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Instrumento

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Filosofia Moderna
Sérgio Fernandes: Fernandes Ser Humano - SER HUMANO

O que chamo de "Esse-Experientia - extensão do Ser em Experiência" ("criação") só pode realizar-se com o concurso do Não-Ser, ou, na minha terminologia, da Existência, que é o estar fora do Ser. O instrumento dessa realização é, como disse, a mente, o pensamento e a linguagem, que provêm à Experiência em si mesma seus objetos, ou a projeção daquilo que deve ser o objeto a ser acolhido por infinitas formas de autêntica Experiência, acolhimento que chamarei de compreensão. Toda e qualquer forma de incompreensão não pertence ao Ser, quer ao Ser - Ser enquanto Ser, quer à sua extensão criadora em Experiência, ou Experiência - Experiência em si mesma, que é o que nós somos em nós mesmos. A incompreensão pertence tão-somente ao instrumento da extensão criadora e a principal característica ontológica do instrumento é a de que ele nada poderia ser "em si mesmo".

Mas ainda estamos a meio caminho. Acontece que no instrumento ao qual pertence, por exemplo, dentre infinitas outras, a ideia de "ponto de vista" (exclusivo), "realmente" há incompreensão, o que aliás lhe é inerente, ou indispensável à eficácia de seu próprio funcionamento. Essa incompreensão, que inclui o que chamarei de "pensamentos de abandono", e é rastreável até à máxima equivocação ventriloquente sobre a procedência da voz — "Pai! Por que me abandonaste?!" —, tem sua raiz na ideia, da mente, do pensamento e da linguagem, de que a mente, o pensamento e a linguagem... seriam alguma coisa "em si mesmos". Por sua vez, essa ideia do instrumento, ideia que não tem nada a ver com a ideia sartreana de "ser-para-si", essa ideia de que um instrumento poderia ser alguma coisa "em si mesmo" decorre de sua própria constituição como projetor de objetos, o mais longe possível do Ser, na rotunda do Não-Ser, ou Existência. Não surpreende, então, que o próprio instrumento (mas não o Ser Humano!) tome essa projeção ou "objetivação" como a projeção da "realidade em si mesma", ou reflexo daquela extensão criadora pela qual o Ser em si mesmo estende-se em Experiência - Experiências. A distância aí gerada entre as objetivações da mente, do pensamento e da linguagem, e a Experiência como extensão criadora do Ser, é, obviamente, infinita. Corresponde, de fato, ao "espaço" que ocupa — mais uma vez, no instrumento — o chamado "Problema do Mal" (ou, na sua melhor versão, que vem a ser, inequivocamente, aquela de raízes "intelectualistas", aquilo que se chama de "Ignorância"). Uma equivocação de tal ordem, não deixa por isso, no entanto, de ser inerente ao funcionamento do instrumento na sua função de artífice do contraste entre Ser e Não-Ser, necessário à experiência, embora a incompreensão, "ignorância" ou impossibilidade de acolhimento equânime (sem julgar) daquilo que é objetivo ou artifício do instrumento, equivalha à pura ausência — no instrumento — de verdadeira Experiência e contraste necessariamente com esta última, que é então presença - pura presença, ou "SE - Espírito".