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deus

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  
Eudoro

Ponto de partida, eleito entre todos os elegíveis, pode ser este: «um deus é um aspecto do mundo» (fórmula breve, em que «mundo» é ele mesmo com o homem que nele habita). Hesito, porém, em aceitar como adequada a determinação «aspecto do mundo». Aspecto é uma figura em que mundo se nos afigura, quando o olhamos de certo ponto de vista. Determinante seria, pois, o ponto do qual, em se olhando, o mundo se faz presença de um deus. De que ponto de vista se nos aparecerá o mundo como presença de Dioniso ou Apolo, Deméter ou Atena, Zeus ou Plutão, Afrodite ou Ártemis, e assim por diante? Pelo menos, é assim que se diz, quando dizer se queira que uma coisa se nos apresenta sob aspectos diferentes. Mas a ninguém ocorrerá afirmar que uma coisa «virou» outra de cada vez que mude o aspecto por simples mudança de aspecção. Todos os possíveis aspectos [41] são-no da mesma coisa. Então, se «um deus é um aspecto do mundo», não há motivo para lhe atribuir consistência maior do que tem qualquer aspecto. A consistência é a do mundo. O que, afinal, queremos dizer é que, para insistir em crença nos deuses, necessário se torna desistir da crença no mundo. Por outras palavras: «aspectos do mundo» encobre «mundos diferentes», e, sendo assim, melhor se diria: «um deus é um mundo» e «outro deus é outro mundo», em suma, cada deus munda, faz seu mundo do que ainda o não era — diacosmiza, numa palavra só. Um deus imerge no mundo que ele emerge, morre a vida do mundo que vive a sua morte, encobre-se no mundo que é descoberta sua, oculta-se no mundo que desocultou. Por isso a mitologia está por fazer. [Eudoro de Sousa  ; EudoroMito:41-42]


86. Não podemos explorar aqui o significado que se poderia atribuir a esta última proposição [ontocriptia é teofania]. Voltemos atrás, onde não se pensou como e por que os deuses são protagonistas de seus mitos. Quando os conhecemos, parece que melhor se diria que mito é porta pela qual os deuses saem de seu «oculto reinar», que, pelo dizer o mito ou representá-lo por rito, não pode haver mais um «reinado oculto» dos deuses. Para sustentar, sem contradição flagrante, que os deuses permanecem em seu «oculto reinar», acenando de dentro dele o aceno cosmo-antropogônico, é preciso esforçar-nos por compreender isto mesmo: que é do aceno do deus, e não do deus-acenante, que o mito nos fala. No entre-acenos está o «oculto reinar» dos deuses, e deste não nos fala o seu mito; o mito também tem por linguagem o silêncio que perpassa por toda a linguagem. Note-se bem: aqui, ganhamos bem clara consciência de todas as contradições que não pudemos evitar em todo o curso de um pensar, atrás manifestado como pensar que ainda não tentáramos pensar. O leitor atento a inconsequências lógicas facilmente detectará os erros que sobressaem a cada passo; mas não quisemos escondê-los, para que ninguém pudesse supor que ao pensamento não seja inerente o errar. A nossa conclusão provisória é a que Heidegger   talvez desse por definitiva: nenhum falar do que os deuses fazem (mitos) faz que os deuses saiam do seu «oculto reinar» — o que, todavia, não impede que não se possa, alguma vez, remover os impasses que tivemos de reconhecer, os que, a pensar nosso, reconhecemos como erros. Talvez, entre eles, algum esteja prenhe de verdade. [EudoroMito:175]
MacKenna  

’The Gods’ are frequently mentioned in the Enneads  : the words are generally little more than a fossil survival, an accident of language not a reality of thought. Where, however, Plotinus names Ouranos (Caelus), Kronos (Saturn), Zeus (Jupiter), he indicates the three Hypostases of the Divine-Being: this is part of his general assumption that all his system is contained already in the most ancient knowledge of the world.

Where we meet ’The Gods’ without any specification we are to understand, according to the context: sometimes the entire Divine Order; sometimes the Divine-Thoughts, The Ideas or Archetypes; sometimes exalted Beings vaguely understood to exist above man as ministers of the Supreme; sometimes the stars and earth, thought of, at least in their soul-part, as Divine-Beings; sometimes the words indicate, vaguely, the souls of lofty men; sometimes there is some vague, sleepy acceptance of the popular notion of the Olympian personalities.
(Stephen MacKenna)


Plotino

For it is to the Gods, not to the Good, that our Likeness must look: to model ourselves upon good men is to produce an image of an image: we have to fix our gaze above the image and attain Likeness to the Supreme Exemplar. Enneads: I. II. 7


We must, therefore, lay down the grounds on which we distinguish the Gods from the Celestials - that is, when we emphasize the separate nature of the two orders and are not, as often in practice, including these Spirits under the common name of Gods.

It is our teaching and conviction that the Gods are immune to all passion while we attribute experience and emotion to the Celestials which, though eternal Beings and directly next to the Gods, are already a step towards ourselves and stand between the divine and the human. Enneads III. V. 6



LÉXICO: deus