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disciplina

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Cristologia
Mestre Eckhart  : ES6 - SERMÃO VI


Perenialistas Frithjof Schuon  : Schuon Esoterismo Principio Via - O ESOTERISMO COMO PRINCÍPIO E COMO VIA

Dito isto, precisamos perceber o limite do princípio de cortesia piedosa, por descargo de consciência, embora a coisa seja evidente. O homem está bem longe da sua própria substância e, sendo acidente de fato, expõe-se à ira de Deus - cólera santa na medida em que renega sua dignidade humana. Ele merece o rigor da parte dos que podem ter como função manifestá-la, ou seja, os profetas e os mestre - mestres espirituais, em seguida toda autoridade legítima e mesmo todo homem de bem, dependendo das circunstâncias. Essa severidade é caridosa e não-vingadora quando se exerce em relação aos que dela podem se beneficiar. Então, a sua intenção não é de estigmatizar uma perversão irremediável — o que se refere a uma outra possibilidade —, mas de resgatar, por meio de um choque salutar, uma virtude enterrada sob uma camada de gelo ou de trevas e de, assim, ajudar o homem deiforme a "tornar-se o que ele é", o que em sua substância pura jamais deixou de ser.

A forma mais exterior da disciplina é a etiqueta tradicional, que regulamenta os contatos sociais, sobretudo entre as elites; e a forma mais interior da disciplina ou da retidão é a dignidade moral, que resume tudo o que torna um homem digno de confiança; por exemplo, a veracidade das promessas ou a fidelidade à palavra dada. Falar de uma "palavra de honra" já é um pleonasmo, pois toda palavra envolve a honra daquele que a pronuncia: toda palavra deveria ser garantida pela honra do seu autor, pois a dignidade moral é um "imperativo categórico" da condição humana. Todavia, deve-se tomar cuidado para não isolar de seu contexto divino essa dignidade do homem, pois tudo o que é humanamente válido e é em virtude desse contexto ou desse fundamento. A melhor honra não é a que está enraizada no nosso amor-próprio, mas em nossa sinceridade para com Deus, ou ainda, o que fundamentalmente significa a mesma coisa: a única honra irrepreensível é a que, na Terra, dá continuidade à honra do Céu.

Se nos perguntassem — em oposição à evidência das coisas — o que vem fazer a virtude nas questões de realização espiritual, portanto, de técnica rigorosa e extra-individual, responderíamos o seguinte, colocando-nos do mesmo ponto de vista estritamente prático: a realização espiritual impõe à alma uma imensa desproporção, porque introduz a presença do sagrado nas trevas da imperfeição humana. Isso fatalmente provoca reações desequilibradoras que, em princípio, comportam o risco de uma queda irremediável, reações que a beleza moral, combinada com as graças que atrai por sua própria natureza, pode generosamente prevenir ou atenuar. É precisamente essa beleza que os diletantes ambiciosos e desprovidos de imaginação creem poder desprezar, pois só veem aí sentimentalismo estranho ao que acreditam ser a técnica realizadora. Todavia, quando a alma se vê como que suspensa entre dois mundos, um já perdido e o outro ainda não atingido, apenas uma virtude inata e a graça podem salvá-la da vertigem, e somente essa virtude a imuniza de imediato contra as tentações e os desvios.