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jejum

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Roberto Pla  : Evangelho de Tomé

O jejum está claro que se entende, desde a linguagem evangélica oculta, como privação voluntária ou imposta do alimento espiritual — pão de vida e água viva — para a alma. Por isso não se pode dizer que incorrem os evangelistas em uma observação desnecessária por ser óbvia quando dizem que Jesus: "E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome" (Mt   4,2). A fome e sede - fome e a sede que ali se fala são do alimento de sabedoria sutilmente destilado pelo Espírito. Jesus necessitou este alimento para progredir em sabedoria, em estatura (espiritual) e em graça ante Deus e ante os homens, e não resulta de modo algum supérfluo advertir que uma vez tendo cruzado a sequidão da alma e comprovado a formosa "vacuidade" de todo o mortal, significada pela humildade, sentiu fome, isto é, necessidade de receber o alimento que fertilizara seu espírito. Desde aquele momento que descreve o logion do deserto já não voltou a ter Jesus necessidade de jejum, ou de estar obrigado à privação de alimento. Em uma ocasião em que segundo o relato joanino, os discípulos insistiam: Rabi come, ele lhes disse: Eu tenho para comer um alimento que vós não sabeis. Meu alimento é fazer a vontade do que me enviou e levar a cabo sua obra. (Jo 4,31-32)

Esses e não outros são no evangelho o jejum e o alimento em seu sentido oculto. Jesus o explica muito claro antes da segunda multiplicação dos pães e à vista daqueles seguidores aos que proporcionou mais tarde os sete mistérios do conhecimento imperfeito, diz aos apóstolos: "Tenho compaixão da multidão, porque já faz três dias que eles estão comigo, e não têm o que comer. Se eu os mandar em jejum para suas casas, desfalecerão no caminho; e alguns deles vieram de longe." (Mc   8,3). Cristo possui a sabedoria que comparte com o Pai, e a dispensa como conhecimento a todos os que creram nele e o seguem, em forma de pão de vida.

A particularidade que tem Cristo de repartir conhecimento é o que se tenta esclarecer através da chamada "Discussão sobre o jejum". Os discípulos de João Batista jejuam porque, embora João é, segundo a declaração de Jesus, "maior entre os nascidos de mulher", não está qualificado para repartir o pão de vida. No entanto, os discípulos de Jesus Cristo não necessitam jejuar. Enquanto não lhes é arrebatado o noivo, o Mestre perfeito que com eles convive, permanecem convidados ao banquete   messiânico. Para sua ação progressiva recebem alimento espiritual permanente, dado que a sabedoria, segundo está dito: "Veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizem: Eis aí um comilão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores. Entretanto a sabedoria é justificada pelas suas obras." (Mt 11,19) É certo que Jesus é também um nascido de mulher, embora fosse virgem, mas enquanto Cristo, vem de Acima (Jo 3,31-35).