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panis quem frangimus

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Perenialistas
Jean Canteins  : LA PASSION DE DANTE   ALIGHIERI

Quando é questão dos pães de cevada trata-se de pães inteiros; ao contrário, quando se fala das sobras, se trata sempre de pedaços. Jesus multiplicou pães, eles foram consumidos depois de terem sido partidos — no sentido sacramental: entendemos cortados ritualmente em partes — e as partes além do mais são aquelas que não puderam ser consumidas e tiveram que ser deixadas de lado pelos «hílicos - homens carnais». Esta incompatibilidade alimentar permite recolher uma quantidade de pedaços incomparavelmente superior aos cinco pães de origem e mostra que a noção de supérfluo ou de superabundância é certamente relativa e tem da ilusão coletiva que acreditou se saciar e deixou a melhor parte. Ela é recuperada sob a forma de uma doutrina desfeita e fragmentária que os Apóstolos em seguida os Padres da Igreja tiveram precisamente por tarefa de reunir e de recompôr em um só corpo de doutrina homogêna.

Fazemos de modo que ler a passagem à luz de 1Co 10,16-17: «Pois nós, embora muitos, somos um só pão, um só corpo; porque todos participamos de um mesmo pão», onde são postos em evidência:

  • a paradoxal relação entre o «partir o pão» e a união com o corpus Christi, relação que nos torna inteligível do momento que o fracionamento do inteiro (o pão) é percebido como abertura disto que é objeto de transubstanciação, dito de outro modo é percebido como uma revelação do mistério (da Eucaristia), o que a exegese abelardiana condensou na fórmula: Panis quem frangimus id est cujus mysterium aperimus. A congruência entre «fração» e «abertura» é ela mesma subentendida por aquela entre pão e Corpo crístico tal qual o enuncia a fórmula medieval: panis refertur mystice ad corpus Christi onde a palavra chave mystice define propriamente a natureza da relação entre símbolo e Simbolizado.
  • a não menos relação paradoxal entre a unidade de pão e a unidade de corpo, do fato que quando da consumação eucarística há, não conversão do comido em comedor como na consumação ordinária, mas conversão inversa do comedor em Comido. É neste contexto de mistério que o versículo 17 — condensado em latim sob a forma: unus panis unum corpus — pôde conduzir à qualificar a hóstia de esca unitatis: «alimento [gerador] de união» [do fiel ao Cristo, do comedor ao Comido].