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medianidade

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

As ações são τὰ ἐφ’ ήμῖν, entes que dependem de nós, isto é, a sua existência passa necessariamente por nós e não existe em lado nenhum no mundo real e objetivo. Dependem exclusivamente de nós. A ação é assim o resultado da aplicação do princípio geral de ação. A sua aplicabilidade depende, contudo, da interpelação que nos fazem as circunstâncias particulares e concretas em que de cada vez nos encontramos. Mas, embora possa existir um plano geral da ação que possa ser observado e seja regulador da mesma, ele apenas se torna constitutivo e formador do caráter se e somente se for aplicado no momento oportuno da sua intervenção. E é aí que se experimenta uma enorme dificuldade. As situações concretas que nos interpelam estão bem caracterizadas. São situações que dão um medo tremendo, ou causam um prazer intenso. Quando nos encontramos em tais situações, esboçamos movimentos de reação. Tentamos fugir ou escapar ao medo, mas também nos podemos atirar na sua direção ousadamente. Podemos ir em busca de um prazer intenso, mas também podemos abster-nos. Não há aqui dificuldade. As hipóteses esboçam-se espontaneamente. Mas apenas de modo reativo. A dificuldade está, antes, em encontrar o sentido orientador que nos permite criar um horizonte aquém daquelas reações. Como diz Aristóteles, encontrar a disposição do meio.

A disposição do meio está numa tensão para o sentido orientador, que evita o excesso e o defeito patológicos que pervertem a nossa capacidade de ação. Agir é possível mas sem haver nunca uma alteração das condições inalienáveis do ser humano. O Humano está sempre durante toda a sua vida exposto a casos-limite, a circunstâncias particulares e concretas. Essas situações são definidas pelo impacto afetivo ou emocional que causam. As afecções manifestam-se pela sua intensidade. Por excesso e por defeito e obrigam sempre a reações espontâneas. Mas uma reação espontânea enquanto uma reação natural não define a priori um caráter, porque, de fato, pode não ter nenhuma ligação com o princípio de ação e não resultar, assim, de nenhum sentido de orientação. [CaeiroEN  :13-14]