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pensamento

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

[...] o pensamento, longe de ser um fenômeno simples, é um complexo de elementos organizados entre si de acordo com regras fixas. Chamamos esses elementos de “conceitos”, e as regras, de “lógica”. O pensamento é uma organização lógica de conceitos.

Descobriremos, em segundo lugar, que o pensamento é um processo, e isso em dois sentidos. No primeiro sentido o pensamento é um processo que corre em busca de sua própria completação. Podemos conceber pensamentos interrompidos e, portanto, incompletos. O pensamento é um processo em busca de uma forma (Gestalt), é um processo estético. Alcançada essa forma, o pensamento adquire uma aura vivencial de satisfação, um clima de obra de arte completa e perfeita. Essa aura se chama “significado”. O pensamento completo é significante. No segundo sentido é o pensamento um processo autorreprodutivo. Gera automaticamente um novo pensamento. Podemos distinguir cadeias de pensamentos, dentro das quais os pensamentos individuais formam elos. Essas cadeias estão unidas entre si como que por ganchos para formar o tecido do pensamento, no qual as cadeias de pensamento formam os fios. Um pensamento individual, embora completo esteticamente por ser significante, é, não obstante, carregado de um dinamismo interno que o impede de repousar sobre si mesmo. Esse dinamismo inerente do pensamento se manifesta numa tendência do pensamento a superar-se a si mesmo, abandonando-se nessa superação. Esse abandono do pensamento por si mesmo pode assumir diversas formas, mas aquela que conduz à formação de novos pensamentos, portanto a única que interessa no presente contexto, é, ela também, chamada “lógica”. A lógica é, portanto, um conceito ambivalente. É o conjunto das regras de acordo com as quais o pensamento se completa, e é, ainda, o conjunto das regras de acordo com as quais o pensamento se multiplica. [Excerto de FLUSSER  , Vilém. Da dúvida. São Paulo  : É Realizações, 2018, p. 32-34]


A dissociação fenomenológica estrutural do videor e do videre é o arcabouço teórico prévio indispensável ao debate clássico no que diz respeito ao que, na filosofia de Descartes  , convém entender por pensamento. Encontramos, como se sabe, duas definições do conceito de pensamento na Segunda Meditação, uma formulada pela essência, outra pela enumeração dos modos: I) “Eu não estou, por conseguinte, precisamente dizendo que alguma coisa que pensa, isto é, um espírito, um entendimento, ou uma razão, sejam termos cuja significação me era antes desconhecida” [1]. II) “Mas o que eu sou então? Uma coisa que pensa. O que é uma coisa que pensa? Significa uma coisa que duvida, que concebe, que afirma, que nega, que quer, que não quer, que imagina também e que sente” [2]. A primeira definição deveria ser suficiente a ponto de tornar a segunda supérflua. No que diz respeito ao nosso ser mais essencial, Descartes, rejeitando tanto as concepções tradicionais quanto o saber antropológico ingênuo, concepções e saber marcados pelo seu caráter acumulativo, marcados pela confusão e a não elaboração de sua problemática – Descartes visa, pois, de imediato, a constituição de uma eidética atendo-se a uma essência fenomenológica, que consiste justamente na essência da própria fenomenalidade. Ela se encontra definida como mens, animus, intellectus e ratio. Mas o que querem dizer esses termos? [MHPsique:72]
LÉXICO: pensamento

HEIDEGGER: denken / pensar / penser / think / Denk-würdigen / digno de ser pensado / digno de pensar / erdenken / erdichten / inventer / forger / Nachdenken / reflexão / rechnende Denken / pensamento calculador / Andenken / remémoration / rememoração / anfängliche Denken / pensar inicial / inceptual thinking / gedanken-los / carentes de pensamentos / sem-pensamentos / Gedankenlosigkeit / carência de pensamentos / ausência-de-pensamentos / gedanken-arm / pobres de pensamento / pobres-em-pensamento / Gedanke-flucht / fuga-aos-pensamentos / Bedenkliche / grave / pensable / Bedenklichste / gravíssimo / ce qui donne le plus à penser

Observações

[1FA, II, p. 419; AT, XI, p. 21; “... sum igitur praecise tantum res cogitans, id est mens, sive animus, sive intellectus, sive ratio, voces mihi prius significationis ignotae”. (FA, II, p. 184-185; AT, VII, p. 27.)

[2FA, II, p. 420-421; AT, IX, p. 22; “Sed quid igitur sum? Res cogitans, quid est hoc? nempe dubitans, intelligens, affirmans, negans, volens, nolens, imaginans quoque et sentiens” (FA, II, p. 185-186; AT, VIII, p. 28).