Página inicial > Termos e noções > conceito

conceito

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Embora se trate do elemento do pensamento, não dispomos de uma definição clara e unívoca do conceito “conceito”. Essa circunstância é reveladora da fé inconfessa dos nossos pensadores no intelecto. Essa fé manda que o conceito seja algo que acompanhe (ou deva acompanhar) a palavra. O estudante ingênuo, em Fausto, diz: “Doch ein Begriff muss bei dem Worte sein” [Porém um conceito deve acompanhar a palavra]. Goethe   compartilha da ingenuidade do estudante e distingue palavras acompanhadas e desacompanhadas de conceitos. Acha-se em excelente companhia. Todos os esforços para definir “conceito” são tentativas de parafrasear o seguinte artigo de fé: “Conceito é o fundamento inarticulado do qual surge uma palavra legítima”. Por outro lado, o conceito não é algo, mas de algo. É, para falarmos em ter chão, o traço que uma “coisa” deixa no intelecto. Estamos, portanto, diante de uma situação curiosa. Na primeira concepção é a palavra o símbolo do conceito. Na segunda concepção é o conceito o símbolo da [38] coisa. O conceito é, portanto, algo entre palavra e coisa. Algo completamente supérfluo, com efeito, introduzido somente no esforço de superar o abismo entre palavra e coisa. Não há conceito sem palavra. E dizer que há palavra sem conceito não passa de uma maneira superficial de falar. O que se quer dizer é que há palavras sem uma “coisa” correspondente (qualquer que seja o significado de uma afirmativa metafísica como esta). Não há, portanto, a rigor, palavra sem conceito. Há, isto sim, palavras incompreensíveis. Estas não são legítimas palavras, no sentido de não fazerem parte de uma frase significante. Mas esse é um problema que surgirá mais tarde. Basta, para o momento, constatar que não há palavras sem conceitos, nem conceitos sem palavras, e que, em consequência, “conceito” e “palavra” são sinônimos no sentido lógico. Emocionalmente diferem, cabendo ao “conceito” o papel de conciliador com a fé no intelecto, mas logicamente coincidem. Podemos, portanto, por questão de economia, abandonar o uso da palavra “conceito” em prol da palavra “palavra”. O pensamento é, portanto, uma organização de palavras. [FLUSSER  , Vilém. Da dúvida. São Paulo  : É Realizações, 2018, p. 37-38]


Os estoicos definem a razão (logos) como uma coleção de conceitos e preconceitos (ennoiai, prolepsis). Os neoplatonistas algumas vezes usam o plural, logoi, que em uso mais geral significa qualquer tipo de princípio racional, para conceitos, que têm de ser desdobrados ou projetados (proballein, proballesthai) com o propósito de juízo perceptivo (krinein, krisis), reconhecimento (gnorisis) e compreensão (synesis). A recepção de dados do mundo externo não é suficiente para este propósito, embora tenha sido debatido se os animais poderiam lidar com mais que isto. Se os conceitos projetados são empiricamente obtidos, como o doxastikos logos discutido em Alcino   e Prisciano, ou se eles são conceitos inatos recolhidos à maneira da anamnesis de Platão  , não é particularmente claro. Peter Lautner indicou que no Comentário ao Timeu   de Proclo   são os conceitos recolhidos, porque as distinções científicas aí estão sendo projetadas pelo pensamento discursivo (dianoia), e em Proclo está se seguindo o tratamento de conceitos recolhidos do Didaskalikos   de Alcino. Mas seria interessante saber se a opinião (doxa) pode também projetar os conceitos (logoi) que Proclo diz que tem das perceptíveis, em seu Comentário ao Timeu.

Porfírio   em Da Harmônica de Ptolomeu adiciona que a razão (logos) com seus conceitos pode corrigir imprecisões na informação sensória. Em outra parte é sugerido que em geometria nossos conceitos inatos podem ser usados para corrigir aqueles empiricamente obtidos. [SorabjiPC1  :37]


LÉXICO: conceito