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teofania

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

85. Estas últimas palavras [«o Deus aparece no seu ser, que o subtrai a todo o confronto com o que é presente» (Heidegger  )] fazem-nos pensar, dão-nos o que pensar, dão-nos até o que repensar acerca do que já pensávamos antes de chegar a este ponto. Com efeito, se o ser do Deus se «subtrai [173] a todo o confronto com o que é presente», e se «o que é presente» é presença do conteúdo e da forma de qualquer mensagem ou de todas as mensagens, dir-se-ia que a ontofania é teocriptia. Mas não se diria o mesmo, não haveria que dizer o mesmo, do aceno dos deuses acenantes? Se o aceno acena para o símbolo arquetípico, e se ele não é o deus acenante, no acenado se oculta o acenante, e também por aqui se vê que Heidegger tinha bons motivos para se referir a um «oculto reinar» dos deuses acenantes — em suma, voltamos a nos encontrar com a mesma ontofania teocríptica. De modo que o mito só indiretamente nos falaria dos deuses; do que ele fala diretamente é do aparecer de um mundo com seus homens e de uns homens com seu mundo. Porém, como negar que o mito fala dos deuses e deles fala como autores de uma ou outra diacosmese? Como dizer do mito, que ele seja teocríptico, enquanto ontofânico? Não parecerá que o mais verdadeiro é o inverso? Que o mito seja linguagem de teofania? Ou entramos nós, desprecavidos, num beco sem saída? Antes de prosseguir, advirtamo-nos de que não se está, de modo nenhum, expondo o já pensado; mas, sim, expondo o próprio pensar enquanto se pensa. Não nos desgarremos do que parece mais certo: «o ser de Deus subtrai (o Deus) a todo o confronto com o que é presente» só pode significar que o Deus se oculta no que manifesta por mensagens de que os deuses são mensageiros, enquanto acenam para o ser do homem e do mundo, sem que seja necessário despedir a possibilidade de os acenos também acenarem para os acenantes e, por conseguinte, que as mensagens e os mensageiros das mensagens também apontem para Quem as expede. O que, em suma, igualmente leva a pensar que teofania e ontofania, teocriptia e ontocriptia, dependem, de cada vez, uma da outra. Isto não está claro. Queremos dizer: se ontofania é teocriptia, isso significa que a ausência dos deuses acenantes se revela como presença dos entes acenados, que há um modo de estes se apresentarem, que equivale ou corresponde ao modo de aqueles se ausentarem. Em todo o caso, a identidade da ontofania com a teocriptia sugere que a presença do acenado só é pensável como ausência do acenante — o que não se dá com «coisa» nenhuma: a presença de uma coisa é só presença dela; não, ausência de outra, «sentida» na mesma presença. E o mesmo se diria quanto às mensagens portadas pelos mensageiros da Divindade: na presença das mensagens «lê-se» a ausência do Expediente das mensagens. Quem pensa em ausência não pensa na inexistência; pensa em existência certa de um ausente que poderia estar presente. Donde se segue que dizer [174] «ontofania é teocriptia», o assim predicar a ontofania, equivale a dizer: «o mundo (com os homens que lhe pertencem) não existe senão porque um deus existe». Que este se oculte por desocultação daquele, volve-se em expectativa de que a ocultação deste desoculte aquele. Cosmogonia (com sua antropogonia) corre ao invés de uma escatologia apocalíptica. Pelo que se poderia inverter a primeira proposição: ontocriptia é teofania. [EudoroMito:173-175]


LÉXICO: teofania