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quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Quanto a palavra imagem, devemos pensar na reprodução de alguma coisa. Um Weltbild seria portanto como um quadro do ente em sua totalidade. No entanto, Weltbild diz mais. Pois assim entendemos o Mundo (Welt) ele mesmo, o ente em sua totalidade, assim como nos impõem suas diversas ordens de medidas. Imagem (Bild) designa, por conseguinte, não um simples decalque, mas o que se faz entender na forma alemã: Wir sind über etwas im Bilde (literalmente: “somos quanto a qualquer coisa, na imagem”, ou seja, “somos ou estamos no fato desta coisa”). (…) Fazer a ideia de alguma coisa de maneira a ser fixada, é portanto pôr o ente ele mesmo diante de si para ver de que se trata, e tendo assim o fixado, o manter constantemente nesta representação. (…) Lá onde o Mundo se torna imagem concebida (Bild), a totalidade do ente é compreendida e fixada como aquilo sobre o qual o homem pode se orientar, como aquilo que ele quer por conseguinte levar e ter diante de si, aspirando assim a pará-lo, em um sentido decisivo, em uma representação. Weltbild, o mundo na medida de uma “concepção”, não significa portanto uma ideia do mundo, mas o mundo ele-mesmo apreendido como aquilo que se pode “ter-ideia”. O ente em sua totalidade é portanto tomado agora de tal maneira que ele é só e verdadeiramente ente na medida em que é parado e fixado pelo homem na representação e na produção. (…) O ser do ente é agora buscado e descoberto no ser-representado do ente. (Heidegger  , 1949/1962 (GA5), pág. 117)


Lembremos ainda que, graças à teoria da luz e do olho, Kepler distinguira imagem (imago) e figura (pictura), considerando a primeira “de grandeza diversa e proporção inadequada em relação à figura”, esta sendo a realidade material e externa apreendida pela mente a partir da pictura projetada no fundo do olho. Em outras palavras, a imagem é produto da visão segundo as cores, a posição, a distância e a força do objeto visto; a figura, produto geométrico da luz que, em si mesma, é geométrica. No escólio da proposição 17 da Parte II da Ética, Espinosa   chama “imagens das coisas as afecções do corpo humano cujas ideias representam os corpos externos tais como se oferecem a nós, mas sem reproduzir a figura das coisas”, e, quando a mente contempla os corpos dessa maneira, “diremos que imagina”. Ora, conclui o filósofo, se a mente soubesse que quando percebe as coisas dessa maneira está a imaginar, reconheceria que a imaginação é uma virtude e não um vício de sua natureza, pois a imagem enquanto imagem nada contém de falso. Em suma, como Kepler, Espinosa afirma a necessidade, naturalidade e verdade da imago qua imago, desde que a mente não a confunda com a idea, confusão que é causa do erro e do falso. A imagem representa os corpos externos segundo as disposições de nosso corpo ao ser afetado por eles; a ideia conhece a essência singular de seu ideado porque nossa mente, por sua própria força interna, a produz ou concebe. A imagem indica a potência do olho, a força ou virtude do imaginar; a ideia exprime a irradiação da luz, o verdadeiro que se manifesta a si mesmo. O primeiro é especular (replicatio); a segunda, especulativa (explicatio). Mas não só isso. Havíamos salientado que Espinosa é polidor de lentes e que foi pelo exame das distorções visuais (astigmatismo e miopia, sobretudo) que Kepler, examinando o dióptrico esférico, chegou à ideia da refração interna do raio luminoso e à nova teoria da visão em que as lentes se tornam instrumentos capazes de corrigir a atividade do instrumento natural, o olho. Onde estão as lentes espinosanas? Não estão apenas em microscópios e telescópios talvez perdidos para sempre. Suas lentes perenes encontram-se naquele instrumento que, assegura o Tratado da emenda do intelecto, nos conduz de nossos instrumentos inatos (a potência para formar ideias imaginativas e intelectivas) ao “cimo da sabedoria”, graças a seu aperfeiçoamento imanente ou no correr de seu próprio exercício: a teoria da definição perfeita. A definição perfeita, aquela que oferece a essência íntima da coisa e a causa interna de sua geração, é a lente que o intelecto fabrica para ver e fazer ver. Que a definição perfeita seja de natureza geométrica e seu objeto sejam “entes físicos reais” é uma exigência necessária, pois sua origem é a óptica físico-geométrica, nascida com Kepler. [CHAUl, Marilena. A Nervura do Real. Imanência e liberdade em Espinosa. São Paulo   : Companhia das Letras, 1999, p. 58]

LÉXICO: imagem

HEIDEGGER: imaginação / fantasia / imagination / phantasie / phantasy / φαντασία