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quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Tempo (chronos)

I. Os diálogos de Platão tematizam o tempo com frequência e de várias perspectivas. Pode-se pensar na gradual aquisição de saber e educação (Féd.   72e ss.; Rep.   514a ss.), no ser perene das ideias (por exemplo, Rep. 479e) e na subitaneidade do conhecimento (Banq. 210e; Carta 7 341c; ver instantaneidade) ou nas condições de desenvolvimento psicológico, cosmológico e histórico ou em sua configuração mitológica (Fedro   246a ss.; Fil. 268d ss.; Leis 676a ss.). Também são importantes as hipóteses do Parmênides que indagam se o um participa no tempo e chegam, nisto, a resultados contraditórios (Parm. 141a ss., 151e ss.). Todavia, uma definição que pode ser entendida como teoria do tempo platônica encontra-se apenas na cosmologia do Timeu  . De acordo com ela, o tempo é “uma imagem móvel da eternidade” (eikô kinêton tina aiônos, Tim. 37d), produzida por um DEMIURGO divino na “ordenação do céu” (diakosmôn hama ouranon), mais precisamente “uma imagem eterna, que avança de acordo com número, da eternidade que permanece no um” (menontos aiônos en heni kat’ arithmon iousan aiônion eikona, Tim. 37d). Nisto, dias, noites, meses e anos, como “partes do tempo” (merê chronou), são diferenciados do passado e do futuro ou do “foi” e do “será” como formas do tempo (eidê chronou) (Tim. 37e). O texto diz expressamente do que resultam as partes do tempo. Trata-se de segmentos fixos do tempo, que são limitados e preservados por revoluções regulares de corpos celestes, motivo pelo qual eles, como “números do tempo” (arithmoi chronou), possibilitam a medição do tempo (Tim. 38c). São especialmente importantes as revoluções das estrelas fixas, da Lua e do Sol, em que repousam as extensões do dia, do mês e do ano. Mas também outros corpos celestes devem possuir tempo fixo de revolução, embora esses ainda não fossem conhecidos (Tim. 39c). O “número completo do tempo” (teleos arithmos chronou) será preenchido quando todos os corpos celestes tiverem alcançado de novo a mesma constelação (Tim. 39d). Quanto dura o “ano completo” (teleos eniautos) deve ser deixado em aberto por causa do tempo de revolução desconhecido dos planetas. No entanto, é nitido o empenho em demonstrar que todos os movimentos astronômicos são racionais. Assim como é nítido que isso ocorre levando em conta o tempo. Sol, Lua e planetas se originaram apenas para “delimitação e preservação” dos números do tempo (Tim. 38c). Nesse sentido, o céu visível não é nada senão um relógio astronômico. Ele possibilita medir a duração de todos os movimentos, na medida em que seus movimentos regulares são observados e medidos uns relação aos outros segundo números (pros allêla symmetrountai skopountes arithmois, Tim. 39c). A medida mais exata é a revolução diária das esferas das estrelas fixas, que como revolução do mesmo (tauton) é diferenciada das sete revoluções do diferente (heteronlthateron) (Tim. 38c ss.). Os corpos celestes ocupam, nisto, as revoluções da alma do mundo (Tim. 36c), que também é composta do mesmo e do diferente (Tim. 35a). Sob as revoluções do diferente, o Sol adquire um significado extraordinário, pois ele toma evidente (metron enarges, Tim. 39b) a revolução das estrelas fixas pela alternância de dia e noite. Em contrapartida, a Terra central deve ser considerada “guardiã e causadora” do dia e da noite apenas na medida em que sua rotação em direção contrária produz uma base fixa para a observação de movimentos astronômicos.

Para as formas do tempo salienta-se a diferença entre modelo e CÓPIA. Não é correto dizer, a respeito do ser eterno (aidios ousià), que ele “foi, é e será”, pois na verdade a ele se deve atribuir apenas o “é” (estin), enquanto o “foi” (én) e o “será” (estai) só se aplicam ao devir no tempo. O ser eterno, que se comporta imovelmente sempre da mesma maneira, não tem propriedade alguma de movimentos (kinêseis) perceptíveis: ele não se torna mais velho ou mais novo com o tempo, não se origina em algum momento, não se originou agora e também não será no futuro (Tim. 38a). O ser eterno deve ser mantido livre de formas do tempo, porque do contrário ele é temporalizado e tem sua eternidade mal compreendida. Inversamente, não falamos com exatidão (ouden akribes legomen) quando atribuímos ser aos processos temporais (Tim. 38b). O motivo para isso ser assim não encontra uma resposta definitiva, mas se deixa entender com facilidade, pois, mediante uma transferência do ser eterno para processos temporais, a diferença entre modelo e cópia seria frustrada tal como uma transferência de formas de tempos para a eternidade. Por trás disso está Parmênides, em cujo poema didático se diz sobre o ser (eon) que ele jamais foi nem será, “pois ele é agora” (epei nyn estin), mais precisamente “ao mesmo tempo inteiro” (homou pan), uno e contínuo (DK 28 B 8, 5-6). Contudo, na teoria do tempo do Timeu não se trata de modo algum apenas do ser eterno e do devir temporal, mas antes de explicar o tempo como imagem da eternidade. Isso só pode ser bem-sucedido quando, além da diferença, fica claro em que consiste sua semelhança. Isso é indicado não só pela teoria da imagem de outros diálogos (Sof. 240a) mas também pelo Timeu. Na criação do tempo, trata-se portanto de tornar o cosmos móvel “ainda mais semelhante” ao seu modelo eternamente existente (mallon homoion pros to paradeigma, Tim. 37c). Isso também se mantém para as formas do tempo, pois o tempo deve imitar a eternidade, na medida em que ele corre em círculo segundo número (chronou tauta aiôna mimoumenou kai kat’ arithmon kykloumenou, Tim. 38a). [SHÄFER]