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ipsum esse

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Perenialistas
Andre Allard: L’ILLUMINATION DU COEUR

Deus é Ato puro. O Ato de um ser é a perfeição deste ser. Ato puro, Deus é o Ser perfeito e infinito. Um ser é tanto mais perfeito quanto é mais em ato ou, em outros termos, quanto mais existe. Diremos que Deus é o Existente infinito? Diremos melhor que Deus é o Existir infinito. Mas esta maneira de dizer exige alguns esclarecimentos. Para uma coisa criada, existir significa «ter o ser». Distingue-se com efeito isto que a coisa é (sua essência lato sensu, quod est) do existir da coisa (quo est). Isto que «tem» o Ser não é o Ser e não começa a existir senão a partir do momento onde o tem, o tendo necessariamente de um outro. E isto não convém a Deus que não tem seu Ser de nenhum outro. Para uma coisa criada, existir significa ainda «surgir de..., sair de...» como o dá a entender a composição da palavra (ek-sistere). Toda coisa criada, que ek-siste, «siste» a partir de uma origem de onde deriva. Esta derivação significa uma relação de causa a efeito, o ser a exercer sendo transmitido da fonte de ser a «aquilo» que não existe em si mas existe do fato que recebe o ser e o exerce à maneira de uma lâmpada que exerce a luz tendo recebido o fogo. A noção de Deus, como Ato puro — e por conseguinte que se tenha de Deus uma noção adequada, tão negativa que seja — repugna a que se diga que Ele existe como «tendo o ser» (que teria de um outro) e como «surgindo de...», quer dizer como existindo em virtude de um Princípio que o transcenderia e do qual derivaria. Como «tendo o Ser» ou como «derivando do Ser», Deus não seria o «Eu sou - Ser-que-é-o-Ser», o Ser infinito; dependeria de um outro que seria, ele, o verdadeiro Deus. Nestes dois casos que convém a todo ente (ens, on), Deus não existe. Deus não é de maneira alguma um ente: não é nem mesmo o Ser supremo se «ente», supremo ou não supremo, significa «ser no qual isto que este ser é (sua essência) é distintamente outro que o existir que isto que este ser é exerce e que tem de um outro». Como entenderemos então que Deus existe, se ele existe? Afirmando que Deus é a Fonte inesgotável de todo o existir e que em Deus nenhuma distinção pode ser feita entre o Ser divino e isto que o Ser divino é. Em Deus, essência e existência constituem uma só e mesma Realidade infinita. Deus é, por essência, Existir mesmo como fonte de toda existência atual ou possível (gr. hyparxis = Existência pura e infinita). Deus é o Ipsum esse per suam essentiam: eis o que se quer exprimir quando se diz que Deus é Ato puro ou Existir infinito.

E como se sabe disso? Podemos sabê-lo por razão demonstrativa; são as provas da existência de Deus pelas cinco vias que enumera Tomás de Aquino: «A primeira prova parte do movimento, a segunda se refere à noção de Causa eficiente, a terceira se atém do possível e do necessário, a quarta procede por graus que se nota nas coisas, a quinta, enfim, sobe a Deus pelo governo das coisas».