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religião

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

O aspecto importante dessas considerações no que tange à compreensão dos fenômenos e sua incidência sobre o fato cultural assenta na eventualidade de que segundo as ideias acima desenvolvidas o homem não pode ser posto como uma natureza indelével ou um ponto fixo diante das hierofanias históricas [164] do divino. Não seria portanto legítimo interpretar a instância mítico-religiosa a partir das aspirações fixas ou pretensamente naturais da alma humana, ou ainda de qualquer fundo psicológico julgado invariável.

A primordialidade do fenômeno religioso na definição e configuração do personagem histórico-cultural parece constituir a formulação especulativamente mais legítima dos fatos. É a tese que encontramos exposta por Hegel em suas Lições sobre a Filosofia da Religião: “Da mesma forma que o conteúdo divino se determina, determina-se o outro polo do espírito subjetivo-humano que possui esse conhecimento. O princípio segundo o qual Deus se determina para os homens, é também o princípio que determina o homem em seu espírito. Um deus perverso, um deus da Natureza, tem por correlato homens maus, sensoriais, não-livres; o puro conceito de Deus, o Deus espiritual tem por correlato o espírito livre e incorpóreo e realmente consciente de Deus. A representação que o homem possui de Deus corresponde à que possui de si mesmo, de sua liberdade”. [G. W. F. Hegel, Die Naturreligion: Vorlesungen uber die Philosophie der Religion: zweiter Teil ertes Kapitel, hrsg. Leipzig, Lasson, p. 7.] Jamais encontraria qualquer fundamento filosófico a tentativa de reduzir as formações mítico-religiosas e a pura instância do divino a presumidas projeções de substratos psíquicos ou antropológicos, substratos considerados independentes ou causalmente determinantes. Com Karl Kerényi   contestamos a validez de qualquer tentativa de construir a esfera mítico-religiosa a partir de extratos psicológicos, de derivar o mítico do não-mítico, assim como, em geral, a ontologia moderna veda   a passagem do não-vivo, do não-psíquico para o psíquico e assim por diante. [VFSTM  :164-165]


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