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sentido

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Grande parte das pretensões de conhecimento do mundo atual estriba-se no pressuposto da essência irrelativa separada das coisas. Assim como percebemos os objetos descontínuos e segregados, fechados em si mesmos numa espécie de atomismo representacional, assim de fato eles existiriam. As ideias e as coisas gozariam de uma vida livre e absoluta, de uma vida sui júris no espaço e no tempo. Entretanto, como sabemos, desde o criticismo kantiano e as investigações do idealismo do século passado e como é renovadamente afiançado no pensamento hodierno, o ente, em sua totalidade, consiste sempre no fruto de uma desocultação transcendental que o configura em seu ser próprio. Todo objeto é em suma um objeto constituído, interpretado, desenhado em sua índole derradeira. Em consequência, o ser desses objetos e de todos os objetos de conhecimento possível, origina-se de uma convergência de categoria configuradora que os recorta e individualiza no campo do cognoscível. O ser desses objetos assim como o dos demais entes oferecidos ao nosso conhecimento promana de uma dotação de sentido transcendental (Sinngebung), que instaura seu tipo de manifestação. O ente nasce dessa dotação de sentido, todas as coisas são tributárias de uma iluminação projetiva, não existindo de maneira [163] alguma como realidades espúrias e irrelativas. Podemos advertir outrossim que os objetos intramundanos, as coisas que encontramos, das mais nímias às mais aparatosas, são traçadas em seu ser variável como um espaço de conexões significativas ou uma totalidade de sentidos para uma inteligência. Esses significados guardam em si uma trama de relações internas, um caráter referencial que nos adverte acerca da solidariedade de estilo dos entes revelados num determinado mundo. Encontramos na obra de Johann Fichte   o esforço de construção da gênese transcendental das categorias que configuram as representações básicas do homem ocidental. Para Fichte, as representações em que vivemos, e que constituem o nosso mundo, originam-se do sentido teleológico que dá a razão última da índole e da forma dessas representações. O mundo do ente, ou como os idealistas preferiam dizer, o Vorstellung Welt, torna-se um sistema de formas coerentemente traçadas, um organismo onde as partes revelam o estilo imperante do todo. [VFSTM  :163-164]


Os comentadores de Platão e Aristóteles eram surpresos diante do fato que olhares interseccionados de dois visualizadores não interferiam um com o outro, ao passo que sons e odores se interferiam um ao outro e de acordo com as condições de vento. O processo no meio circundante, assim como no órgão de sentido, é desmaterializado, mas em diferentes graus para diferentes sentidos, sendo o menor de todos o sentido de tato, acima o de odor, audição e visão. Filopono   sente a necessidade de uma concessão sobre o odor. O processo não é tão corpóreo que as partículas odoríferas alcancem todo trajeto até nossas narinas. [SorabjiPC1  :47]
LÉXICO: sentido; senso