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alma total

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Do poder criador da Inteligência ou Noûs procede a terceira hipóstase – a Alma do mundo (hen kai polla). Contemplando o Uno, o Noûs gera a Alma do mundo. Esta, contemplando o Noûs, multiplica-se em todos os entes particulares do mundo sensível, sem dividir-se. A par da Alma do mundo, existem as almas individuais. Na Alma estão as matrizes (logoi spermatikoi) de todos os entes, semelhando uma coincidentia oppositorum. Por isso, ela é hen kai polla. Dela procedem as almas e todas as formas dos seres sensíveis, ab aeterno [1], desde a planta até ao homem, tudo constituindo uma admirável harmonia e beleza. Logo, a Alma tem a função de organizar e governar o mundo sensível. A maneira dos estoicos, Plotino   professa que tudo forma uma sympetheia ton holon, uma harmonia universal [Cf. En. IV, 4, 41]. A ordem do todo não sofre desfiguramento pelo mal: “É absurdo queixar-se das partes, com relação ao todo; as partes devem ser examinadas com relação ao todo, para ver se elas lhe convêm e lhe estão ajustadas; é mister ver o conjunto, sem dar importância aos mínimos detalhes” [En. III, 2, 3. 9-13].

Olhar apenas as partes “seria como alguém considerar de um animal inteiro somente um pelo (cabelo) ou um dedo dos pés, ou descurar a totalidade do homem que é um espetáculo divino” [En. III, 2, 3, 14-16].

A fim de preencher sua função organizadora, deve a Alma ter contemplado a organização inteligível no Intelecto (Noûs) transcendente. Se o Noûs é noesis noeseos, a Alma universal, ao contrário, desenvolve o seu pensamento em forma discursiva.

A Alma está em relação com o Intelecto assim como este está em relação com o Uno. Na base de tudo está sempre a contemplação. Por conseguinte, logramos dizer que a Alma é o logos do Intelecto ou seu resplendor – phos ek photos [En. IV, 3, 17, 13-14].

Desejoso de explicar as hipóstases, Plotino, uma vez mais, vale-se de comparações: se o Uno é visto como a fonte primigênia da luz, o Intelecto, que vem após ele e que é inteiramente luminoso, pode ser comparado com o sol, e a Alma, que recebe a luz do Intelecto, é comparável à lua [Cf. En. V, 6, 4, 14-16]. A partir dessa imagem, o licopolitano assevera que a Alma, em permanente inquietude [En. III, 7, 11,20-21], aspira a algo que lhe falta, a algo transcendente, ou seja, ao Intelecto o qual está plenamente satisfeito consigo, contemplando em si mesmo os inteligíveis. Dessarte, ela se apressa em organizar o universo [Cf. En. IV, 7, 13,2-8], voltando-se, pela theoria, à segunda hipóstase.

A Alma representa a terceira e última das hipóstases, o terceiro círculo luminoso além do qual só existe a obscuridade da matéria do mundo sensível [Cf. En. V, 1, 10, 1-4]. [Ullmann  :27-28]


L’âme divine ou totale est celle que les commentateurs contemporains ont pris l’habitude de désigner comme « l’Âme hypostase ». De cette âme qui est unique et qui reste unique, viennent toutes les autres âmes, aussi bien l’âme du monde que toutes les âmes particulières. Jusqu’à un certain point, ces âmes restent unies, ne formant qu’une seule âme, avant de se projeter ici ou là, à la façon d’une lumière qui, lorsqu’elle arrive sur terre, se répartit sans se diviser.

La difficulté majeure d’une telle doctrine apparaît lorsqu’il s’agit de rendre compte de l’unité et de la multiplicité des âmes, qui doivent conserver leur identité et leur altérité, chacune restant une et toutes ne faisant qu’une en même temps. Les âmes particulières ne divisent pas entre elles l’âme unique, car étant incorporelles elles échappent au mode de division des corps ; la puissance divine ou totale, qui est unique, se retrouve dans n’importe laquelle des âmes particulières. Il convient de distinguer dans le cas de l’âme deux sortes de descente : une première descente, nécessaire d’un point de vue ontologique, quand l’âme se lie à un corps, puis les descentes que l’âme effectue, lorsqu’elle se tourne volontairement vers les corps plutôt que vers l’Intellect. Lors de ces descentes, la volonté de l’âme se manifeste, et c’est aussi bien, à son niveau, la responsabilité de l’homme qui se trouve engagée. Le premier type de descente est celui de l’âme du monde, le second, celui des âmes particulières. [BPT27-29  :27-28]


LÉXICO: HIPÓSTASE

Observações

[1“(...) nós afirmamos que o mundo existe sempre e não há um momento em que não existiu (...)” (En. III, 2, 1, 20-21).