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recordar Deus

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

RECORDAÇÃO DO NOME DE DEUS
Tradução de Antonio Carneiro  

Há vinte e cinco anos, à continuação de um artigo que publicamos na revista de René Guénon « Estudos Tradicionais », sob o título « A voz dos nomes na Cabala   - Kabala » com o pseudônimo Jean Dauphin, artigo que analisava o livro do Professor Gershom Scholem  : “As Grandes correntes da mística judaica”, que havíamos pedido ao Sr. Scholem — professor na Universidade Judaica de Jerusalém — se, levando em conta a frequência da expressão: « farei lembrança (Zakhar) de teu Nome » nos Salmos  , não teria existido um rito em Israel « místico » dos tempos antigos, análogo ao « Zikr » ou « Dhikr » muçulmano, as palavras Zakhar ou Zikr tendo, aliás, as mesmas significações etimológicas.

Sr. Scholem nos respondeu que efetivamente o esoterismo hebraico tinha detido uma técnica desta natureza, técnica obediente, aliás, às regras diferentes daquelas em vigor no Sufismo para o Dhikr. Existem motivos de sobra para pensar que tais métodos eram ainda praticados entre os cabalistas da Espanha e da “Provence” medieval, e a tradução das obras de Abraham Aboulafia   e de Joseph Ibn Gikatillia — notadamente quanto às passagens consagradas a « Schadai (vide: Todo-Poderoso) » nas « Portas de Luz » — seria bastante instrutiva sob este ponto de vista.

Para retornar sobre isso ao « Zakhar », é preciso mencionar que no Evangelho, Zacarias, cujo nome « Zakhariah » significa precisamente « invocação de lah (vide: O Tetragrama) », ficou...mudo quando duvidou da palavra do anjo relativa ao nome para dar à João Batista. Ele então ficou momentaneamente privado do meio de praticar o rito o qual seu próprio nome fazia alusão, « só lhe sobrou fazer uso da palavra Chave »...

Esse « Zakhar » hebraico provem da raiz Zain, Capli e Resch. A raiz em questão dá « Zakhar » designando o gênero masculino gramatical, o macho, fazendo recordar o que Guénon escreveu a propósito do caráter viril da encantação nos « breve 1364 - Aperçus sur l’initiation ». Proporcionam também derivados, como lembrança: « Zakhor » e memorial Mazkheret de onde vem a palavra: Ziggourat. É assim que no capítulo XI do Gênese, está dito relativamente ao erguimento da Ziggourat de Babel: « eles quiseram dar um nome para atingir o céu ».

A relação entre a lembrança — ou memorial — e o Nome atravessando o céu, no sentido Terra-Céu, está apresentada bem em evidência aqui. O fracasso desta « encantação » está no fato que não se tratou do Nome divino, mas de um nome artificialmente composto pela ciência dos homens.

Tudo isto concerne, pode-se ver, o rito da « lembrança do Nome » e o episódio de Babel é tanto mais interessante à destacar que a obra empreendida de tirada à construção, isto é à arte maçônica. A verticalidade da torre, ou mais exatamente sua direção Terra-Céu, nos dá oportunidade de atrair a atenção sobre o paralelismo existente entre o « Zakhar », assim definido, lançamento da flecha e o órgão sexual masculino. Sem entrar nos detalhes que não tem lugar nesse estudo, diremos somente que esse aspecto ritual de « verticalidade » se relaciona com o signo da aliança; o reino dos Céus é então a matriz espiritual. Isto é igualmente em relação com a circuncisão com « a abertura » de artéria coronal no topo da caixa craniana.

Notar-se-á ainda que a invocação é lançada « ao alto » como se lança a flecha do arco, ato designado nas línguas latinas pelo verbo « jacere » de onde provem a expressão « oração jaculatória ». A correspondência entre a geração espiritual obtida pelar « oração jaculatória » e a geração carnal, resultado da « ejaculação » masculina, é bastante curiosa etimologicamente.

Outra observação a se fazer é concernente à encantação: ela está aparentada com a oração, uma vez que se dirige ao Eterno, mas nisso difere ritualmente. Denomina-se também « trabalho » — o que confere um sentido inatingível quanto à « glorificação do trabalho » celebrado pela Maçonaria especulativa » — ou ainda « lembrança ». Assim, no hesicasmo, a « Kyrie Eleison - oração a Jesus » é designada às vezes como a Nome de Jesus - lembrança de Jesus. Entretanto, é preciso sublinhar bem que essas « lembrança », « memorial », « mneme Theou - memória de Deus », nada tem de pensamento piedoso, de uma simples reminiscência, mas, atualiza a Presença Vivente, volta ao essencial em um Presente único o Ato ou o Verbo original. Essa « lembrança » aboliu então a condição temporal e espacial: é como foi e será eternamente e isso basta.