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saber

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Gurdjieff  
Ouspensky  : FRAGMENTOS
O desenvolvimento do homem opera-se em duas linhas: "saber" e "ser". Para que a evolução se faça corretamente, as duas linhas devem avançar juntas, paralelamente, sustentando-se uma à outra. Se a linha do saber ultrapassar demais a linha do ser ou a linha do ser ultrapassar demais a do saber, o desenvolvimento do homem não se poderá fazer regularmente; cedo ou tarde deverá deter-se.

"As pessoas percebem o que se deve entender por "saber". Reconhecem a possibilidade de níveis diferentes de saber; compreendem que o saber pode ser mais ou menos elevado, isto é, de qualidade mais ou menos boa. Mas não aplicam essa compreensão ao ser. Para elas, o ser designa simplesmente a "existência", que contrapõem à "não existência". Não compreendem que o ser pode situar-se em níveis muito diferentes e incluir várias categorias. Tomem, por exemplo, o ser de um mineral e o ser de uma planta. São dois seres diferentes. O ser de uma planta e o ser de um animal são também dois seres diferentes. O ser de um animal e o ser de um homem, igualmente. Dois homens, entretanto, podem diferir em seu ser mais ainda que um mineral e um animal. É exatamente o que as pessoas não percebem. Não compreendem que o saber depende do ser. E não só não compreendem, como não o querem compreender. Na civilização ocidental muito particularmente, admite-se que um homem pode possuir um vasto saber, pode ser, por exemplo, um sábio eminente, autor de grandes descobertas, um homem que faz progredir a ciência e, ao mesmo tempo, pode ser e tem o direito de ser um pobre egoísta, discutidor, mesquinho, invejoso, vaidoso, ingênuo e distraído. Parece que aqui se considera que um professor tem que esquecer sempre seu guarda-chuva. E, no entanto, este é o seu ser. Mas, no Ocidente, pensa-se que o saber de um homem não depende de seu ser. As pessoas dão o maior valor ao saber, mas não sabem dar ao ser valor igual e não têm vergonha do nível inferior de seu ser. Não compreendem sequer o que isso quer dizer. Ninguém compreende que o grau do saber de um homem é função do grau de seu ser.

"Quando o saber sobrepuja em demasia o ser, torna-se teórico, abstrato, inaplicável à vida; pode até se tornar nocivo porque, em vez de servir à vida e ajudar as pessoas na luta contra as dificuldades que as assaltam, tal saber começa a complicar tudo; a partir de então, traz novas dificuldades, novos problemas e calamidades de toda espécie que não existiam antes.

"A razão disso é que o saber que não está em harmonia com o ser jamais pode ser bastante grande ou, melhor dizendo, suficientemente qualificado para as necessidades reais do homem. Será o saber de uma coisa ligado à ignorância de outra; será o saber do detalhe ligado à ignorância do todo; o saber da forma, ignorante da essência.

"Tal preponderância do saber sobre o ser pode-se constatar na cultura atual. A ideia do valor e da importância do nível do ser foi completamente esquecida. Não se sabe mais que o nível do saber é determinado pelo nível do ser. De fato, a cada nível de ser correspondem certas possibilidades de saber bem definidas. Dentro dos limites de um "ser" dado, á qualidade do saber não pode ser mudada e a única possibilidade, dentro desses limites, é o acúmulo das informações de uma só e mesma natureza. Sem uma mudança na natureza do ser, é impossível uma mudança na natureza do saber.


Perenialistas Roberto Pla  : Evangelho de Tomé - Logion 87

Não obstante, convém recordar que quando o conhecimento se persegue “em espírito e em verdade”, se descobre que a opinião constitui só um estrato superficial, um primeiro grau de ordem teórico do verdadeiro conhecimento. Então se compreende que quem se satisfaz com a mera opinião é um homem abandonado aos recursos da natureza, por muitos dados e provas razoáveis que acumule para fortalecer a opinião. A opinião não chega jamais às coisas do Espírito de Deus, pois para que isso ocorra há de ser antes convertida em conhecimento. Isto significa que a opinião há de ser “perfurada”, “transpassada” pela realidade própria, pela vivência constituída em realização interior. Tal realização exige praticar uma senda muito estreita, tão estreita que é um mesmo a senda; mas é este o último caminho que desemboca no conhecimento, em um saber “em verdade”, e como tal chega ao espírito e aporta segurança para o juízo.