Perenialistas
Gérard de Sorval: LA MARELLE

Pequenos cubo - cubos de seis faces que se fazem rolar. As seis faces fazem alusão às dimensões da largura, do comprimento, da altura e da profundidade que delimitam o espaço deste mundo. E fazer rolar o cubo, é fazer girar a roda da fortuna, ao mesmo tempo que descrever o movimento da Esfera, inscrever a área do quadrado no círculo, operação que se denomina a quadratura do círculo.

Jean-Michel Varenne: L’ESPRIT DES JEUX

Os dados surgiram como um jogo de puro azar que satisfez a consciência metafísica da Índia durante milênios antes de tomar conta da Antiguidade em seguida da Idade Média ocidental. A origem dos dados está sujeita a controvérsias mas sua celebração, sua quase sacralização é certamente hindu. Estes objetos talhados em madeira, osso, marfim, marcados de seis cifras — o um e o quatro pintados em vermelho, os outros em negro — são amplamente evocados nos mitos. Assim segundo comentadores védicos, o universo seria uma partida de dados, jogada por Shiva e sua esposa (as estações, rtus, são tradicionalmente figuradas por seis homens, manipulando dados de ouro e de prata). Os Vedas   lhes consagram um hino, as lamentações dos jogadores de dados, e o Mahabharata   toma como pretexto inicial a derrota nos dados de um príncipe que perde todos os seus bens em um torneio contra o demônio. Os dados fazem perder a cabeça. No entanto existe um rito muito importante que deve se celebrar com estes objetos de infortúnio, dos quais alguns não hesitam em atribuir a invenção ao diabo ele mesmo. Trata-se da consagração anual do rei por um sacerdote. O desafio da partida é simples: aportar posteridade, benefício e sorte ao reino e sobretudo confirmar o rei em seu trono. Para fazer isto este último deve absolutamente ganhar nos dados contra um sacerdote. Segundo este rito — o raja-suya — os dados perfumados e floridos são o objeto de numerosos cantos e orações durante toda a noite que precede a partida. Os hindus comparam a embriaguez de uma partida de dados com os efeitos do elixir - soma, a bebida dos deuses.