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Veronica

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Excertos de Ewa Kuryluk, "SANTA VERÔNICA E O SUDÁRIO"

De acordo com a lenda, o retrato de Jesus de Abgar foi desenrolado e preso numa prancha. Esse modo particular de apresentar o sudário estava refletido no primeiro tipo iconográfico do mandylion de Cristo, que pode ser encontrado na arte greco-eslava dos séculos XII e XIII. Na segunda metade do século XIII, foi introduzido um novo tipo: o sudário suspenso. Ele apareceu quase que simultaneamente no Oriente e no Ocidente, mas Grabar sugere que sua origem talvez tenha sido ocidental e pode ter resultado do modo como o mandylion edesseno foi exibido no Ocidente. Mesmo que isso seja correto, ainda temos que explicar por que o tipo suspenso se tornou a clássica representação da imagem "verdadeira" na arte ocidental. A causa pode ter sido a atribuição do sudário a Verônica, e o fato de que esse sudário tenha usufruído de sua maior popularidade entre o final do século XIV e o final do século XVII, quando prevaleceu a versão da paixão na lenda da Verônica, e o retrato feito de sangue podia ser visto em analogia ao corpo coberto de sangue de Cristo, suspenso na cruz. Com o tempo, as ilustrações da lenda de Abgar tornaram-se raras, mas o mandylion permaneceu como um dos grandes temas da arte bizantina, e até o final do século XIX foi representado em ícones portáteis e afrescos. Nos períodos muralistas das igrejas e monastérios as representações do mandylion e do keramion muitas vezes estão frente a frente; ou então o mandylion, como símbolo do começo, é mostrado no setor leste de um edifício, de frente para mortalha, um símbolo da morte, retratada no Oeste. Na arte medieval ocidental e oriental, o mandylion é carregado por dois anjos, com suas figuras aladas trazendo-nos à mente antigas vitórias e acentuando a origem divina do sudário; ou então santos, normalmente Pedro e Paulo, uma substituição dos embaixadores esquecidos de Abgar. Os tipos com os anjos, que prevaleciam em Bizâncio, não conseguem obter uma grande popularidade no Oeste, onde a Santa Face havia sido feito numa atribuição a Santa Verônica. Entretanto, ocasionalmente se encontram, na arte ocidental, variações modificadas do tema predominantemente oriental. Na Flagelação do século XV, de Jaime Huguet, um pequeno anjo-anima-amor aproxima-se da face de Cristo com um pedacinho de pano em suas mãos, enquanto dois outros companheiros celestes coletam o sangue do Senhor em seus cálices.

Enquanto no Oriente o mandylion era representado de uma forma iconográfica padronizada, no Ocidente o desenvolvimento ocorreu na direção oposta. A medida que a arte latina se voltou para o realismo, o retrato de Cristo adquiriu feições personalizadas. Essa tendência geral foi, adicionalmente, reforçada pela presença de Verônica. Como ela foi modelada a partir de mulheres reais, a face do homem em seu sudário também foi ajustada aos tipos ou ideais locais e feita para adaptar-se à sua figura e seus vários papéis como noiva, esposa, mãe, viúva, freira ou santa. Como consequência, as representações "verdadeiras" de Cristo chegam a se assemelhar às faces dos camponeses ou nobres cavaleiros, jovens monges ou velhos mendigos. Tudo isso resultou numa grande riqueza de iconografia, expressão e significado.