É por causa   do primado dessa determinação subjetiva do ser como hypokeimenon   primeiro, como a singularidade impredicável que está-debaixo-e-no-fundo da predicação linguística que, na tradição da filosofia ocidental, o termo ousia   é traduzido em latim por substantia. Aliás, a partir do neoplatonismo, o tratado sobre Categorias   assume um lugar privilegiado no corpus   das obras aristotélicas e, na tradução latina, exerce uma influência determinante sobre a cultura medieval. Boécio, em cuja versão a Idade Média conheceu Categorias, mesmo ao se dar conta de que a tradução mais correta teria sido essentia (ousia é um deverbal formado com base no particípio do verbo einai   e, em seu tratado teológico contra Eutiques e Nestório, Boécio defende que o termo essentia corresponde a ousia, reservando substantia para o grego hypostasis  ), recorre ao termo substantia, direcionando, assim, de modo determinante, o vocabulário e a compreensão da ontologia ocidental. O ser pode aparecer   como aquilo que jaz-debaixo-e-no-fundo só do ponto de vista da predicação linguística, ou seja, com base no primado da determinação subjetiva da ousia como hypokeimenon primeiro, que está no centro   de Categorias aristotélicas. Todo o léxico da ontologia ocidental (substantia, subiectum, hypostasis, subsistentia) é resultado desse primado da substância primeira como hypokeimenon, como aquilo que jaz-no-fundo de toda predicação. [AGAMBEN  , Giorgio. O Uso dos Corpos. Homo Sacer   IV,2. São Paulo, Boitempo, 2017]

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LÉXICO: substantia; substâncias; substancialismo; substancialidade; substancial; substância. V. hypostasis, ousia