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nefes

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  
Steinsaltz  

Adin Steinsaltz (Adin Even Yisrael) Excertos de "A Rosa de Treze Pétalas". Maayanot, 1992.

A alma humana, dos seus níveis mais baixos até os mais altos, é uma entidade única e singular, apesar de ter muitas facetas. Em seu ser mais profundo, a alma do homem é uma parte do Divino e, a este respeito, é uma manifestação de D-us no mundo. Com certeza, o mundo como um todo pode ser visto como uma manifestação divina, mas o mundo permanece algo diferente de D-us, enquanto que a alma do homem, em suas profundezas, pode ser considerada como uma parte de D-us. De fato, somente o homem, em virtude de sua alma divina, tem o potencial e algo da capacidade real, de D-us em Si Mesmo. Este potencial se expressa como a capacidade de ir além dos limites de uma existência dada, de deslocar-se livremente, e escolher outros caminhos, possibilitando ao homem atingir as maiores alturas — ou cair nos infernos mais profundos. Em outras palavras, é o poder de querer e de criar.

Portanto, do livre-arbítrio do homem deriva seu único potencial, do fato que é uma parte da vontade divina, sem limites e sem restrição. O poder criativo do homem também é derivado do mesmo poder divino de criar coisas que nunca existiram antes, destruir coisas que já existem, e inventar novas formas. Neste sentido, também, o homem é feito à imagem de D-us.

É compreensível que o Divino não apareça no homem em toda a infinitude do seu ser; e falamos somente de um aspecto de D-us, ou de uma faísca divina, que constitui a essência da vida interior do ser humano. Por mais velada e mascarada que esteja, em seu contexto mais amplo a raça humana também pode ser considerada como manifestação de D-us no mundo. E cada pessoa é uma parte intrínseca desta divina fonte de luz, o ponto da essência. Este ponto essencial e fonte é conhecido num certo nível como a Shekhinah, e em outro nível, como Knesset Israel, o poder vitalizante divino, que dá vida ao mundo. Knesset Israel é o reservatório onde todas as almas do mundo estão contidas como uma essência única, apesar de não se revelar como tal, porque no mundo, apenas um brilho das faíscas da santidade em certas pessoas é revelado. Então, toda alma é um fragmento da luz divina. Como faísca, uma parte que contém algo do todo, a inteireza essencial da alma não pode ser alcançada se não pelo esforço, através do trabalho com o todo maior.

No entanto, apesar de todos os laços que unem a alma individual com uma fonte superior ou com todas as outras almas, cada faísca particular, cada alma individual é única e especial, em termos de sua essência, sua capacidade, e o que dela se exige. Não há duas almas que coincidam em suas ações, funções e caminhos. Nenhuma alma pode tomar o lugar de outra, e nem o maior dos maiores pode preencher a função especial, o lugar especial, de outro que talvez seja o menor dos menores. Desta noção, aliás, deriva o profundo respeito do judaísmo pela vida humana. A vida de uma pessoa é algo que não tem substituto nem troca possível; nada, nem ninguém, pode ocupar o seu lugar.

A alma como existência primordial — ou seja, antes de sua conexão com o Mundo da Ação, ou mundo físico — já é portanto uma entidade espiritual diferente, no sentido de que ela é uma combinação especial de várias Sefirot de mundos diferentes. Nenhuma alma pertence somente a uma Sefirah, apesar que em toda alma há uma tendência a manifestar mais de uma Sefirah que de outras. Geralmente, as almas são produto de combinações entre Sefirot; e pode haver centenas e milhares dessas combinações numa vasta variedade de formas, numa única alma. Então, pode-se dizer que as almas diferem de acordo com a diferença nas Sefirot que forma a combinação e na própria combinação, assim como no nível dos mundos dos quais a alma é manifestada. Tudo isso ainda está no campo de ação espiritual e abstrato.


Mario Satz  

Entre os sufis, é imprescindível que o iniciado passe por sete fases de preparação até alcançar uma personalidade completa, isto é, a plena realização. Tais fases levam nomes específicos compostos pela palavra nafs (alma ou alento) seguida de adjetivos descritivos dos degraus a serem galgados até se chegar à purificação. Assim, nafs-i-ammara é o aspecto "depravado", "dominante"; nafs-i-lawwama é o "acusador"; nafs-i-mulhama é o "inspirado"; nafs-i-mutmainm é o "sereno"; nafs-i-radiya é o "realizado"; nafs-i-mardiyyaé o que "realiza"; e, nafs-i-safiyya wa kamila, representa o "perfeito". Desta forma buscam os sufis a ascensão da nafs de maqam em maqam ("lugares", "aposentos") até a compreensão do ruh ("espírito").


Michel Chodkiewicz  

La palabra nafs (hebreo nefesh) tiene muchos significados. Empleada sin adjetivo designa, según la definición de Jurjani ("Ta’rifat", El Cairo 1357/1938, s.v.) "La substancia vaporosa, sutil, que es el asiento de la fuerza vital, de la percepción sensorial y de la motricidad voluntaria", y se traduce generalmente por "alma". Se comprobará más adelante, sobre la base de ejemplos coránicos, que combinada con diversos epítetos puede también aplicarse, entre otras acepciones, a la "ciencia de la Vía" (’ilm al-suluk), a los estadios sucesivos del itinerario iniciático. [Notas ao Tratado da Unidade  ]


Roberto Pla  

Mas o que é este plasma (“nascido à imagem de Jesus o Vivente” do Apocalipse de Pedro)? Como se pode interpretá-lo ? A plasis do Gênesis? Segundo se diz no Paraíso insuflou Deus esse sopro que em hebreu se chama “nefes” e que costuma explicar-se como um sopro de vida individual, animal, vinculado ao corpo, quer dizer, como o “sujeito” dos impulsos físicos, do desejo, das paixões, da sensação, e que só exerce sua vida, não isenta de irracionalidade, no corpo, e morre com ele. Este sopro, a nefes é, em certo modo, uma imagem deformada e interior da consciência media do homem não degenerado, pois esta consciência se inscreve em sua vida animal.

Quando no Gênesis diz: “Só deixareis de comer a carne com sua alma, quer dizer, com seu sangue, se identifica nefes com o sangue ao qual está aderida. A nefes, levada miticamente pelo sangue, é a alma enquanto paixão, desejo, etc ... (Evangelho de Tomé - Logion 25; Evangelho de Tomé - Logion 87)


Excertos de Roberto Pla, Evangelho de Tomé - Logion 25

O significado básico de qualquer das três expressões da vida psíquica, segundo a concepção israelita, significa “algo que está em movimento”, seja o sopro de vida (nefes), o vento (ruah), ou a respiração (nesamah). nefes - Nefes atua como um impulso de vida animal, tal como corresponde aos suportes hílicos, terrenos e psico-somáticos do sopro de vida, mas a força de consciência dual, reflexiva, que o homem recebe como vento cósmico (ruah) está sujeita a experimentar alternações superiores que a vinculam a nesamah, ou bem a sofrer uma deterioração que a conectem com as coisas psíquicas inferiores próprias de nefes, até o ponto de se fazer metaforicamente carne (sarx), como naquela perícope do Gênesis (6,3): “Não permanecrá para sempre minha ruah no homem, porque não é mais que carne”. Outras vezes o ruah recibido pelo homem leva já o desígnio de seu efeito destrutor: “infundiu neles ruah de vertigem” (Is 19,14); “verteu YHWH sobre vós ruah de sono” (Is 29,10).

Em uma passagem muito importante estuda o autor do Zohar   um texto de Isaías:

“Com minha alma (nefes), te anseio na noite (= obscuridade) e com meu espírito (ruah) em meio de mim, te busco pela manhã (dia = luz) (Is 26,9). nefes - Nefes e ruah — diz — não são graus separados (da alma), senão um grau único com dois aspectos. Há ainda um terceiro aspecto que há de dominar a esses dois e que é superior: se chama nesamah. Quando nesamah entra nos outros dois, eles se unem (Unificação) e então nesamah predomina nesse homem. Um homem assim é chamado santo, perfeito, totalmente entregue a Deus”.

O autor do Zohar termina sua explicação sobre os três graus de expressão psíquica do homem com uma imagem muito bela e esclarecedora:

“nefes - Nefes — diz — é a incitação mais baixa a qual o corpo se ajusta; é como a luz obscura na parte inferior da chama da vela, a que se apega à mecha e só existe por ela. Quando está plenamente acesa, esta luz se torna um trono para a luz branca (ruah de cima dela. Quando ambas estão plenamente acesas, a luz branca se converte por sua vez em um trono para a luz (nesamah) que não pode ser totalmente discernida, pois é um algo desconhecido (a luz do contorno, pois é um algo desconhecido (a luz do contorno, difundida no espaço), que destaca sobre essa luz branca. Então se forma uma luz completa”.

Este relato é bastante significativo, mas sua explicação pode ser tentada de outro modo para esgotar o esclarecimento deste assunto da versatilidade da alma. O homem psíquico herda a capacidade de perceber um vento (ruah) adequado às leis do racional ou livre, com opção de inclinar-se ao hílico-material, ou a harmonia com o pulso universal. Quando o homem vive uma vida hílica, quer dizer, com a atenção entregue ao mundo instintivo, fechadamente individualizado, egoísta, carregado de impurezas, os conteúdos psíquicos se concentram em nefes; o homem inteiro parece então não ser outra coisa que nefes, o sopro denso de vida animal que transita, quer dizer, que entra e sai por seu próprio impulso vital através dessa espécie de bambu oco de duplo tecido que é a tênue corporeidade de pó do solo de Éden plasmado por YHWH - YHWH-Deus e o fundo corporal de pele, carne e ossos. Se, pelo contrário, o vento psíquico (ruah), tende a integrar-se no Ser absoluto, o qual significa o abandono prévio das incitações do eu instintivo em favor da purificação das formas de vida, então, como se disse, os conteúdos psíquicos acabam por ser enxertados à oliveira para fé e incorrupção e participam da gordura da oliva. Isto se consegue por meio de um “respiração” harmônica com o universo, quer dizer, por um ritmo de existir compassado (o qual é nesamah), que é ajudado sempre pelo alento ou respiração de Deus (nesamah, também), o qual é derramado sem trégua sobre a “respiração” própria. Por outro lado, todos aqueles conteúdos psíquicos demasiado densos para ascender a nesamah, se dissolvem em nefes e na hora da morte, ficam convertidos em resíduos inúteis e se queimam e diluem “como palha que o vento dispersa” (Sl 1,4).