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quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

CONTEXTO
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  • Derrida   Contexto
    A noção de contexto é fundamental para o entendimento de nossa proposta de desconstrução-reconstrução de textos em hipertextos, ou melhor, de discursos em forma textual em discursos hipertextuais. Consideramos que o texto é cercado pelo contexto cultural dentro do qual o autor o construiu, e que, por sua vez, será lido por leitores, em sua maioria, em contextos diversos daquele do autor. Qualquer que seja a proposta de desconstrução-reconstrução de um discurso textual, este contexto em sua gênese, e se possível, aberturas para integração de novos caminhos hipertextuais em sua leitura devem formar o que denominamos "aparato hipertextual crítico", a servir de contexto imediato ao discurso hipertextual. Para chegarmos a um entendimento deste “contexto” e de sua implementação enquanto “aparato hipertextual crítico” associado ao discurso hipertextual, propomos a reflexão a seguir sobre ser-no-mundo e mundo circundante (Umwelt) em Heidegger  .

O ponto de partida de uma analítica do Dasein começa justamente pelo exame da constituição ontológica designada “ser-no-mundo”. Esta expressão composta refere-se a um fenômeno de unidade, a partir do qual é possível examinar um de seus momentos estruturais, “em-um-mundo”. O único caminho para alcançar o fenômeno “em-um-mundo” é, por sua vez, resgatar a “mundanidade” do ente que o Dasein depara no mundo cotidiano mais próximo: o mundo circundante (Umwelt).

À sua época, Heidegger se defrontou com uma grande dificuldade face às distintas conotações de “mundo”, ao evocar o existencial “ser-no-mundo”. Mas, soube orientar sua formulação segundo um sentido próprio de unidade e totalidade, onde o ser do Dasein existe em um “circuito fechado”, o ser-no-mundo, como afirma Hervé Pasqua (1993).

Na expressão ser-no-mundo, mundo não é um continente de entes que contenha também o ser, como mais um de seus entes, assim como não é algo que se ajunte de fora, ao Dasein, como um ente a outro ente. O mundo faz parte do ser do Dasein, tem com ele uma relação essencial e não acidental.

Após discernir que o Dasein existe, é meu, e é autêntico ou inautêntico, Heidegger se volta para este existencial, ser-no-mundo, onde os traços de união denotam um fenômeno unitário, no qual se mantêm juntos os diferentes momentos estruturais que compõem o Dasein, entre os quais o “ser-em”.

O ser em, ao contrário, significa uma constituição ontológica da pre sença e é um existencial. Com ele, portanto, não se pode pensar em algo simplesmente dado de uma coisa corporal (o corpo humano) "dentro" de um ente simplesmente dado. O ser em não pode indicar que uma coisa simplesmente dada está, espacialmente, "dentro de outra" porque, em sua origem, o "em" não significa de forma alguma uma relação espacial desta espécie; "em" deriva de innan-, morar, habitar, deter se; "an" significa: estou acostumado a, habituado a, familiarizado com, cultivo alguma coisa; possui o significado de colo, no sentido de habito e diligo. O ente, ao qual pertence o ser em, neste sentido, é o ente que sempre eu mesmo sou. A expressão "sou" se conecta a "junto"; "eu sou" diz, por sua vez: eu moro, me detenho junto... ao mundo, como alguma coisa que, deste ou daquele modo, me é familiar. O ser, entendido como infinito de "eu sou", isto é, como existencial, significa morar junto a, ser familiar com.. . O ser-em é, pois, a expressão formal e existencial do ser da pre sença que possui a constituição essencial de ser no mundo. (Heidegger, 1986/1998, pág. 92)

A partícula “em” em “ser-em” reveste significações múltiplas que correspondem às tantas maneiras distintas de se comportar, de se conduzir, de se colocar, de modo autônomo, mas irredutível ao aspecto cognitivo. A diversidade de modos de se portar guarda, no entanto, um denominador comum, uma estrutura existencial comum: a ocupação (Besorgen). Em seu sentido ontológico, todas as maneiras de se portar manifestam um modo de ser fundamental: a cura (Sorge). “(...) entendida ontologicamente, o Dasein é cura” (ibid, pág. 95).

De acordo com o que foi dito, o ser no mundo não é uma "propriedade" que a pre sença às vezes apresenta e outras não, como se pudesse ser igualmente com ela ou sem ela. O homem não "é" no sentido de ser e, além disso, ter uma relação com o mundo, o qual por vezes lhe viesse a ser acrescentado. A pre sença nunca é "primeiro" um ente, por assim dizer, livre de ser em que, algumas vezes, tem gana de assumir uma "relação" com o mundo. Esse assumir relações com o mundo só é possível porque a pre sença, sendo no mundo, é como é. Tal constituição de ser não surge do fato de, além dos entes dotados do caráter da pre sença, ainda se darem a depararem com ela outros entes, os simplesmente dados. Esses outros entes só podem deparar se "com" a pre sença na medida em que conseguem mostrar se, por si mesmos, dentro de um mundo. (Heidegger, 1986/1998, pág.95)

O que é este mundo? Uma coleção ou a totalidade dos entes, incluindo a pessoa, seria uma descrição ôntica. O mundo na expressão ser-no-mundo faz parte de um existencial do Dasein, se apresenta como um modo de ser do Dasein. Os entes intramundanos pressupõem o mundo. Não são eles que descrevem o mundo, mas o mundo que os explica. O mundo não é uma coleção de entes, ele é o mundo do Dasein: o ser do mundo é um momento constitutivo do ser do Dasein.

Nem um retrato ôntico dos entes intramundanos nem a interpretação ontológica do ser destes entes alcançariam, como tais, o fenômeno do "mundo". Em ambas as vias de acesso para o ser "objetivo" já se "pressupõe", e de muitas maneiras, o "mundo". (Heidegger, 1986/1998, pág. 104)

Como afirma Greisch (1994) porque não se falar então de pluralidade de “mundos” no qual se vive, como mundo acadêmico, religioso, comunitário, etc. Cada um destes mundos seria compreendido pela relação que se entretêm com ele. Justamente na abstração desta relação é que é possível investigar a “mundanidade” enquanto modo de ser do Dasein. A mundanidade se revela ontologicamente a partir da analítica existencial do Dasein (Pasqua, 1993).

"Mundanidade" é um conceito ontológico e significa a estrutura de um momento constitutivo do ser no-mundo. Este, nós o conhecemos como uma determinação existencial da pre sença. Assim, a mundanidade já é em si mesma um existencial. Quando investigamos ontologicamente o "mundo", não abandonamos, de forma alguma, o campo temático da analítica da pre sença. Do ponto de vista ontológico, "mundo" não é determinação de um ente que a pre sença em sua essência não é. "Mundo" é um caráter da própria pre sença. Isto não exclui o fato de que o caminho de investigação do fenômeno "mundo" deva seguir os entes intramundanos e seu ser. A tarefa de "descrição" fenomenológica do mundo é tão pouco clara que já a sua determinação suficiente exige esclarecimentos ontológicos essenciais. (Heidegger, 1986/1998, pág. 104)

O ser do Dasein “ex-siste” no mundo. Pois o ser está em exílio, fora de si mesmo, sem abrigo, pro-jetado. Busca habitar e acaba por criar um mundo no qual se re-encontra no Dasein e na manualidade (Zuhandenheit). Evidenciando que “a doação dos desempenhos e das possibilidades de desempenho proporciona os seres à mão, os seres constituídos pela manualidade: os instrumentos, os utensílios, os equipamentos, os dispositivos etc.” (Notas em Heidegger, 1986/1998).