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afetividade

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Com Nietzsche  , pelo contrário, fulgura, por um instante, o pensamento radioso que restitui a vida ao aparecer como à sua essência própria. Com a condição de um progresso decisivo: que o aparecer seja, enfim, reconhecido na dimensão não extática de seu inicial e eterno advir em si [parviens en soi] – que é o Eterno retorno do Mesmo –, que é a vida. Sem que nada seja renegado do esplendor do mundo e da aparência extática celebrada em Apolo, mas porque, pelo contrário, o Fenômeno é apercebido sobre o Fundo de sua possibilidade começante, sobre o “écran”, diz Nietzsche, da Noite originária que o engendra, em Dionísio, então, este último é o Ser mesmo considerado, finalmente, como o que é, não um inconsciente que é absolutamente nada, mas pelo contrário: o seu próprio pathos, a eterna e irremissível prova [épreuve; v. provar] que faz de si no jogo sem fim de seu sofrimento e de sua alegria.

Sobre o fundo dessa fenomenologia radical se desenha uma ontologia que descobre a afetividade como a revelação do Ser em si mesmo, como a matéria, como a matéria da qual é feito, como a sua substância e a sua carne. E essa ontologia, por sua vez, permite decifrar essas figuras fascinantes da vida que são os fortes, os nobres, os animais: todos aqueles que confiaram [45] o seu destino ao dizer de um sofrer primitivo. Do mesmo modo, ela torna inteligível o deslocamento essencial – entrevisto por Schopenhauer  , mas não levado por ele à claridade do conceito – em virtude do qual todas as faculdades representativas – olho, memória, pensamento – encontram, desde já, o seu princípio no poder que não é mais aquele da consciência intencional: na vida. [MHPsique:44-45]


LÉXICO: afetividade