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origem dos deuses

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Perenialistas
Pierre Gordon  : IMAGEM DO MUNDO NA ANTIGUIDADE

Outra questão se coloca com respeito à imagem do universo que a teocracia neolítica forneceu os dados, mas não pôde prever as deformações: de onde provêm os inumeráveis figurantes que ocupam os céus e os infernos?

Este problema é aquele das origens do politeísmo e do polidemonismo. Nossa visão fundamental, é que no ponto de partida se encontra a rito - experiência ritual. Os deuses e os demônios nasceram da liturgia. Não têm em absoluto e em parte alguma uma fonte primariamente naturista. As considerações de ordem física só vieram mais tarde, como complementos, e como princípio de desenvolvimento. Nenhum «deus» pagão teria jamais existido se, de um lado, personagens sagrados não tivessem encarnado neles a radiância em curso nas cerimônias que se desenrolavam nas cavernas ou nos circundados sagrados, e se, por outro lado, não tivessem graças aos ritos, incorporado a mana - energia transcendental às pedras, às árvores, aos rios, ao mar, etc. É o sagrado hipostasiado em um ser ou um objeto físico que, em se passando pouco a pouco a um pedaço de espaço, ao qual o pensamento litúrgico o tinha ligado, se transformou em um deus ou um demônio distinto e autônomo. O politeísmo e o polidemonismo são, em outros termos, uma vitória do Diverso espaço-temporal sobre a unidade da energia radiante, um triunfo do mecanismo sobre o dinamismo; resultam diretamente da lei de concreção que domina o cosmos fenomenal; marcam a aplicação pura e simples, no domínio religioso do grande princípio da degradação da energia, que por oposição ao cosmos do super-homem, rege o universo do homem-monstro cósmico.

Segue que o sacerdócio neolítico esteve na origem do politeísmo e do polidemonismo por sacralizar a natureza e se apresentar ele mesmo como sacrossanto. É sua santidade e seu prestígio que se situam no ponto de partida. Ele teria a princípio poupado a humanidade, sem duvida alguma, a decadência politeizante se os cismas não o tivessem minado e se tivesse podido manter a unidade da língua sagrada. É o recuo de sua influência que o impediu de neutralizar a primeira dualidade introduzida no domínio religioso pela Mãe Divina. Desde que a seiva espiritual cessou de circular com plenitude sobre a terra e que as correntes místicas se desaceleraram, o processo fetichista começou a conduzi-lo; a esclerose ganhou. O politeísmo e o polidemonismo, com as baixas adorações que lhes faziam cortejo, nada são senão o artritismo do sagrado. Crer que a religião humana começou por aí, é ir a contrário da evolução e tornar inexplicáveis os fatos. O que está na fonte, o que domina tudo, — a história da humanidade assim como aquela do cosmos — é a unidade dinâmica da energia radiante. É daí que partiu a inteligência do homem, como dela saiu toda criação. As grandes religiões da Índia jamais perderam de vista esta verdade. Se elas foram incapazes de reabsorver o politeísmo e o polidemonismo — que respondem a princípio à multiplicidade e às inumeráveis variedades dos aspectos possíveis do super-homem — elas não ignoraram e nenhum momento que o super-homem ele mesmo, depositário e fonte do sagrado, é por essência um.