trata-se da dificuldade de denominar o Noûs, finalmente (10): 57; VI 7, 30, 25-29, a pobreza da linguagem é justificada em Filebo, 61 d 1 -2; VI 7, 35-28, antes o Noûs “embriagado”, cf. Banquete  , 203b5, antes e depois νοετὸς τόπος e μακαρία θέα, da República   e do Fedro  ; VI 7, 39, 29-34 com (7); VI 7, 40, 4, depois (5) e (6): 26-28; VI 8, 8, 4, depois Parmênides, 141 e12 e (2): 14; VI 8, 13, 47-50, onde ἐνδείξεως ἕνεκα alude provavelmente à Carta VII, 341 e2; VI 8, 18, 53, antes (8): 44; VI 9, 4, 1-2 e 11 com (2) e (3), antes Banquete, 211 b31 e Parmênides 142 a2: 3.43 e 51 s.; VI 9, 5, 31 corresponde a (2). A metáfora onipresente da ascensão e a linguagem “erótica” (Fedro, Banquete), sem as quais Plotino não podería explicar a relação do homem com o Princípio, não necessitam ser documentadas especificamente. Por duas vezes, Plotino aponta, no contexto da inefabilidade do Uno, para formulações não platônicas: ao termo aristotélico ενέργεια em VI 7, 13, 1-5 e, após várias alusões a Platão   (cf. acima), ao “pitagórico” Ἀ-πόλλον, em V 5, 6, 24s. [SzlezakPlotino  :50]



LÉXICO: inefável