Página inicial > Termos e noções > duvidar

duvidar

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Filosofia
Alexis Preyre: LE DOUTE LIBÉRATEUR

A dúvida parece um refúgio seguro, o único refúgio, para quem não quer ou não pode nada afirmar. Mas um exame atento das «condições» que tornam a dúvida possível não revelaria na dúvida mesma uma parte de afirmação?
Para duvidar, «um ato de fé» seria necessário?
Era e não era a objeção já feita aos céticos gregos que toda expressão da dúvida a transforma em afirmação (não chego a medir o que há de verbal e o que há de vivente neste objeção). Era algo de mais, pois não era somente «a expressão» que estava em jogo mas «a coisa» (não sei palavra mais indefinida) que buscava se exprimir.
A dúvida implicaria a crença em um sujeito, um objeto, e uma possível relação entre os dois?
Mas um sujeito (mesmo se não existisse objeto) pode ser «dividido contra ele mesmo» e duvidar...
A dúvida implica ao menos um sujeito? um «mim mesmo»? Que se entende por «mim mesmo»? a distinção entre o «mim mesmo» e o «não-eu», entre o sujeito e o objeto, é conhecida das crianças? dos «primitivos»?
E as doenças da personalidade?
O fato de pensar implica um «mim mesmo»? É um dos aspectos do «Cogito» cartesiano: «Penso, logo sou».
Mas é «um mim mesmo» que Descartes   deduz do fato que pensa? E se é um «mim mesmo», como estar fixado nos contornos e limites deste «mim mesmo»?
Na medida que a dúvida é pensada, não implica tudo o que implica escolha, discriminação, julgamentos, o exercício do pensamento?
A dúvida implicaria a hipótese que há uma «verdade» e um «erro»? a distinção entre verdade e erro? Mas não se pode duvidar no meio de «coisas verdadeiras», se se trata de escolher entre elas?
Se a dúvida é oscilação entre dois ou mais «objetos», entre dois ou mais atos, entre dois ou vários pensamentos, entre dois ou vários «possíveis», implica número, espaço, tempo e por conseguinte movimento?
Se dúvida e pensamento são do domínio do «inextenso», não implicaria o inextenso? O inextenso é concebível se não é relativamente ao extenso? Relativamente ao espaço?
Na medida que a dúvida é recusa ou impossibilidade de escolher, não implica uma distinção e toda distinção não implica uma escolha?
Escolha e distinção são separáveis?
Toda escolha não implica uma distinção e toda distinção não implica uma escolha?
A etimologia da palavra «dúvida» que através do latim vem de uma palavra sânscrita significando «dois», parece indicar que a dúvida esta ligada a uma dualidade, quer dizer que estabelece a existência de dois termos, implica uma distinção.
Se, como tudo parece indicar, escolha e distinção são as condições mesmas da dúvida e também do pensamento, não se segue que dúvida e pensamento têm por condição uma parte de arbitrário posto que toda escolha e toda distinção não são possíveis que relativamente a uma outra escolha ou a uma outra distinção que, por sua vez, implicarão outras escolhas e outras distinções?...
E isso ao infinito posto que todo princípio, todo critério, toda evidência, relativamente às quais se poderá justificar absolutamente uma escolha ou uma distinção, serão elas mesmas e não poderão ser senão os resultados de uma escolha e de uma distinção anteriores.
«Eis-nos no círculo...»