Página inicial > Termos e noções > descida

descida

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Descida/subida (katabasis/anabasis)

O tema da descida e subida constitui em Platão, repetidas vezes e em diferentes níveis, um expressivo princípio estrutural da organização do diálogo. O início da República (327a-b) já introduz, por exemplo, o tema da descida (ao Pireu) e reascensão (à cidade) no nível da ação exterior da narrativa-moldura do diálogo; enquanto o próprio diálogo corresponde, num eixo simétrico, à construção conceitual e à subsequente desconstrução de uma POLIS no espírito. No vértice desse movimento do diálogo no Livro VI da República, o “símile da caverna” versa sobre a subida para fora da caverna até a luz solar do saber (515e) e a nova descida pedagógica, desde a luz do Sol ao mundo do fogo feito pelo homem, do qual, vale notar, já se havia falado no trecho 327a numa antecipação temática 511b-c esboça, no contexto do símile da linha, o conhecimento último no campo das ideias com a imagem de uma subida à ideia do bem, a qual dispensa hipóteses (aqui se encontra o termo epibasis, ou seja, “acesso para subir”), e de uma nova descida (katabasis), segundo as regras da dialética, até a apreensão completa dos nexos das ideias. Para a formação da tradição foi determinante a discussão ontológica do Parmênides, que numa passagem ar-gumentativa (137c-142a) constrói o Um em definições positivas (a assim chamada catáfase, de kataphêmi, afirmar, dizer sim), mas em seguida as nega sob nova perspectiva (a assim chamada apófase, de apophêmi: negar); essas duas passagens argumentativas formam, elas próprias, apenas os elementos da abrangente discussão de uma suposição fundamental catafática e de suas consequências (onto) lógicas (“Se o Um é”: Parm. 137c), às quais se segue e se contrapõe a discussão de uma suposição apofática (“Se o Um não é”: Parm. 160b). [SHÄFER]