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ponein

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

A distinção que proponho entre trabalho e obra é inusitada. A evidência fenomênica a seu favor é demasiado impressionante para ser ignorada, e, não obstante, é historicamente um fato que, com exceção de umas poucas considerações esparsas, as quais por sinal nunca chegaram a ser desenvolvidas mesmo nas teorias de seus autores, quase nada existe para corroborá-la na tradição pré-moderna do pensamento político ou no vasto corpo das modernas teorias do trabalho. Contra essa escassez de provas históricas, porém, há um testemunho muito articulado e obstinado, isto é, o simples fato de que todas as línguas europeias, antigas e modernas, possuem duas palavras etimologicamente independentes para designar o que viemos a considerar como a mesma atividade, e conservam ambas, a despeito de serem repetidamente usadas como sinônimas. [1] [ArendtCH:C11] (VIDE ponos)


LÉXICO: ponos

Observações

[1Assim, a língua grega distingue entre ponein e ergazesthai, o latim entre laborare e facere ou fabricari, que têm a mesma raiz etimológica, o francês entre travailler e ouvrer, o alemão entre arbeiten e werken. Em todos esses casos, apenas os equivalentes de “trabalho” têm uma conotação inequívoca de dores e penas. O alemão Arbeit se aplicava originalmente apenas ao trabalho agrícola executado por servos, e não à obra do artesão, que era chamada Werk. O francês travailler substituiu o mais antigo labourer e deriva de tripalium, uma espécie de tortura (cf. Grimm, Wörterbuch, p. 1854 ss., e Lucien Fèbre, “Travail: évolution d’un mot et d’une idée”, Journal de psychologie normale et pathologique, v. XLI, n. 1, 1948).