Página inicial > Termos e noções > anamnesis

anamnesis

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

gr. ἀνάμνησις, anámnêsis: memória, recordação, relembrança, re-visão; anámnesis (he): reminiscência, anamnese. Num famoso trecho do Mênon (82a-86c), Sócrates  , interrogando habilmente um jovem escravo ignorante, consegue fazê-lo chegar ao princípio pitagórico da duplicação do quadrado. Conclui daí que "a verdade existe desde sempre em nossa alma" (86b). Finalmente, "todo saber é reminiscência" (81d); no Fédon   (72e-78a), isso possibilita um argumento a favor da imortalidade da alma. Teoria adotada por Plotino   (IV, III,25: V, IX, 5). [Gobry  ]



Leloup  

Pela prática do que chamo a «anamnese essencial» quer dizer memorizar o Ser no coração de minha vida cotidiana, memorizar o incondicionado em todos os condicionamentos nos quais vivo. Memorizar o incriado na criatura, no ser composto que sou: memorizar, tornar presente este Ser que tocou neste momento particular, transitório, Abrir-se em nossos cercados (o que Heidegger   poeticamente denominou a «clareira do ser»). É a prática concreta da oração hesicasta transmitida pelo Cristo à Samaritana quando a chama à oração «en pneumati kai aletheia» — a oração no sopro (pneuma) e a atenção (aletheia).

O que memoriza o Ser em mim, neste momento, é o sopro: me sopro, neste momento, está em contato com o ser, e se não estivesse, não respiraria. Trata-se de entrar nesta consciência, neste sopro consciente. Orar, é respirar.

À respiração, junta-se a vigilância — aletheia, «verdade», que significa literalmente «sair da lethe, sair do sono, estar em estado de atenção». Traduzido geralmente por «oração em espírito e em verdade», deve-se, para respeitar verdadeiramente o texto grego, traduzir «en pneumati kai aletheia» por : «oração de atenção ao sopro, oração do sopro consciente». Estar presente à consciência do sopro, ao coração de minha respiração, estar presente ao pneuma. Deus está conosco mas nós, não estamos com Ele; trata-se de entrar neste movimento que me inspira e que eu expiro, entrar neste movimento do sopro. É a primeira prática.


Sorabji  

Anamimneskesthai is better translated as being reminded and reminding oneself, rather than by the conventional rendering ‘recollect’, because this accounts not only for the middle and passive form of the verb, but also for Plato and Aristotle   agreeing (Plato Phaedo 73C-75C; Aristotle On Memory ch. 2) that anamnesis involves an association of ideas. It is distinct from memory, although it is a use of memory. Aristotle says that memory, even of objects of thought, is a function of the perceptual faculty, involving images, On Memory 1, 450a12-25. But anamnesis, viewed as a deliberate search by association of ideas is too like reasoning to belong to non-rational animals, On Memory 2, 453a4-14.

Anamnesis owes its chief importance to Plato’s claim that even when we first, as babies, see or hear, we are reminded of universals like equality, which have not been given us in experience, and must have been known to our souls before we were born, Phaedo 75B-C. Plato already adumbrates the theory in the Meno. This was taken by the commentators as an account of how we have universal concepts. Types of anamnesis, and objections to the theory, are discussed by Damascius  . Augustine  , though at first strongly attracted by the theory, denies it in his Retractations.

Recollection is acknowledged by Plotinus (Ennead IV). But it is needed only by the lower soul, not by the undescended soul which is uninterruptedly thinking the Forms. For Proclus  ’ rejection of undescended soul and assertion of a certain recollection theory. Iamblichus   and Philoponus   ascribe a version of recollection theory to Aristotle. [SorabjiPC1]


E, tomando o pão, e havendo dado graças, partiu-o, e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória (anamnesis) de mim. (Lc   22:19)

E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória (anamnesis) de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento   no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória (anamnesis) de mim. (1Co 11:24-25)

Nesses sacrifícios, porém, cada ano se faz comemoração (anamnesis) dos pecados, (Heb 10:3)


Cassiano  : CONFERÊNCIAS XIV-12
René Guénon: ESTADOS PÓSTUMOS Es pues un grave error hablar aquí [processo de morte] de "recuerdo", como lo ha hecho Colebrooke en la exposición que ya hemos mencionado; la memoria, condicionada por el tiempo en el sentido más estricto de esta palabra, es una facultad relativa únicamente a la existencia corporal, y que no se extiende más allá de los límites de esta modalidad especial y restringida de la individualidad humana; así pues, forma parte de esos elementos psíquicos a los que hemos hecho alusión más atrás, y cuya disolución es una consecuencia directa de la muerte corporal.

CORAÇÃO E CÉREBRO
A memória também é designada por palavras similares (grego mnêsis, mnêmosyné); ela, de fato, nada mais é que uma faculdade "reflexiva", e a Lua, num certo aspecto do seu simbolismo, é considerada representativa da "memória cósmica".

Frithjof Schuon  : O ESOTERISMO COMO PRINCÍPIO E COMO VIA

Shankarâchârya, tão mal interpretado por alguns, não pensa de outra forma quando especifica, nos seus comentários aos Vedanta-Sutras, que "o mundo que pertence ao estado intermediário (o sonho) não é real no mesmo sentido em que o mundo feito de éter e de outros elementos é real". Ele declara, também, que "as visões de um sonho são atos de lembrança, enquanto as visões do estado de vigília são atos de consciência imediata (de percepção). E a distinção entre a lembrança e a consciência imediata é reconhecida por todo mundo como sendo baseada na ausência ou presença do objeto". E, finalmente: "Essa flutuação (do sonho), que se fundamenta unicamente nas impressões mentais (vâsanâ), não é real." Tudo isto, entenda-se bem, concerne aos sonhos comuns, não às visões, cuja realidade objetiva é evidente, dada a sua causa sobrenatural.

Titus Burckhardt  : INTRODUÇÃO ÀS DOUTRINAS ESOTÉRICAS DO ISLÃ

El significado de «recuerdo» implícito en la palabra dhikr, califica indirectamente el estado ordinario de olvido e inconsciencia (ghaflah) del hombre: el hombre ha olvidado su propio ser pretemporal en Dios y este olvido fundamental trae consigo otros olvidos y otras inconsciencias. Según una máxima del Profeta: «Este mundo está maldito y todo lo que contiene está maldito, salvo la invocación (o el recuerdo) de Dios (dhikr-Ullâh)». Dice el Corán: «En verdad la oración impide las transgresiones pasionales y los pecados graves  , pero la invocación de Dios (dhikr-Ullâh) es más grande» (XXIX, 45); lo que, según unos, significa que la mención — o el recuerdo — de Dios constituye la quintaesencia de la oración; mientras que, según otros, este pasaje indica la excelencia de la invocación en relación con la oración.


Tantra: MEMÓRIA