Página inicial > Imaginal > A Radiação Escura

A Radiação Escura

domingo 20 de março de 2022

      

II DEUS  
I A Radiação   Escura
a. A Dialética da Transcendência

  • ”Um raio   de escuridão” (skotous aktis): esta imagem resume a concepção de Deus do Dionisio Areopagita   - Pseudo-Dionísio e também a de Maximo o Confessor. É uma concepção que conclui uma tradição ilimitada de pensadores helenísticos, judeus   e cristãos, todos celebrando a transcendência de Deus. O topo de todo ser, na visão de Platão   e Aristóteles  , estava entronado em luz radiante mas inacessível. Um “névoa oriental” começou a se juntar   ao redor deste pico olimpiano e fazendo parecer mais e mais íngreme e distante, até desaparecer em completa incompreensibilidade. O Deus do apocalipse   judaico, o Deus de Philon  , exaltado acima dos “poderes”divinos, acima dos princípios de inteligibilidade (logoi  ) e dos anjos  , acima da dominação e providência e bondade ela mesma; o abismo   irreconhecível dos gnósticos; o “Pai   superessencial” de Origenes  ; o Bem-além-de-todo-ser de Plotino  ; o Deus de Gregório de Nissa eternamente além do alcance do amor e além da apreensão da visão; tudo isto representa uma caminhada, passos em direção à “teologia mística” do Dionisio Areopagita - Areopagita, que chancelou a ideia de um ser transcendente como o nível final e mais adequado de expressão.
  • Mas a ideia de transcendência só veio a ser efetivamente apreendida devido ao reconhecimento da noção paralela da completa imanência de Deus, condicionando e pavimentando o caminho   para sua transcendência. Os estoicos  , e antes deles Heráclito   e Parmênides   estabeleceram as bases para esta teologia da imanência. Embora estes pré-socráticos  , opostos   em vários sentidos, se conciliassem de alguma maneira no tocante à transcendência e à imanência — para Heráclito o mundo engolia Deus, para Parmênides Deus dissolvia o mundo nele mesmo. Quanto aos estoicos o Logos   que habita no mundo não poderia manter-se como um absoluto, transcendente, princípio divino, Philon e mesmo os Apólogos Cristão desenvolveram o sentido de dialética entre transcendência e imanência.